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Eu Tenho Vergonha

Grecianny Carvalho Cordeiro*

Enquanto escrevo esse artigo, o Congresso Nacional está prestes a votar o PLN 36/2014, por meio do qual se pretende alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, com o objetivo de retirar a meta do governo do superávit para o ano de 2014.

Trocando em miúdos: o governo gastou mais do que a lei permitia, infringindo a lei de responsabilidade fiscal, e agora quer se eximir dessa responsabilidade. O que gastou a mais que fique por isso mesmo, passemos a mão na cabeça da Presidente e pronto. É a chamada manobra fiscal, e como o nome já diz: é burla, é escamoteamento, é desviar do correto, daquilo como deveria ser. 

Manifestantes protestam contra a aprovação desse projeto de lei e são barrados, a sessão de votação é suspensa, são colocadas em votação propostas de somenos importância para disfarçar e segue a palhaçada. A ideia é acalmar os ânimos e votar a proposta no momento certo.

O fim do ano está próximo, e com ele, o momento propício para a aprovação de projetos de lei escusos, de moralidade duvidosa e/ou flagrantemente abominável, no apagar das luzes. Quando todos estão preocupados com a chegada do Papai Noel e com os presentes de Natal.

Eu tenho vergonha desse Congresso Nacional, desses representantes – salvo exceções - de seus próprios interesses, quando deveriam se preocupar com o interesse público, da sociedade brasileira, tão aviltada, humilhada e violentada com tantos mandos e desmandos, com tanta corrupção, com tanta imoralidade.

Em verdade, não sei se esse projeto que exime a Presidente de sua responsabilidade, por ter gasto mais do que devia e podia, será aprovado. Mas não duvido disso. Como nenhum de vocês também duvida. A maioria do Congresso Nacional é da situação e a oposição nunca soube fazer oposição.

E assim vamos assistindo a mais um golpe na democracia, nos princípios que regem a administração pública, no coração da sociedade brasileira, e vão sendo criados subterfúgios, exceções que convêm aos donos do poder, graças a um Congresso Nacional que representa somente a si mesmo e jamais ao povo brasileiro, contra quem legisla.

Sim, eu tenho vergonha de tudo isso que está posto, e de forma descaradamente, dessas manobras legislativas e políticas com o único objetivo de burlar a lei, os interesses públicos. 
A moeda de troca para tanta marmota, já conhecemos bem, que o digam o mensalão e a Petrobrás. Ninguém viu, ouviu ou falou. 
Experimente você, ultrapassar os gastos que pode fazer!

*Escritora, Promotora de Justiça e integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza

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