“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer
não se desviará dele.” (Provérbios, 22: 6).
João Amós Comenius (1.592-1.670) em sua Didática Magna –
Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos, no número quinze, nos diz
textualmente: “Um dos primeiros ensinamentos, que a Sagrada Escritura nos dá, é
este: Sob o sol não há nenhum outro caminho mais eficaz para corrigir as
corrupções humanas que a reta educação da juventude.“ Como exemplo, ele cita o
provérbio que transcrevemos acima.
Dizendo ele no número dezoito: “Cristo ordena que nós,
adultos, nos convertamos como criancinhas, isto é, para que desaprendamos os
males que havíamos contraído com uma má educação e aprendido com os maus
exemplos do mundo, e regressemos ao primitivo estado de simplicidade, de
mansidão, de humildade, de castidade, de obediência, etc. (...) Daí resulta que
não há coisa mais difícil que voltar a educar bem um homem que foi mal educado.
Na verdade, uma árvore, tal como cresce, alta ou baixa, com os ramos bem
direitos ou tortos, assim permanece depois de adulta e não se deixa
transformar.”
Comenius, um estudioso da arte de educar, coloca a educação
da juventude como a única forma de corrigir as corrupções humanas, colocando a
criança como elemento central do processo educativo, ou seja, “antes que a
árvore cresça muito e se encha de galhos.”
No final do
século XVIII e início do século XIX, Johann Heinrich Pestalozzi - (1746-1827),
apresenta um ensaio
pedagógico onde procura traçar as linhas gerais que deveriam ser seguidas com o
objetivo de fazer da criança um adulto bom, no qual trata dos princípios para
evitar que a criança se torne má, e que tem como pressuposto básico a crença na
bondade natural do homem.
Segundo
Pestalozzi, o mecanismo da natureza segue uma marcha elevada e sensível em toda
a sua extensão: “o homem imita-a!” Todo o ulterior desenvolvimento espiritual
da pessoa se baseia no vínculo natural (ou “animal”) entre filho e mãe. Por
isto ele insiste na influencia da família como fator de educação.
Para ele,
o professor, e muito antes o pai e a mãe atuam como educadores, ocupam uma
posição especial no ponto de encontro, entre o desejo sensível e a razão social
na criança. Pestalozzi considerava a educação como um processo que devia seguir
a natureza, a liberdade, a bondade inata do ser humano, unindo mente, coração e
mãos. A educação consistia, assim, no desenvolvimento moral, mental e físico da
natureza da criança, de todas as crianças, independentemente de suas condições
sociais.
Pestalozzi
entendia que a criança se desenvolve de dentro para fora como, naturalmente, a
semente se transforma em uma árvore; seus impulsos são inatos. Assim, toda a
instrução educativa deve ser extraída das próprias crianças e nascer dentro
delas. Assim, O método de toda educação consiste em um princípio muito simples:
seguir a natureza.
Coerente
com o que pensava, no início do século XIX Pestalozzi inicia uma experiência bastante
exitosa, em Iverdon-Suiça onde, durante cerca de vinte anos, desenvolveu suas
ideias sobre a educação chamando atenção de toda a Europa para o seu método.
Muitos pais enviaram seus filhos para o seu Instituto, dentre eles um
inteligente jovem Francês, nascido em Lyon, Hippolyte Léon Denizard Rivail
(1804-1869), foi enviado para lá por seus pais.
Não se tem
com exatidão em que ano isso aconteceu, entretanto, considerando-se que,
naquela época, somente após os oito ou dez anos de idade é que as crianças eram
mandadas para a escola na França, é possível que a ida do jovem Rivail para
Iverdon tenha acontecido por volta de 1814, lá permanecendo, possivelmente até
por volta de 1822, com dezoito anos completos.
