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Portugueses deixam em massa Portugal

  domtotal.com

Emigração é resultado do forte impacto da crise econômica pela qual o país passa.

Por Lev Chaim*

Portugal não mudou nada. Aparentemente. A sua riqueza cultural continua intacta. Mas, ao se olhar com mais cuidado, percebe-se diferenças. Os portugueses estão mais nervosos, menos alegres, vivem com os seus "telemóveis" (celulares) no ouvido e nem pensam na Copa que estará logo mais se iniciando no Brasil.
 
O país conseguiu colocar as suas contas em ordem e saiu do controle das instâncias financeiras internacionais, denominada de Troika. Mas o povo ainda sofre o severo arrocho da crise econômica que o país sofreu.  
 
Tanto é que, nos últimos três anos, cerca de 200 mil portugueses, alguns citam 300 mil ( inclui-se ai brasileiros que lá moravam e outros imigrantes), saíram do país a procura de empregos em outros lugares. Isso, segundo dados do Instituto Superior de Economia e Gestão. Eles eram velhos, jovens, com ou sem diploma, que saíram em busca de trabalho e, não menos importante, de perspectivas de futuro, como citou o jornal português, o Público.
 
Depois de Malta, Portugal já se tornou o segundo país da União Europeia com mais emigrantes em percentagem da população: 28,8%, segundo o coordenador científico do Observatório da Emigração, Rui Pires. E por mais triste que seja, essa saída em massa de portugueses do país acabou por ajudar a equilibrar as contas e aliviar as tensões sociais lá dentro. O desemprego, que estava nesta época do ano passado na média de 17,5% da população, caiu para 15,1% neste mês.
 
Desta vez em que lá estive, bem recente, pude notar tudo isso disfarçado por uma capa de angústia que domina o país nos últimos anos. Por ocasião da final da Liga dos Campeões em Lisboa, os portugueses torceram pelo Real Madri e ficaram contentes com a vitória deste time sobre o Atlético, também de Madri. Isto porque Cristiano Ronaldo, a estrela madeirense de Portugal, joga para o Real.
 
Desiludidos com os políticos e com a política em geral, os jovens portugueses aproveitaram a ocasião para participar das festas gratuitas nas praças de Lisboa, patrocinadas pela UEFA (a Liga Europeia de Futebol). Ao cair da tarde, notava-se a movimentação de jovens pelas ruas de Lisboa rumo aos shows que ali seriam apresentados. Além do que, havia também uma invasão de torcedores espanhóis que haviam chegado para assistir esta última partida.    
 
Segundo o historiador português, especializado em História Contemporânea, Manuel Loff, “a total falta de esperança é o legado mais pesado da política de arrocho porque passou Portugal para equilibrar as suas contas”. Para ele, a sensação coletiva de que a vida em Portugal não vale a pena não encontra paralelo em nenhuma fase da história contemporânea portuguesa. Toda uma geração de portugueses teve a sensação de ter sido expulsa do país, conclui Loff.
 
Mas, o turista desavisado, não familiarizado com a língua portuguesa, nada percebe. Para  sorte dos portugueses, a indústria do turismo continua a todo vapor e aqueles que têm emprego lutam para não perdê-lo.
 
Para o historiador Manuel Loff, em entrevista dada à imprensa portuguesa, a herança de tudo isto é o fato de todos viverem subjugados a uma moral econômica que pressupõe que o medo do futuro é o melhor ingrediente para a competitividade. Tchau e até a próxima sexta-feira.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.

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