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MEDICINA E ESPIRITUALIDADE





A Universidade Federal do Ceará é a primeira do Brasil a colocar no seu Curso de Medicina uma disciplina que introduz a Espiritualidade na formação acadêmica dos Médicos. Merece destaque o pioneirismo da UFC no universo do ensino superior em nosso País, ao introduzir, na formação dos médicos cearenses, o estudo da questão espiritual.

Um trabalho assinado pelos Professores/médicos da Universidade de São Paulo, Drs. Maria do Patrocínio Tenório Nunes e Silmar Gannam em conjunto com os Acadêmicos Júlio Cesar Gagliardi Filho e Gabriel Henrique Beraldi, informam que pesquisaram 1424 artigos sobre o assunto Medicina e Espiritualidade, encontrando cerca de 172 sobre “Medical Education”, dos quais  170 tratando sobre a inserção de cursos sobre espiritualidade em escolas médicas no exterior, notadamente Estados Unidos e Europa. E, apenas, dois abordando a questão no Brasil.

Já não era sem tempo. Em pleno século XXI, não é mais possível que ainda prevaleça a visão cartesiana que considera a separação entre a res cogitans e a res extensa, na qual o ser humano é visto como máquina.

Embora Descartes considerasse a interação entre as duas coisas (res) um aspecto essencial da natureza humana, a ciência médica não tem conseguido ver dessa maneira. Por isso, penso que houve, historicamente, uma interpretação equivocada do pensamento cartesiano, ao se imaginar que, pelo fato de terem naturezas distintas, posto que o corpo é tangível e perecível, e o Espírito é incorpóreo e imortal, não haveria a influência de um sobre o outro.

Acredito que um fato que talvez tenha contribuído, sobremaneira, para esse tipo de visão mecanicista da vida, seja a ligação que se faz da questão da espiritualidade com a ideia de religião, ou seja, um preconceito.

O Espírito ainda não é visto de forma objetiva, como um elemento da natureza, conforme concluiu de seus estudos Allan Kardec e outros pesquisadores no século XIX.

Allan Kardec, comentando a questão 135 de O Livro dos Espíritos diz: “O homem é, portanto, formado de três partes essenciais: 1º - o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado do mesmo princípio vital; 2º - a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação; 3º - o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.”

Na introdução de “O Livro dos Espíritos” (Abril/1857), item VII, Allan Kardec faz o seguinte comentário: ”Dissecando o corpo humano, o anatomista procura a alma e, porque não a encontra, debaixo do seu escalpelo, como encontra um nervo, ou porque não a ver evolar-se como um gás, conclui que ela não existe, colocado num ponto de vista exclusivamente material.”

Assim, o Espírito é parte essencial do ser humano, independentemente de qualquer ideia que se tenha de religião. Não é o fato de não se conseguir alcançá-lo com as lentes do mais poderoso microscópio, que se possa negar a sua existência.

Na introdução da sua terceira obra, “O Evangelho Segundo O Espiritismo”, Allan Kardec, tratando das relações corpo e alma, faz a seguinte citação da doutrina de Sócrates e Platão: “Se os médicos são mal sucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem. 

Sendo a Medicina a arte de curar as moléstias e afecções do homem, seu estudo sempre estará incompleto, enquanto não conseguir estudar o homem na sua integralidade: matéria, Espírito, e, de forma especial, o perispírito.

O assunto desperta ainda mais o interesse, quando a responsável pela introdução dessa disciplina, Medicina e Espiritualidade no Curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará, e também a Coordenadora da disciplina, a Profª Dra. Eliane Oliveira, afirma: “Pretendemos estudar a dimensão espiritual dentro do Paradigma da Integralidade no curso médico, como uma contribuição para a superação do modelo biomédico na educação médica”.

Ora, dizemos nós, não será uma luta fácil cara professora, uma vez que o modelo biomédico baseia-se, exatamente, no modelo cartesiano e na física newtoniana, ou seja, numa visão mecanicista da vida, na qual se imagina que, consertando a parte ou substituindo-a, algumas vezes, conserta-se o todo.

Graças à iniciativa da Profa. Dra. Eliane Oliveira, além da Universidade Federal do Ceará, já é possível encontrar-se essa disciplina sendo oferecida pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Universidade Santa Cecília de Santos – SP, como curso de extensão.

Comentamos a questão para evitar que se venha a imaginar que, através dessa disciplina, Medicina e Espiritualidade, o Espiritismo adentre os salões acadêmicos.

A visão do homem como ser espiritual no sentido religioso é muito importante na medida em que poderá se tornar um poderoso instrumento capaz de reformar o homem e orientar o comportamento das massas, acabando, como disse Kardec: “com os males da humanidade”; mas em nada irá ajudar, por enquanto, na formação dos médicos.


Francisco Castro de Sousa. AMLEF - Cadeira 07.

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