Pular para o conteúdo principal

The Washington Post, um ano após a venda

  domtotal.com

O que o bilionário da internet fará com o tradicional jornal, fundado há 136 anos?

Por Lev Chaim*

Há um ano, quando foi anunciada a venda de um dos mais tradicionais e influentes jornais dos Estados Unidos, "The Washington Post", a terra tremeu. Quando se ouviu o nome do comprador, o susto foi ainda maior: a Nash, holding privada de Jeff Bezos – o proprietário da Amazon, uma das maiores empresas digitais do mundo. Valor da compra: 250 milhões de dólares.

A primeira pergunta que veio à tona: o que o misterioso bilionário da internet, Jeff Bezos, com uma fortuna pessoal avaliada em 32,3 bilhões de dólares pela revista Forbes, irá fazer com o tradicional jornal, fundado há 136 anos? Justamente ele que foi adjetivado pela imprensa como o homem digital do futuro, uma espécie de o super-homem, ou melhor, o super-Bezos.

Um ano depois, nada mudou aparentemente. Para os leitores da versão impressa do jornal, ela  continuou sendo o veículo em que trabalharam os talentosos jornalistas Woodward e Bernstein, do caso Watergate que provocou o impeachment do então presidente Nixon, e do legendário redator-chefe, Ben Bradlee. Há anos com as mesmas tirinhas, a mesma rubrica de etiquetas e os já conhecidos e confiáveis colunistas políticos.

Antes da venda, o jornal ia de mal a pior, com sete anos seguidos de prejuízos. As vendas, de 800 mil em 1993, caíram para 431 mil em 2013, com um prejuízo acumulado de mais de 80 milhões de dólares. Com isto no visor, decidiu-se por enxugá-lo e 240 empregos evaporaram-se. “The Washington Post” estava prestes a se tornar um jornal local e regional.

E neste ano, com o jornal sob a batuta de Bezos, o que mudou? Em primeiro lugar, o novo dono é um homem misterioso que nem sempre gosta de publicidade. As cifras anuais da Amazon nunca foram abertas ao público e as do jornal, a partir de então, tornarem-se segredo de Estado - a primeira mudança.

O grande homem permanece em Seattle, cidade sede da Amazon, e o encarregado chefe de publicidade do jornal, Shailesh Prakash, é quem o visita uma vez por semana. Bezos discute as possíveis transformações do jornal, mas não se envolve na execução prática dos planos. Esta fica a cargo de Prakash.

Uma segunda mudança foi o objetivo do jornal em si. Ele estava para se tornar uma jornal local e regional, mas Bezos já se manifestou favorável a transformá-lo num jornal de longo alcance, para um grande público. Como equilibrar tradição e muitos leitores?

Agora, só notícias boas são divulgadas pelo encarregado chefe da publicidade do jornal. Exemplo: o aumento do número leitores da versão digital, que apenas em julho passado atingiu um total de 39 milhões de visitantes. E, com isto, são enviados  e-mails de felicitações à redação do jornal. Prejuízos foram esquecidos.

Existe um novo plano em que o leitor digital teria que pagar por artigo. Isto, segundo Prakash, poderia frear a queda das vendas da versão impressa, já que os assinantes não teriam mais a chance de ler tudo grátis na telinha. A versão digital sofreu pequenas modificações no layout, como também iniciou o uso dos populares “wonkblogs”(vox.com e fivethirty-eight.com), conhecidos blogs entre os jovens leitores.

Foram contratados 60 novos redatores para a redação digital e uma sucursal em Nova Iorque foi criada para a diagramação do site, com doze jovens talentos. E a versão impressa? Como renovar aquele tradicional instituto? Ao que tudo indica, nem mesmo o próprio super Bezos sabe ainda. Mas as vendas do jornal impresso caíram para 399 mil exemplares, 32 mil a menos do que antes de Bezos ter assumido o controle.

A Amazon cresceu porque pode apurar com antecipação o produto que os clientes desejavam. E Prakash sabe que “The Washington Post” jamais será uma segunda Amazon. Notícias, ao contrário de produtos, são imprevisíveis. E a Amazon está em uma guerra declarada com as cincos maiores editoras norte-americanas, por causa do preço do livro digital. Elas alegam que a Amazon está forçando a queda do preço, já que detém 65% do mercado.

Sem falar ainda que na semana que passou, 900 escritores colocaram um grande anúncio no The New York Times contra a empresa de Bezos. Os autores a acusam de vender livros digitais por preços mínimos, como se literatura fosse apenas um produto qualquer. Jeff Bezos está mesmo ocupadíssimo.   

Um ano depois da venda e o futuro do jornal impresso “The Washington Post” ainda continua incerto. Os guardiões da tradição ainda têm a esperança de salvá-lo, mas até o momento, nada se pode concluir além do que já foi citado: a versão digital do mesmo cresceu e bateu recordes de visitas em sua página online.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças para o Dom Total.

Comentários