Dia 29 de junho é o dia consagrado a
São Pedro, Padroeiro dos pescadores. No Nordeste Brasileiro é um costume antigo
comemorar-se esse dia com festas e acendimento de fogueiras, tanto na zona rural
como na zona urbana, principalmente na véspera, do dia 28 para o dia 29.
Ainda adolescente, embora nascido na
capital, aproveitava tais festividades para sair com os amigos e quem sabe
dançar com uma das garotas pretendidas. Naquele dia 28 de junho de 1963, portanto,
véspera do dia de São Pedro não foi diferente, fiquei até muito tarde, ora no
sereno em volta da fogueira, ora no salão dançando com uma das garotas
presentes. Longe estava de imaginar que, nos dias 29 e dia 30, dois fatos
ocorreriam que iriam marcar de forma indelével a minha vida a partir de então.
O meu Avô, João Luís de Castro, já
beirando os 100 anos de idade, com quem mantinha uma relação, não só de neto
para avô e vice-versa, como também de duas almas com bastante afinidade,
possivelmente de outras existências. Dormíamos em redes, um ao lado do outro no
mesmo compartimento da casa modesta, sem luz elétrica e com piso de chão
batido, onde quase sempre ficávamos conversando antes de dormir. Naquela noite
do dia 29, ele procurava puxar conversa, mas o cansaço da noite anterior não me
permitia avançar muito na prosa. Compreensivo ele disse, você tá muito cansado
não é? Estou Vovô, respondi. Então vá dormir ele completou.
Lá pela madrugada, portanto, já no
dia 30, acordei com um gemido alto do meu Avô, pulei da rede e amparei-o em
meus braços, ainda meio aturdido perguntei o que foi Vovô? Ele não mais
respondeu, deu um longo suspiro e deixou essa existência física. Muito parecido
com o que ocorrera nove anos antes, quando eu havia sofrido a primeira grande
perda nessa atual existência, com o falecimento do meu Pai, agora sofria outra,
a do meu Avô e também o melhor amigo. Esse foi o primeiro dos acontecimentos marcantes
aos quais me referi acima.
Naquela noite ninguém mais dormiu, ficamos
todos muito abalados, minha Mãe e meus irmãos. Os vizinhos acorreram com o
conforto da presença. Tínhamos que tomar as providências para o sepultamento, compra
do caixão, abertura da sepultura e também o velório. Era um entre e sai de
gente amiga, e amiga de amigos, todos nos traziam as condolências. Naquela
manhã, já quase meio-dia, conheci uma jovem que também veio prestar a sua
solidariedade, se tratava de uma das filhas de uma grande amiga da minha mãe.
Menos de dois meses depois, iniciei
um namoro com aquela jovem que havia conhecido no velório do meu Avô, quase
cinco anos depois casamos, tivemos quatro filhos, duas meninas e dois meninos,
os quais já nos presentearam com cinco lindos netos, duas meninas e três
meninos. Daquele início de tarde para cá, já se contam mais de cinquenta anos.
O meu Avô me queria tanto bem, que se foi, mas deixou de presente o grande amor
da minha vida.
Francisco Castro de Sousa – AMLEF – Cadeira 07.
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