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G1 já viu: Filme mostra Paulo Coelho rebelde e pop, mas 'derrapa' no roteiro

De psiquiatria à busca espiritual, 'Não pare na pista' divide vida em 3 fases.

Ravel Andrade é destaque; maquiagem e 'Paulo atual' atrapalham filme.

Letícia MendesDo G1, em São Paulo
Fabiana Gugli, que vive Christina Oiticicca, e Julio Andrade como Paulo Coelho em 'Não pare na pista' (Foto: Divulgação)Fabiana Gugli, que vive Christina Oiticicca, e Julio Andrade como Paulo Coelho em 'Não pare na pista' (Foto: Divulgação)
"Não pare na pista", que estreia na quinta-feira (14), promete contar "a melhor história" de Paulo Coelho. No geral, o filme "derrapa" no resultado. O diretor Daniel Augusto e a roteirista Carolina Kotscho ("2 filhos de Francisco") dividem a vida do escritor em três fases: adolescência, juventude e dias atuais. A escolha bombardeia o filme de flashbacks e deixa a narrativa bem cansativa.
O estreante Ravel Andrade, indicado ao papel de Paulo Coelho quando garoto pelo irmão mais velho, o ator Julio Andrade, interpreta uma das épocas mais interessantes da vida do escritor. É um bom momento para mostrar uma parte da vida do autor que muitos dos fãs não devem conhecer. Ravel é a grande revelação do filme: retrata com veracidade algumas das cenas mais dramáticas.
Em sua adolescência no Rio dos anos 60, Paulo Coelho é internado em um hospital psiquiátrico pelos pais após tentar o suicídio em casa. Sua rebeldia envolve crises com a sua aparência, por se achar o "cara mais feio e esquisito da turma". Também fica mal por seu pai se recusar a comprar uma máquina de escrever. Sua mãe Lygia (Fabiula Nascimento) é retratada como uma pessoa amável. Já a relação com o pai Pedro (Enrique Diaz) é conturbada, com divergências de opiniões, principalmente em relação ao seu futuro profissional.
Julio Andrade entra na parte ambientada nos anos 70, quando Coelho descobre seu lado espiritual, a partir da experiência com drogas e a criação da revista "2001". Por conta desse misticismo, Paulo conhece Raul Seixas (Lucci Ferreira), que vai despertar nele esse lado popstar. "Tu quer ser maior do que tu é", diz o músico ao escritor, no filme. A amizade, assim como a briga, entre os dois é bem retratada. Contudo, o lado de seguidores do ocultista Aleister Crowley ficou um pouco perdido na trama.
Mascarado
O maior erro do filme é gastar tanto tempo com o Paulo Coelho de 2013. Não parece haver justificativa para encaixar no roteiro a comemoração dos 25 anos do lançamento do romance "O alquimista" na Europa. Talvez teria sido melhor usar cenas reais para retratar o sucesso de Coelho, reconhecido como um dos autores brasileiros mais traduzidos de todos os tempos. Recurso parecido funcionou bem em "2 filhos de Francisco", com fim de sessão sonorizado por gravação de show da dupla Zezé di Camargo & Luciano.
Para que Julio ficasse parecido com o escritor aos 65 anos, a produção de "Não pare na pista" investiu generosa parte de seu orçamento (no total, o filme custou R$ 12,5 milhões) em uma máscara feita em Barcelona, na Espanha. O ator não parece muito adaptado e, em entrevista recente, deu sinais de não ter ficado completamente satisfeito com o resultado. "Eu tive dificuldade em me ver debaixo daquela máscara que pesava 5 kg e demorava 6 horas para colocar. Às vezes não me reconheço e fico confuso. Da próxima, eu faria um workshop para poder interpretar com a máscara", disse Julio Andrade.
O acessório foi usado em cenas como a de Paulo percorrendo novamente o caminho de Santiago de Compostela e a de sua internação em Genebra para cirurgia no coração. A maquiagem prejudica muito a atuação de Julio. O roteiro do filme poderia facilmente se sair bem melhor se não tivesse ousado tanto na caracterização do personagem.
Ravel Andrade como Paulo Coelho adolescente em 'Não pare na pista' (Foto: Divulgação)Ravel Andrade como Paulo Coelho adolescente em 'Não pare na pista' (Foto: Divulgação)
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Julio Andrade como Paulo Coelho em 'Não pare na pista' (Foto: Divulgação)Julio Andrade como Paulo Coelho em 'Não pare na pista' (Foto: Divulgação)

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