Retornando
para a França, o jovem Rivail passou a se dedicar ao magistério e aos estudos
sobre a educação, assim é que, aos vinte anos de idade (1824) lançou sua
primeira obra nessa área com o título: Curso Prático e Teórico
de Aritmética segundo
o método de Pestalozzi, para uso dos professores e mães de família, essa obra
fez grande sucesso na França sendo reeditado por várias décadas.
Os
estudos e prática do professor Rivail em Paris, aliados ao seu aguçado senso de
crítica e observação, o levaram a publicar um Plano Para o Melhoramento da
Instrução Pública (1828), lançado no Brasil pela Editora Comenius sob o título
Textos Pedagógicos.
Nessa
obra o Prof. Rivail analisa em profundidade o assunto, concluindo que: A
educação é a arte de formar os homens; isto é, a arte de fazer eclodir neles os
germens da virtude e abafar os do vício; de desenvolver a inteligência e de
lhes dar instrução própria às suas necessidades; enfim de formar o corpo e de
lhe dar força e saúde. Numa palavra, a meta da educaçao consiste no
desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais.
Quer
nos parecer que o Prof. Rivail, ao dizer que “a educação é a arte de fazer
eclodir nos homens os germens da virtude e abafar os do vício,” era como tarefa
da família que ele estava pensando, deixando para a escola o mister de “desenvolver
a inteligência e dar instrução própria às suas necessidades.” Podendo se
identificar nessa conceituação do Prof. Rivail uma síntese das ideias de
Comenius e Pestalozzi, concluindo que o alicerce sobre o a qual a escola
desenvolverá o seu trabalho deve ser uma construção da família. O trabalho do
Prof. Rivail dirigido para a educação continuou, com a publicação de várias obras
voltadas para essa área, de 1831 a 1849.
A
partir de 1854 sua atenção foi sendo gradualmente atraída para uma série de
fenômenos que invadiram os Estados Unidos e a Europa, denominados de Mesas
Girantes, e que também dominaram sua atenção até 1869, culminando com a
publicação de O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O
Evangelho Segundo O Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese
(1869) dentre outras, e de 1858 a 1869 publicou um periódico mensal sob o
título Jornal de Estudos Psicológicos (REVISTA ESPÍRITA).
A
partir da publicação da obra “O Livro dos
Espíritos” ele passou a adotar o pseudônimo, Allan Kardec, esse livro é
composto de 1019 perguntas formuladas por ele e respondidas pelos Espíritos que
ele entrevistara, em diferentes lugares e por diferentes médiuns, estranhos uns
aos outros, vindo a compor, juntamente com as demais relativas a essa área, o
que ficou conhecida como a Cofificação Kardeciana, conhecidas como as obras
básicas da Doutrina Espírita.
No
Capítulo III, da parte segunda de O Livro dos Espíritos, que trata sobre a
infância, na questão 383, Allan Kardec pergunta de forma especifica aos
Espíritos, o seguinte: Para o Espírito, qual a utilidade de passar pelo estado
de infância? E a resposta textual é a que segue:
“Encarnado, com o objetivo de se
aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões
que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem
contribuir os incumbidos de educá-lo.”
Pela resposta
acima, se analisada isoladamente, pode dar a entender que a tarefa de educar
cabe à escola, através dos professores, no entanto, na resposta que os
Espíritos deram à pergunta de nº 385, que é bastante extensa, nos dois últimos
parágrafos, essa questão fica totalmente esclarecida, senão vejamos:
“A
infância ainda tem outra utilidade. Os Espíritos só entram na vida corporal
para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os
torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los
progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os
maus pendores. Tal o dever que Deus
impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas. (Grifei)
“Assim, portanto, a infância é não só
útil, necessária, indispensável, mas também conseqüência natural das leis que
Deus estabeleceu e que regem o Universo.”
Conclusão a que chegamos:
“Cabe à família educar a criança
no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele!” (Provérbios,
22: 6).
Francisco Castro de Sousa – AMLEF – Cadeira 07.
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