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Evento em São Paulo discute as questões do homem contemporâneo

Estilista Mário Queiroz promove evento Homem Brasileiro para debater o conceito de masculinidade em áreas que vão da moda aos costumes familiares (Divulgação)
Estilista Mário Queiroz promove evento Homem Brasileiro para debater o conceito de masculinidade em áreas que vão da moda aos costumes familiares (Divulgação)
Os adjetivos e conjunto de comportamento que determinavam o que fazia de alguém um homem, aos poucos, começam a ser desafiados. Homem chora, sim. Tem sentimentos. Cuida dos filhos e cozinha. Na medida em que a revolução feminista parte para mais uma etapa, o conceito de masculinidade também se modifica. Para discutir o tema, foi realizado até um evento de três dias em São Paulo. O Homem Brasileiro trouxe debates da pesquisa ao comportamento de consumo.
Enquanto as mulheres lutam pelo mercado de trabalho, segurança em casa e respeito ao seus corpos, a luta do homem contemporâneo é pela capacidade de se expressar e aceitar os próprios sentimentos. Ainda que os desafios impostos pelo machismo sejam enormes para elas, eles também têm comportamento moldado por ele. De acordo com levantamento do Instituto Locomotiva, 90% dos homens brasileiros têm pensamento machista e 67% concordam que homem de verdade não chora. No entanto, o rumo para aceitação de novos moldes começa a se tornar mais claro. Em cinco anos, o respeito à diversidade cresceu 25 pontos percentuais. "Para dialogar é precisa acreditar que a diversidade mais une que separa", afirma o pesquisador e presidente do Locomotiva, Renato Meirelles.

Segundo ele, um dos reflexos do machismo é colocar o homem sempre como provedor. Mas em um Brasil em que a participação das mulheres no mercado de trabalho cresce e a dos homens cai, a identidade dos homens entra em crise. O trabalho, explica o especialista, é citado como o principal definidor de identidade.
Para o também pesquisador e cofundador da Promundo, Gary Barker, os homens devem abraçar o conceito de cuidado, tanto com os demais quanto consigo mesmos. Em média, eles morrem cinco anos mais cedo que elas, em decorrência de suicídio, doenças crônicas que resultam de falta de cuidados (abuso de bebida, alimentação ruim, falta de exercícios).
"O homem está preocupado com essa economia instável e qual identidade isso dá. Se o trabalho não é garantido para mim, quem eu sou? Flexibilizar a ideia de que 'trabalho, logo existo; para dizer 'cuido e trabalho, logo existo'", aponta. Para Barker, houve avanços na aceitação da diversidade e reconhecimento da mulher como igual fora de casa. Em passos bastante lentos, o entendimento de igualdade no lar começa a aparecer. O maior desafio ainda é romper a ideia de "fortão" e ser capaz de pedir ajuda. A questão é de saúde, bem-estar e busca pela felicidade fora de padrões que já se tornaram antiquados.
O professor e publicitário Fábio Mariano Borges explica que o conceito de macho foi formado ainda no início do século XX. Antes disso, ele demonstra que homens tinham um relacionamento mais permissivo uns com os outros. Por exemplo, fotos de homens demonstrando carinho e cuidado um ao outro eram enviadas como cartões postais entre amigos próximos. Andar de mãos dadas era um gesto de amizade, algo que ainda hoje é visto com desconfiança pelos mais tradicionais.
"O macho nordestino é o senhor do falo. Assim como no outro extremo do País, o macho gaúcho. Ser homem é honrar o que tem entre as pernas. Eles cometem feminicídio em nome de uma suposta honra. Existe uma tensão em ser masculino porque criamos uma persona bélica e selvagem. Assim fundamos uma identidade brasileira associada a uma figura patriarcal e dominadora", conta.
Entre os elementos transformadores, Borges cita que morar sozinho tem efeitos interessantes. Um homem que nunca precisou cuidar da própria roupa, arrumar a casa, por serem tarefas antes cuidadas pela mãe, passa a ser responsável por uma casa e cuidar de tudo que há nela. Comprar produtos de limpeza, esfregar o chão.
Ele também aponta que tem crescido o número de homens que recebem os filhos em casa e querem fazer parte da vida deles mesmo quando separados. A presença das crianças, destaca, é importante para o desenvolver do lado emocional masculino. Por fim, ele conclui: "o masculino é termos a liberdade de nos expressar e sentir conforto nisso".
NÚMEROS
38%
das mulheres entrevistadas pelo Instituto Locomotiva dizem que vida piorou depois de ter filhos. Somente 9% dos homens concordaram com a afirmativa.
78%
dos homens respondentes chamou amigos de gay ou “viado” como forma de rebaixamento no último ano
34%
dos homens ainda não admitem ter um filho gay. A pesquisa também mostra que embora reconheçam que haja machismo, a maioria dos homens não se considera pessoalmente machista.
O Povo

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