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Cultura do encontro, diálogo e paz

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O caminho para a paz é o diálogo, pois todos os problemas existem inicialmente por falta de diálogo.

Por Dom Orani João Tempesta*
No último final de semana, quando celebramos o Domingo da Ascensão do Senhor que nos envia para ser suas testemunhas até os confins da terra, e quando comemoramos o 48º Dia Mundial das Comunicações com a mensagem do papa sobre a “autêntica cultura do Encontro”, fomos convidados a olhar essa nossa importante e nobre missão.
O Santo Padre tem se referido à questão do diálogo e do encontro muitas vezes. Agora mesmo, durante a sua peregrinação à Terra Santa foi uma das tônicas que falou e que demonstrou com gestos.
A importância do encontro para um diálogo franco diante de questões polêmicas é fundamental. Será ainda mais produtivo quando formos pessoas que querem chegar a uma conclusão para o bem de todos. E ainda mais quando parte de pessoas que creem no mesmo Senhor.
Sempre ouvimos falar que a conversa é o melhor caminho para tentar resolver as dificuldades encontradas. Sem dúvida, devemos sempre buscar aplicar ao máximo esta regra no nosso cotidiano. O diálogo deve ser a primeira ferramenta que devemos utilizar quando identificamos um conflito, seja entre pais e filhos, marido e mulher, chefe e subordinado, comerciante e cliente, professor e aluno, como também nos nossos conflitos internos, quando procuramos a ajuda de um profissional ou da Palavra Divina.
É indiscutível que o diálogo bem intencionado reciprocamente proporciona um bem-estar entre as partes, mesmo quando não resolvido definitivamente o problema. O contato pessoal tem potencialidade de apaziguar o clima e deixar clara a posição entre as partes, que geralmente não têm o costume de tentar entender preliminarmente as razões e os motivos da parte contrária.
Interessante que a maioria dos conflitos surge inclusive pelas barreiras impostas ao diálogo franco e aberto. A liberdade de expressão não deve ser tolhida mesmo diante de uma “suposta” caracterização de indisciplina cometida contra a autoridade legítima ou mesmo uma imposta hierarquia. Encontramos este cenário facilmente no ambiente familiar, quando os pais restringem conversas de certos assuntos diante de seus filhos, criando verdadeiros obstáculos, modificando o ambiente de “familiar” para “desconhecido”. Identificamos as mesmas limitações no ambiente empresarial, quando a empresa não disponibiliza um canal de comunicação para o consumidor expor a sua manifestação, ou mesmo quando cria esse canal, mas não dá atenção necessária aos relatos procedentes, seja do cliente ou do colaborador.
Quanto a este tema do diálogo, o Papa Francisco, na alocução do dia 19/04/2014, trouxe presente o tema: “É preciso diálogo para resolver os problemas da vida e da Igreja As palavras do Santo Padre em sua alocução na qual falou da comunidade primitiva dos cristãos, assinalando que ali também havia dificuldades e problemas, e que, tanto naquela ocasião como nos nossos dias, é preciso serenidade e diálogo para obter a unidade desejada por Cristo para sua Igreja. “Na vida, os conflitos existem, o problema é como enfrentá-los. Até aquele momento, a unidade da comunidade cristã era favorecida pela pertença a uma única etnia e cultura, a judaica. Mas quando o Cristianismo, que por vontade de Jesus é destinado a todos os povos, se abre ao âmbito cultural grego, essa homogeneidade é perdida e surgem as primeiras dificuldades”, disse.
“Os problemas, de fato, não se resolvem fazendo de conta que não existem! E é bonito esse confronto contundente entre os pastores e os outros fiéis. Chega-se, assim, a uma divisão do trabalho. Os Apóstolos fazem uma proposta que é aceita por todos: eles vão se dedicar à oração e ao ministério da Palavra, enquanto sete homens, os diáconos, irão prover os serviços nos refeitórios para os pobres”, explica o Papa em nota divulgada pela Rádio Vaticano.
E esses sete homens não são escolhidos por serem especialistas em negócios, mas sim por serem homens honestos e de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, e são constituídos em seu serviço através da imposição das mãos pelos Apóstolos, destacou o Papa Francisco.
“Os problemas na Igreja se resolvem confrontando-se, discutindo e rezando, com a certeza de que as fofocas, as invejas e os ciúmes não poderão jamais nos levar à concórdia, à harmonia e à paz. Quando deixamos ao Espírito Santo a guia, ele nos leva à harmonia, à unidade e ao respeito dos diversos dons e talentos. Nada de fofocas, nada de invejas, e nada de ciúmes. Vocês entenderam bem?”, questionou o Papa.
Em sua visita ao Oriente Médio, o Papa Francisco mais uma vez toca no tema do diálogo, pois ele convidou os chefes do Estado de Israel e da Palestina para um encontro e, assim, colocou a sua casa (Estado do Vaticano) à disposição. O diálogo é, portanto, um desafio fundamental para a “própria maturidade”. Assim disse o Papa Francisco em audiência aos Japoneses em 21/08/2013: no confronto com a outra pessoa e com as outras culturas, mas também no confronto sadio com as outras religiões, se cresce.
Se no diálogo, alguém se fecha e fica com raiva, pode ter briga? Mas isso “não está bem”, porque nós dialogamos para encontrar-nos, não pode brigar. Assim, qual atitude mais profunda que devemos ter para dialogar e não brigar? O papa Francisco nos dá o caminho: é a humildade, ou melhor, a capacidade de encontrar as pessoas, de encontrar as culturas com paz; a capacidade de fazer perguntas inteligentes do tipo: mas, por que você pensa? Outro ponto que ele ressalta é a capacidade de ouvir os outros e depois falar. Temos necessidade de ouvir o outro, de argumentar, de procurar soluções. O nosso mundo tem essa necessidade e nós, católicos, somos chamados a ser sinais. Neste tempo de mudança cultural, antropológica e de perseguições religiosas, quando o grito substitui o diálogo, temos necessidade de propor um novo tempo que seja verdadeiro, um progresso para todos. E, sem dúvida, isso passa pelo diálogo, pelo encontro. O caminho para a paz é o diálogo, pois todas as guerras, todas as lutas, todos os problemas que não são resolvidos, com o qual nos deparamos, existem inicialmente por falta de diálogo.
Ao concluir o mês mariano, peçamos a intercessão de Nossa Senhora da Penha. Que ela continue intercedendo por todos aqueles que são ameaçados pelos “venenos das serpentes do mundo” como foi no início dessa devoção. Que tenhamos sempre um coração aberto para seguir, louvar e bendizer o Senhor que, vencendo o pecado e a morte com a sua Morte e Ressurreição, nos garante nova vida. Renovados sejamos alegres anunciadores de um novo mundo!
CNBB, 30-05-2014.
*Dom Orani João Tempesta é cardeal e arcebispo do Rio de Janeiro (RJ).

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