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Curso aborda história do Maciço de Baturité

por Felipe Gurgel - Repórter
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Alunos participantes do projeto Jovem Explorador, em Pacoti (de cima para baixo), em passeio sobre a memória e edificações da cidade, em trilha ecológica e em visita ao Ecomuseu do município
A noção de que existem "Brasis" espalhados pelo interior do Brasil às vezes não passa disso, de uma mera noção, uma ideia. Fontes históricas oficiais sobre as regiões interioranas do País não encontram paralelo com a historiografia das capitais e, para equilibrar essa balança, há muito material e informação ainda a serem investigados e compartilhados.
Há quatro anos, em Pacoti, na região serrana do Maciço de Baturité (CE), um grupo de estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Menezes Pimentel, sob coordenação do historiador e professor Levi Jucá, iniciou uma investigação de memória sobre a cidade e seu entorno. O passo inicial foi batizado Jovem Explorador, inspirado na Comissão Científica de Exploração do século XIX, que à época esteve de passagem pelo Ceará pesquisando a flora, a fauna e a cultura do Maciço.
Agora, após a abertura do Ecomuseu de Pacoti (localizado no campus da Universidade Estadual do Ceará/UECE no município), o grupo dá um passo além da exposição dos primeiros resultados da pesquisa. De quinta (1º) a sábado (3), será realizado o curso gratuito "Organização de Acervos Documentais e Recuperação da Informação", também no campus da UECE em Pacoti, a fim de organizar o material doado pela comunidade local, para contribuir com a formação de um acervo de memória da região.
Segundo Levi Jucá, em entrevista por telefone, a necessidade de arquivar as informações recolhidas foi uma demanda da própria comunidade. "O objetivo no início, pesquisando história e patrimônio da cidade, era criar o Ecomuseu. Mas à medida que o trabalho aconteceu, a gente recebeu doações de famílias. Fotografias de época, recortes de jornais, periódicos que circulavam na região antigamente. Enfim, uma gama diversificada de documentos e objetos", situa o historiador.
Olhar para si
Levi destaca que a carência de fontes históricas sobre o interior do Brasil também motivou a abertura do curso. "Queríamos catalogar e digitalizar esse acervo, para colocá-lo à disposição do público".
Ainda em sala de aula, antes de cair no campo através do Jovem Explorador, o professor e seus alunos perceberam que o currículo escolar não ia além da história do Brasil, de outros países e continentes. O grupo decidiu, então, começar uma pesquisa histórica local, abordando os moradores com questões objetivas sobre o passado e a natureza da região ("qual a origem e significado do nome Pacoti?"; "quando o município foi criado?").
"Cerca de 80% das respostas (do questionário) ficavam em branco. Os moradores não têm essa identidade local, e a cidade não tinha um equipamento de memória (até a criação do Ecomuseu). Então depois que a gente atuou nessa questão museológica, agora é criar um arquivo histórico. Você tem o Arquivo Público do Estado em Fortaleza. Mas arquivos regionais são praticamente inexistentes", detalha Levi Jucá.
Turismo cultural
Indagado se a pesquisa e a atuação do grupo se afinam às expectativas dos turistas que visitam o Maciço de Baturité procurando um clima frio no Ceará, além da exploração recente da rota do café na região (mediada por proprietários de sítios antigos e do Sebrae), o historiador pontua que a exposição da memória da região é complementar a tudo isso.
"Fizemos mapeamentos de trilhas ecológicas e de memória; e foram experiências maravilhosas. Os turistas entenderam que a serra era mais que o evento, a boa comida, o verde, o frio. E a gente entende que a serra é um capítulo à parte da história do Ceará: diferente do sertão do algodão (e de outras culturas), o local foi terra de cultivo do café", destaca Levi.
Paralelo à rota do café, o grupo prepara um roteiro de turismo comunitário, percorrendo o patrimônio edificado de Pacoti, enquanto apresenta a história do café e de vocações religiosas da região.
Levi Jucá e os estudantes tiveram o apoio do "mateiro" José Carneiro. Ele, pai de uma das alunas do projeto, já orientava cientistas da UECE, que pesquisam o Maciço. "Ele não precisa de GPS, de nada (para se situar na mata). Através do projeto do Ecomuseu, o saber dele foi mais reconhecido, e inclusive ele foi selecionado pelo último edital dos Mestres da Cultura (da Secretaria da Cultura do Ceará)", aponta o historiador.
Ecomuseu
Criado para apresentar o material pesquisado, o Ecomuseu ainda não tem um funcionamento pleno. Com dificuldades financeiras para bancar pessoal, o local é um salão de 11 x 5 metros, feito de plástico reciclável. O engenheiro Joaquim Caracas, de Guaramiranga (a 15km de Pacoti), projetou o espaço em parceria com o grupo coordenado por Levi Jucá. "Foi uma construção muito rápida. Ele já tinha criado o hotel Vale das Nuvens (em Guaramiranga), da mesma forma", detalha Levi.
Desde novembro passado, o local sedia a exposição fotográfica, em cartaz por tempo indeterminado, "Pacoty ontem, Pacoti hoje'. Levi Jucá pontua que o conceito de ecomuseu se diferencia do museu tradicional. "Não se prende a um prédio e a uma coleção de objetos. Considera todo um território, e não se resume a um acervo de objetos, mas ao próprio patrimônio desse território. É a chamada 'museologia social'", explica.

Mais informações
Curso "Organização de Acervos Documentais e Recuperação da Informação" (20h/aula), dentro do projeto "Arquivos da Memória: Maciço de Baturité". De 1º a 3/03, das 8 às 16h, no Campus da UECE em Pacoti (R. Divino Salvador, 225, Centro). Inscrições gratuitas. Contato: (85) 98725.4437 facebook.com/ecomuseudepacoti

Diário do Nordeste

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