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Poesia fora da caixinha

Luiza Romão mostra como a oralidade tem aproximado a poesia de diferentes realidades sociais

Sérgio Silva/Divulgação

A poeta, atriz e diretora Luiza Romão, de São Paulo, realiza oficina e apresenta intervenção no Sesc Rio Preto, tendo como base a poesia oral
O trabalho da poeta, atriz e diretora de teatro Luiza Romão, de São Paulo, tira a poesia do 'panteão acadêmico' e a coloca em contato direto com a realidade, demonstrando como a oralidade tem transformado e popularizado um gênero literário historicamente elitista.
A artista é uma das protagonistas de um movimento cultural que só cresce no Brasil, o poetry slam ('batida da poesia', em tradução literal do inglês), como é chamada a prática em torno da palavra que envolve poesia e performance em apresentações limitadas a três minutos, geralmente avaliadas pelo público ou por um júri, que pontua cada uma delas com notas de 0 a 10. Em um slam, cuja dinâmica é semelhante a de um sarau, não há padronização de estilos ou temas, prevalecendo a diversidade em todos os sentidos.
"Essa poesia mais formal, essa poesia escrita, ainda hoje é inacessível para a maioria das pessoas. Nosso País ainda tem um número grande de analfabetos. No entanto, o slam conseguiu popularizar esse gênero literário por meio da palavra oral. A palavra tem o poder de criar narrativas imaginárias, e muitas pessoas estão descobrindo esse poder para recontar sua própria história, verbalizar suas experiências de forma poética", reflete Luiza, que aterrissa em Rio Preto nesta sexta-feira, 16, para ministrar oficina e realizar performance na unidade do Sesc.
Até domingo, 18, a artista vai comandar uma oficina de criação poética voltada aos mais variados perfis de pessoas. "Não é algo hierárquico. A oficina é, na verdade, um diálogo entre artistas, seja uma pessoa que já produz poesias ou alguém que tem vontade de colocar para fora suas inquietações. Por meio de textos que influenciaram meu trabalho artístico, quero mostrar aos participantes maneiras para estimular sua criação literária", sinaliza.
Para Luiza, essa poesia oral, também conhecida pela expressão 'spoken world', tem um potencial de emancipação muito grande, tornando-se a voz de inúmeras minorais e públicos marginalizados. "Acredito que o que está acontecendo com o slam hoje é o mesmo que aconteceu com a cultura hip hop no Brasil nos anos 1980 e 90. É um movimento que cresce muito. Não é a toa que surgiu essa onda conservadorista", destaca.
"Quando comecei, em 2013, não havia mais de cinco eventos desse tipo em São Paulo. Hoje, são quase 40 iniciativas em diferentes pontos do Brasil. No último Campeonato Brasileiro de Poesia Falada (o Slam BR, realizado pelo Núcleo Bartolomeu de Variedades, do qual a artista faz parte), tivemos inscrições de todas as regiões do País", destaca Luiza.
Para ela, a internet tem sido uma importante ferramente na popularização do slam e da poesia falada. Além disso, ela destaca que esse movimento envolve uma estética muito autônoma, que se adapta a realidade de cada grupo que o realiza. "Um slam pode ser feito numa praça ou numa quadra de esportes. Ele demanda poucos recursos. Se não tem microfone, vai na garganta mesmo. Um slam não pressupõe um aparato técnico, e é por isso que está cada vez mais forte."
Sangria
No domingo, 18, Luiza realizará, na área de convivência do Sesc, uma intervenção artística que tem como base seu mais recente livro, Sangria, obra em que ela revisita a história brasileira sob a ótica de um útero e evidencia a força feminista que aflora de seus versos. Dos ciclos econômicos à constituição formal de família, a história é conduzida pelo ponto de vista feminino.
Intitulada Uma Mulher Não é Um Território, a apresentação convida o público a intervir numa fotografia da obra Sangria, costurando, colando e subvertendo-a. Durante a ação, a artista conversa sobre o corpo feminino, suas historicidades e opressões.
O diálogo com diferentes linguagens artística é, para a artista, algo natural da cena contemporânea. "A gente traz muito essa coisa da arte moderna de que o artista tem que ser especialista em algo, só fazer um tipo de trabalho. Sangria é uma obra que pediu isso, pediu a escrita, a performance, a oralidade, a imagem", comenta.
Serviço
  • O Risco da Caneta - Oficina de Criação Poética, com Luiza Romão. Hoje, das 19h às 22h. Amanhã e domingo, das 14h às 18h. Intervenção Uma Mulher Não é Um Território, com Luiza Romão. Domingo, às 18h. Sesc Rio Preto (Av. Francisco das Chagas Oliveira, 1333). Gratuito. Informações: (17) 3216-9300
Fonte: https://www.diariodaregiao.com.br

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