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Médio Oriente: Papa denuncia terrorismo e perseguições contra minorias religiosas na Síria e Iraque

Agência Ecclesia
  

(Lusa)
(Lusa)

Primeiro discurso na Turquia apela à mobilização da comunidade internacional para ajudar refugiados e proteger população civil

Ancara, 28 nov 2014 (Ecclesia) – O Papa denunciou hoje na Turquia o terrorismo e as perseguições contra minorias religiosas na Síria e Iraque, apelando à intervenção da comunidade internacional para ajudar os refugiados e proteger a população civil.
“Infelizmente, somos ainda testemunhas de graves conflitos: na Síria e de modo particular no Iraque, a violência terrorista não dá sinais de diminuir. Regista-se a violação das normas humanitárias mais elementares contra prisioneiros e grupos étnicos inteiros; verificaram-se, e continuam ainda, graves perseguições contra grupos minoritários, especialmente – mas não só – cristãos e yazidis”, alertou Francisco, no palácio presidencial de Ancara, durante a cerimónia oficial de boas-vindas à Turquia.
No primeiro discurso desta viagem de três dias, o Papa recordou que centenas de milhares de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas e a sua pátria “para poderem salvar a sua vida e manter-se fiéis ao próprio credo”, numa referência à violência promovida, em particular, pelo autoproclamado Estado Islâmico.
Francisco sublinhou que, ao acolher milhares de refugiados, a Turquia é diretamente afetada pelos efeitos desta “situação dramática nas suas fronteiras”.
“A comunidade internacional tem a obrigação moral de a ajudar a cuidar dos refugiados”, assinalou.
Neste contexto, o Papa voltou a sustentar que não é possível “ficar indiferente àquilo que provocou estas tragédias”.
“Enquanto reitero que é lícito deter o injusto agressor – sempre porém no respeito pelo direito internacional – quero lembrar também que não se pode confiar a resolução do problema somente à resposta militar”, declarou.
Francisco apelou ao diálogo para assumir “com paciência, o compromisso de construir uma paz sólida, assente no respeito pelos direitos fundamentais e deveres ligados com a dignidade do homem”, em particular no Médio Oriente, palco de “guerras fratricidas que parecem nascer uma da outra”.
“Quanto tempo terá ainda de sofrer o Médio Oriente por causa da falta de paz? Não podemos resignar-nos com a continuação dos conflitos, como se não fosse possível mudar a situação para melhor”, apelou.
Quanto tempo terá ainda de sofrer o Médio Oriente por causa da falta de paz? Não podemos resignar-nos com a continuação dos conflitos, como se não fosse possível mudar a situação para melhor
O presidente Recep Tayyip Erdogan falou da visita de Francisco como uma mensagem de "paz e de esperança" para a região, condenando o terrorismo promovido por extremistas islâmicos e, ao mesmo tempo, a "islamofobia" que associa os muçulmanos à violência.
Francisco, por sua vez, aludiu à necessidade de garantir a liberdade religiosa e a liberdade de expressão, de promover o diálogo inter-religioso e intercultural, “a fim de banir toda a forma de fundamentalismo e de terrorismo, que humilha gravemente a dignidade de todos os seres humanos e instrumentaliza a religião”.
“É fundamental que os cidadãos muçulmanos, judeus e cristãos gozem dos mesmos direitos e respeitem os mesmos deveres. Assim, hão de mais facilmente reconhecer-se como irmãos e companheiros de viagem, afastando cada vez mais as incompreensões e favorecendo a colaboração e o acordo”, precisou.
Esta solidariedade de todos os crentes contrapõe-se “ao fanatismo e ao fundamentalismo, às fobias irracionais que incentivam incompreensões e discriminações”.
Só assim disse Francisco, os povos e os Estados do Médio Oriente poderão “finalmente inverter a tendência e levar por diante um processo de pacificação bem sucedido, mediante a rejeição da guerra e da violência e a busca do diálogo, do direito, da justiça”.
A este respeito, o Papa pediu que os Estados canalizem os seus recursos “não para os armamentos”, mas para as “verdadeiras lutas dignas do homem”: contra a fome e as doenças, pelo desenvolvimento sustentável e a defesa do ambiente, no combate às “formas de pobreza e marginalização”.
Francisco disse ainda que a Turquia, pela sua história, pela sua posição geográfica e “devido à importância de que se reveste na região, tem uma grande responsabilidade” em todos estes processos.
O Papa frisou a ligação do território às primeiras comunidades cristãs, por ser a terra natal de São Paulo (século I), por ter acolhido os primeiros sete Concílios da Igreja e “pela presença, perto de Éfeso, daquela que uma veneranda tradição considera a «casa de Maria», o lugar onde a Mãe de Jesus viveu durante alguns anos”, um lugar de devoção para muitos peregrinos cristãos e muçulmanos.

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