Há
mais de vinte anos escrevi um texto com essa temática, que ainda hoje nos
parece bastante atual, haja vista que pouca coisa mudou no cenário nordestino.
Senão
vejamos, o Brasil é um país de dimensões continentais, dividido em cinco regiões
bem distintas pelos seus traços físicos, humanos, econômicos e sociais, é
natural que se observe um certo desequilíbrio entre as mesmas.
Ao
longo do tempo esse desequilíbrio regional tem crescido de forma abismal,
principalmente entre o Nordeste e o Sul-Sudeste. Com o primeiro ficando cada
vez mais pobre e os últimos cada vez mais ricos e opulentos, pela ação
discriminadora do Poder Central.
A
situação do Nordeste chega a ser desesperadora. O analfabetismo, a fome, o
desemprego, a violência, a mortalidade infantil, a corrupção, os fenômenos
climáticos e a omissão dos Governos Estaduais e Federal são verdadeiros
carrascos dessa região.
Como
reverter esse quadro que nos parece crônico? É o que denominamos àquela época
de: A Questão Nordestina.
Em
primeiro lugar, o Nordeste, dada a sua dimensão territorial (18% do território
brasileiro), e o contingente populacional que abriga (Mais de 28% da população
brasileira), o problema do Nordeste é um problema do Brasil.
Não
se pode conceber o País pretender entrar no clube fechado do primeiro mundo,
tendo mais de um quarto da sua população vivendo abaixo da linha da pobreza,
num verdadeiro submundo.
Ou
o Brasil acorda para resolver o problema do Nordeste ou o Sul e o Sudeste
estagnarão. É a mesma situação da mansão construída no meio da favela, ou seja,
cercada de miséria por todos os lados.
Em
segundo lugar, o problema do Nordeste é um problema dos próprios nordestinos,
que precisam fazer o Nordeste ser reconhecido. Não como uma região de pedintes,
mas exigindo o que lhe cabe por justiça na distribuição do bolo da renda
nacional.
Para
se combater o analfabetismo é preciso que se faça uma reforma séria no ensino
público, que vá desde o aumento e o reaparelhamento das escolas à capacitação
dos docentes e uma justa remuneração. De nada adianta melhorar a escola se o
estudante não se profissionalizar e não tiver o que comer.
Para
se combater a mortalidade infantil e adulta, é preciso que se melhorem as
condições de habitação e higiene. É preciso rede de água e esgoto, energia e
acesso fácil aos serviços de saúde.
Para
se combater a violência urbana e rural é necessário que o homem tenha emprego e
terra para cultivar, se faz necessário uma urgente e competente reforma
agrária. Mas, não basta dar um pedaço de terra, é preciso crédito e assistência
técnica.
Para
se combater a corrupção e a omissão do Poder Central é preciso que se repense a
nossa representação política. Aqueles
que deveriam ser nossos legítimos representantes, mais representam interesses
de grupos econômicos que visam à manutenção de privilégios que o bem estar da
população.
Em
resumo: Não são programas de transferência de renda, tipo bolsa família ou fome
zero que transformarão o Nordeste, é certo que amenizam, mas é preciso um
vigoroso projeto de distribuição de renda, que tenha como foco a educação e a
profissionalização da sua gente, programas de saneamento básico (coleta de
lixo, esgoto e água tratada), indústria, agricultura irrigada e energia a
preços acessíveis.
Tudo
que se disse até aqui não se constitui nenhuma novidade. Muito se tem dito que
a questão do Nordeste é política, mas como resolvê-la?
Nos
últimos trinta anos tivemos nada menos que três Presidentes da República oriundos
da Região Nordeste (Sarney, Collor e Lula), que governaram o País por cerca de 15
(quinze) anos e a situação em pouco ou quase nada se modificou.
A
questão nova que se coloca é o papel que a sociedade precisa desempenhar na
solução desse problema!
O
povo nordestino é, em muito, semelhante ao povo Hebreu da antiguidade. Eles
tiveram um Moisés que os tirou do cativeiro do Egito, com a promessa da Canaã,
a terra prometida pelo Deus de Abraão e onde manava leite e mel.
Não
se pode imaginar, no momento presente, uma individualidade que seja capaz de
mobilizar as forças vivas da nossa gente. O novo Moisés que precisa surgir deve
ser coletivo, e disseminado em todas as camadas sociais, urbanas e rurais, que
seja capaz de agir como catalizador dos anseios da população.
Os
Partidos Políticos, as Forças Armadas, os Sindicatos, as Associações de
moradores, urbanos e rurais, as Universidades, as Igrejas, a maçonaria e os
clubes de serviços, bem que poderiam desempenhar esse papel.
Os
Partidos Políticos e as Forças Armadas já se mostraram incompetentes nesse
mister. Os Sindicatos e Associações, suas lutas são, por natureza,
corporativistas. As Igrejas não devem se desviar do seu importante papel de dar
conforto espiritual ao homem e as Universidades isoladamente nada podem fazer.
A
Maçonaria, que no passado já teve uma
participação política admirável, hoje
vive amodorrada. O seu lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que foi capaz
de inspirar a Revolução Francesa, a Independência do Brasil, a Abolição da
Escravatura e a Proclamação da República, hoje parece esquecido. Os Clubes de Serviço, Rotary’s e Lyon’s, tal
como a Maçonaria, vivem envoltos apenas com a
benemerência.
É
preciso que essas instituições e a população, individual e coletivamente, reflitam
na necessidade urgente e imperiosa de desenvolverem uma atuação política
efetiva, pois de politicagem já estamos
fartos, que pressionem seus líderes a despertarem e resolverem agir como
verdadeiros instrumentos catalizadores desse justo anseio popular, no sentido
de promoverem a justiça social e a redenção da Região Nordestina.
Aí sim, o Nordeste
poderá ser reconhecido! E “essa terra
tão seca, mas boa”, poderá se transformar numa verdadeira Canaã para os nossos
filhos e netos.
Francisco
Castro de Sousa – AMLEF - Cadeira 07.
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