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Tempo de refletir sobre a história

19/11/2014  |  domtotal.com

O ser humano, quanto mais dependente da técnica, mais necessidade tem de encontros pessoais e presenciais.

Por Dom Orani João Tempesta*

Aproximando-nos do final e início de novo Ano Litúrgico, os textos bíblicos nos falam de prestação de contas, final dos tempos e da expectativa de estarmos preparados para o Senhor que virá. Devemos estar sempre preparados. A nossa arquidiocese se prepara para a Segunda Festa da Unidade, na véspera de Cristo Rei, quando iniciaremos uma semana com várias comemorações: dia do cristão leigo, início da campanha para a evangelização, dia nacional de ação de graças e o show Rio em Comunhão.

Nestes tempos de tantas mudanças, somos chamados a nos comunicar também através das mídias em geral e, em especial, das mídias sociais. Cada época a criatura humana encontra um novo meio para se comunicar. Não sabemos o que virá no futuro, mas as mudanças rápidas nestes últimos 50 anos nos fazem pensar em como estar sempre aprendendo de novo. E creio que a principal questão é como fazer um bom uso de tudo isso.

Torna-se cada dia mais difícil a vida das pessoas que não possuem domínio do computador e não possuem o acesso à internet, pois quase tudo hoje se faz com essa ferramenta. Porém, junto a esta tecnologia indiscutivelmente espetacular e indispensável, se não for utilizada de maneira correta, podemos ter cada dia mais jovens e crianças cyber viciados, os quais, poderiam se tornar cidadãos alienados e dominados pela máquina. Neste tempo de tantas comunicações, quantas dificuldades para tal! Para informações, assim como correspondência e educação, a internet tem uma importância significativa. Hoje fica fácil em segundos saber tudo o que está acontecendo no Brasil e no mundo, é possível se falar, ouvir e até ver pessoas que estão do outro lado do planeta, ou mesmo tirar dúvidas sobre qualquer que seja o assunto. Até mesmo a pequena demora para chegar às informações transmitidas pela sonda que pousou no cometa nesta semana parece uma eternidade.

A vida pessoal é partilhada com milhões de pessoas desconhecidas, e devido às grandes proporções que os sites de relacionamento possuem, fica fácil hoje em dia qualquer pessoa saber onde você mora, quantos filhos você tem, onde eles estudam, onde você trabalha. Isso que poderia estreitar laços muitas vezes serve para tornar-se alvo de crimes. Muita gente, por desinformação ou mesmo desatenção, acaba se tornando vítima deles, pois tem sua vida monitorada, e facilmente bandidos conseguem todas as informações necessárias para extorquir, roubar e até matar. A ferramenta pode ser bem ou mal utilizada. Nesse sentido, chegando a este tempo de reflexão litúrgica somos chamados a um sério exame de consciência e a buscar reconciliação. Uma das situações que mais se difundem divisões, mentiras, maldades tem sido justamente esse instrumento de comunicação.

Durante as últimas décadas, toda a sociedade tem se beneficiado das novas tecnologias. Mas, como toda causa tem um efeito, com elas não foi diferente. Como qualquer meio de comunicação, a maneira como utilizar é a grande chave de encontrar caminhos.

É certo que tudo praticado com exagero traz malefícios. O uso indiscriminado da internet é capaz de prejudicar a vida social de seus usuários. Muitas vezes afastam-se das pessoas que anteriormente mantinham contato pessoal, prejudicando os processos comunicativos e desatando as relações. A grande quantidade de tempo gasto na internet poderia ser usado em atividades perto de pessoas do seu convívio. Participar da missa, santificar o domingo, falar com os filhos, viver momentos de lazer junto aos amigos são necessidades humanas! Começa-se a perceber, que faltam esses espaços em nossos tempos. O ser humano, quanto mais dependente da técnica, mais necessidade tem de encontros pessoais e presenciais.

As notícias e comentários tanto no passado como hoje podem ser causas de ofensas e difamação. E as dificuldades em mostrar o contrário e retirar a mentira são enormes nestes tempos. É necessário utilizar a internet como ponte para a união e não para a separação, pois a vida cotidiana já possui tantos problemas que nos afligem. Temos em nossas mãos um grande instrumento de poder transformar o mundo para melhor, mas a utilização dele depende da pessoa que usa.

Estamos chegando ao final do ano. Quantas discussões, divisões, brigas e divisões devido a tantas questões discordantes causaram situações desagradáveis! Em nossa Arquidiocese temos um momento de celebração penitencial, agora preparando a Festa da Unidade e, no Advento, preparando o Natal do Senhor. É tempo de reconciliação! O perdão leva-nos a compreender, a desculpar, a conviver com todos, de maneira que aqueles que pensam ou atuam de um modo diferente do nosso, em matéria social, política ou mesmo religiosa, devem ser objeto também do nosso respeito e do nosso apreço. Mas é necessário distinguir entre o erro, que sempre deve ser evitado, e o homem que erra, pois este conserva a dignidade da pessoa.

Um discípulo de Cristo jamais tratará mal o outro! O Papa Francisco tem insistido sobre algumas palavras que sempre deveríamos levar no coração e algumas delas podemos salientar: desculpe, bom dia, como vai... O preceito do perdão não estende somente àqueles que nos querem e nos tratam bem, mas a todos sem exceção. “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos aborrecem e orai pelos que vos perseguem e caluniam.” Eis um grande desafio para comunicar neste tempo de final e início de Ano Litúrgico.

Homens divididos por calúnia, injúria e difamação não ajudam a evangelizar. Este tempo é o momento de perdão e unidade, de tirar do seu coração todo o veneno do ódio e buscar a reconciliação.

Partilhemos os dons com alegria e aproveitemos cada dia para semearmos a boa semente da Palavra de Jesus, que constrói um mundo novo, a civilização do amor.

Para utilizar bem a mídia, é necessário que tenhamos paz em nossos corações. Vivamos com essas intenções estes dias finais do Ano Litúrgico enquanto nos preparamos para com o Advento iniciar o novo. Deus nos ama com amor eterno e nos enviou o Seu Filho Jesus Cristo, que deu Sua Vida por nós, para que tenhamos vida e vida plena. Que o Espírito Santo nos conduza e encontre em nós corações abertos para assim viver.

No próximo dia 22 de novembro, sábado, a partir das 13 horas em nossa Catedral de São Sebastião, teremos a oportunidade de viver intensamente esse dom do Senhor e contagiar os irmãos e irmãs para que assim vivamos como sinais de paz e reconciliação para nossa cidade.
CNBB, 17-11-2014.
*Dom Orani João Tempesta é cardeal e arcebispo do Rio de Janeiro (RJ).

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