Pular para o conteúdo principal

'Estou emocionado', diz neto de Avó de Maio sequestrado na Argentina

Encontro aconteceu na tarde desta quarta-feira (6) na cidade de La Plata.

Ignacio Hurban falou pela primeira vez após confirmação de identidade.

Do G1, em São Paulo
Estela de Carlotto (direita), ao lado do neto em entrevista para a imprensa, nesta sexta (8) (Foto: Natacha Pisarenko/AP)Estela de Carlotto (direita), ao lado do neto em entrevista para a imprensa, nesta sexta (8) (Foto: Natacha Pisarenko/AP)
"Estou emocionado, faz pouco tempo que aconteceu. É maravilhoso. espero que o que me aconteceu ajude na busca", disse em sua primeira entrevista para a imprensa Ignacio Hurban, o neto desaparecido da presidente da Associação Avós da Praça de Maio, na Argentina, segundo noticiou o jornal Clarín.
Após postar uma foto do encontro que teve nesta quinta com Estela de Carlotto, o pianista de 36 anos disse que dúvidas o levaram a pensar e se perguntar sobre sua identidade. Ele foi voluntariamente fazer os testes de DNA, que comprovaram que ele é neto de Estela, depois que soube que era adotado, há cerca de dois meses.

"Há 48 horas sei quem sou ou quem era ou quem não era. É um pouco novo isso", disse emocionado na sede da organização. "Acho mágico o que está acontecendo", acrescentou após reiterar que teve uma infância feliz graças aos pais adotivos - dois camponeses.

Ignacio e Estela concederam coletiva de imprensa nesta sexta (8), na sede da associação, em Buenos Aires.

O neto elogiou o trabalho das Avós da Praça de Maio. "É um coletivo de gente que, através do amor, buscam incansavelmente por seus netos; uma atitude louvável como poucas; falar das Avós é falar de uma atitude perante a vida", declarou.
Após anunciado o encontro entre o neto sumido por 36 anos e a presidente da organização Avós da Praça de Maio, que busca crianças desaparecidas na ditadura argentina, Ignacio Hurban publicou uma foto dos dois com a legenda: 'Obrigado, muito obrigado' (Foto: Reprodução/Twitter/@IgnacioHurban)Ignacio Hurban publicou no Twitter uma foto ao lado
de sua avó com a legenda: 'Obrigado, muito
obrigado' (Foto: Reprodução/Twitter/IgnacioHurban)
"Estou acostumado com o meu nome Ignacio, quero seguir com ele", disse o músico. Ele ainda se referiu aos ideais políticos de seus pais biológicos, dizendo: “devem estar em algum lado meu; graças a isso sou o que sou... ser artista é uma atividade política também”.

Hurban foi levado de Laura Carlotto, uma das filhas da fundadora da associação, no dia 26 de junho de 1978, horas depois de que ela dera à luz, enquanto estava sequestrada durante a última ditadura militar no país, que durou de 1976 a 1983, informa a agência Associated Press.

Dois meses depois do nascimento do bebê, foi assassinada a tiros. Guido é o nome com que Laura quis chamar seu filho, segundo o relato de Estela em várias ocasiões.

Se desconhece quem se apropriou do menino e como ele foi parar na família de trabalhadores rurais que o educou. O caso é investigado pela justiça federal junto com outros casos semelhantes.

O pai biológico de Hurban é Walmir Oscar Montoya, então marido de Laura. Ambos militavam na organização guerrilheira de Montoneros. Presumese que Walmir esteve preso no mesmo centro clandestino da cidade de La Plata onde Laura ficou sequestrada e que foi assassinado antes que sua mulher.

O músico espera poder se reunir logo com Hortensia Ardua, sua avó paterna de 91 anos. Nenhuma delas sabia até agora que procuravam o mesmo neto.

Estela disse que o casal que criou seu neto pode ter atuado de boa fé sem conhecer a procedência do bebê.

Segundo a Associação Avós da Praça de Maio, cerca de 500 bebês nasceram em cativeiro e foram sequestrados de seus pais, e Hurban é o 114º neto recuperado.

Ignacio deverá eventualmente declarar ante um juiz federal como testemunha sobre roubo de identidade, considerado um delito permanente e imprescritível.

Música no DNA
Guido, ou Ignacio, é considerado um bom pianista e professor de música. Seu avô paterno, um espanhol que fincou sua raízes na Patagônia para trabalhar na companhia de petróleo YPF, era um músico amador que passou essa paixão para Walmis Oscar, pai de Guido.
"Entre essas peças que não se encaixavam estava o meu amor pela música", disse.
Um tio paterno contou ao jornal La Nación que o avô de Ignacio, ou Guido, "tinha a música nas veias: tocava sax em uma banda da YPF", lembrou Jorge Montoya.

Comentários