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Solidariedade: a saída para a vida moderna

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"Sem a solidariedade, a sociedade efetivamente não se sustenta", ressalta psicólogo.

Por Alexandre Vaz
Repórter Dom Total

Desde o início de seu pontificado, o papa Francisco vem reiterando, em inúmeras oportunidades, a importância de se resgatar os valores da solidariedade e da fraternidade entre as pessoas. Crítico do atual modelo econômico mundial que, segundo ele, transforma as pessoas em escravas dos “ídolos do poder, do lucro e do dinheiro”, o Santo Padre defende que é preciso lembrar que, “acima dos negócios, da lógica e dos parâmetros do mercado, está o ser humano”. Para Francisco, mais do que simples caridade, a solidariedade representa o resgate dos valores fundamentais do homem, sem os quais é impossível a vida em sociedade. 

Para muitos estudiosos, o apelo do papa não é apenas pertinente do ponto de vista filosófico e religioso, como também tem bases científicas. O psicólogo Yuri Elias Gaspar, mestre e doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que o sentimento de solidariedade é um dos principais fundamentos para a vida em comunidade.

“Não basta que as pessoas tenham uma estrutura social que facilite um bem-estar material. É preciso que as relações humanas sejam humanas, confiáveis e verdadeiras. É preciso que a vida tenha sentido e que sejamos felizes. E a vivência da vida em solidariedade é uma ocasião preciosa para favorecer isso. Na minha opinião, sem a solidariedade, a sociedade efetivamente não se sustentaria”, explica o psicólogo, que pesquisa o fenômeno do voluntariado nas sociedades modernas.

Yuri Elias Gaspar explica que o surgimento do sentimento de solidariedade entre as pessoas é um fenômeno complexo, constituído por múltiplas causas. “Independente de sua origem, a solidariedade é uma característica de todo ser humano. No entanto, cada pessoa vive a solidariedade de um modo próprio, único, de acordo com suas características individuais e com o contexto social em que está inserida”.

Segundo o psicólogo, as pessoas dão conta da dimensão da vida quando se dispõem a sair de sua esfera individual para entrar em contato com o outro e ajudá-lo.  “O ser humano se desenvolve enquanto tal na relação com o outro. Quando nos dispomos a compartilhar a vida com alguém, abrimos caminho para reconhecê-lo como humano, isto é, como alguém que tem um rosto, uma história e uma sensibilidade próprias. Tenho visto que, quando o relacionamento humano se estabelece nesses termos, a pessoa vive uma realização e uma gratidão justamente por participar de algo que faz sentido para si. Não é por acaso que, muitas vezes, as pessoas que trabalham voluntariamente dizem que mais recebem do que doam quando realizam esse trabalho”, ressalta.

Yuri Elias Gaspar ressalta o efeito benéfico multiplicador que o trabalho voluntário permite na sociedade, ao propiciar um aumento de qualidade na relação do indivíduo consigo mesmo e com todos aqueles que estão ao seu redor.  “A partir de minha experiência de pesquisa, tenho visto que o trabalho voluntário - entendido no sentido de relação interpessoal de doação de si ao outro - carrega essa potencialidade de ajudar a pessoa a reconhecer e a desenvolver a solidariedade. Quanto mais a pessoa vive o gosto por compartilhar a vida com o outro numa posição de gratuidade, mais ela quer viver isso em toda relação”, afirma.

“Nos dias de hoje, vivemos numa sociedade que, em grande parte, tem se estruturado em função de posições materialistas e individualistas. No entanto, o trabalho voluntário tem ganhado cada vez mais visibilidade e incidência no cenário nacional, o que poderia ser um indicativo da necessidade de uma mudança de mentalidade. Portanto, embora muitas vezes rechaçada, a solidariedade insiste em permanecer, justamente porque somos humanos”, finaliza.

Redação Dom Total

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