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Eu sou o Caminho - Johan Konings

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Na liturgia dominical, nestas semanas, os católicos ouvem os trechos do evangelho de João que menos soam “ecumênicos”. Segundo João, Jesus declarou: “Eu sou a Porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes” (João 10,7-8). Ou: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (14,6). Na nossa mentalidade global, pelo contrário, achamos que há muitos caminhos para ir a Deus. Então, os pensadores religiosos cristãos dizem: essas palavras devem ser entendidas de modo “inclusivo”, ou seja, se alguém encontra Deus em sua vida e vive segundo o desejo de Deus, é por cristo que ele o faz, mesmo se ele nunca ouviu falar de Cristo. O que sempre provoca reação de alguns não cristãos, que respondem: a Igreja se apropria de pessoas que não lhe pertencem, dizendo que são cristãos sem o saberem, “cristãos anônimos, implícitos”...
Uma comparação pode esclarecer essa discussão. Saindo de Belo Horizonte, posso estar me dirigindo a Brasília sem ter visto a seta que indica o caminho, sem confirmação explícita. Pode até ser que não havia tal placa, ou que foi derrubada e a manutenção da estrada não a recolocou. Mas, por outras confirmações, sei que estou na direção certa: o tipo de estrada, um ônibus que ultrapassei e que trazia “Brasília” no letreiro etc. Porém, não vi a placa de trânsito, que indica oficialmente o caminho...
É um pouco assim que imagino que Mahatma Gandhi ou Nelson Mandela estavam no caminho que Jesus identifica com sua missão. E no dia que encontraram Jesus no fim do caminho, eles devem ter dito a ele: “Você aqui? Que bom! Graças a Deus”.
Mas, e a posição dos cristãos nisso? Não devem exigir que todos se declarem cristãos? “Fora da Igreja não há salvação!” Observemos, em primeiro lugar, que essa frase não foi dirigida aos não cristãos, mas aos cristãos cismáticos, os cristãos que andavam se afastando de sua comunidade e de seu bispo. Era uma advertência: o caminho não é por aí onde vocês estão andando!
Os cristãos devem se alegrar porque eles se sabem no caminho de Jesus. E devem também refletir de vez em quando para ver se o que Jesus mostrou é confiável. Para isso servem os Evangelhos, que nos contam como Jesus falou e agiu. Assim, vamos ler o Sermão da Montanha (Mateus cap. 5 a 7) e pensar bem: será que o Nazareno tem razão? Vamos ler a história de sua condenação e morte, e perguntar: foi certo o que ele fez? não deveria ter sido mais prudente? poderia ter vivido mais tempo e ensinado ainda durante muitos anos... Mas, e se o que ele fez foi exatamente seu ensinamento supremo? Não teria sentido tê-lo substituído por uma bela aposentadoria! E assim, repensando tudo o que os Evangelhos escrevem sobre ele, a gente acaba dizendo: ele tinha razão, mesmo!
Pois é, isso é que é ser cristão. Concordar com Jesus, porque ele é o caminho em pessoa (na Bíblia, “caminho” significa “modo de agir”). E ser coerente com essa convicção, na prática.
Então, em relação aos não cristãos, o “cristão de verdade” pode servir de referência: “É por aqui!”. Ou: “Que bom, estamos no mesmo caminho! Vamos andar juntos!”. – “Mas não sou de sua religião!” – “Não importa, o rótulo não faz o vinho...”.
Mas então, vale a pena ser cristão, submeter-se à exigências de uma religião, passar por careta etc.? Sim, porque o cristianismo como religião tem algo insubstituível a fazer: transportar a recordação de Jesus através dos tempos. Ser a placa na estrada. Lembrar, a quem precisar, qual foi o caminho que Jesus “encarnou” e mostrar o que isso significa hoje.

Johan Konings nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colegio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-82) e na do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011. Participou da fundação da Escola Superior Dom Helder Câmara. 

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