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O poder da imaginação

  domtotal.com

Exposição que abre nesta terça (17) em Madrid mostra evolução da linguagem do francês Raol Dufy.

Por Marco Lacerda*
A obra de Raol Dufy tem uma profundidade muitas vezes ignorada. Suas cenas de regatas e corridas de cavalos levaram os críticos a se referir à sua pintura como regida pelo signo do prazer. Sem desmerecer a inegável faceta hedonista de sua obra, a exposição que será inaugurada nesta terça-feira (17), no Museu Thyssen-Bornemisza de Madrid, se distancia desta interpretação para mostrar a lenta gestação de sua linguagem pessoal, sua busca constante por novas soluções plásticas e, sobretudo, sua faceta mais introspectiva.

A mostra, que fica em cartaz até 17 de maio, é a primeira grande retrospectiva de Raol Dufy em Madrid desde a celebrada exposição de 1989. O evento oferece uma visão do conjunto da trajetória desse artista francês através de 93 peças procedentes de coleções particulares e de grandes instituições como o Musée d´Art Moderne de la Ville de Paris, National Gallery of Art de Washington, Art Institute of Chicago, Tate de Londres e a colaboração do Centre Pompidou de París com 36 obras. Trata-se de uma seleção de óleos, desenhos, aquarelas e cerâmicas realizados ao longo uma extensa e prolífica carreira que durou mais de meio século.

Pela organização estabelecida pelo curador Juan Ángel López-Manzanares a mostra começa com as cenas de portos e mercados que Dufy pinta na Normandia, Marselha e Martigues, resultado de uma viagem que o pintor fez à região em 1903. Em 1905 esta temática é abandonada e aos poucos a substitui por cenas de prazer e diversão captadas à luz do dia.

Embora Dufy tenha se reconhecido como herdeiro do impressionismo, logo compreendeu a necessidade de superá-lo. Ele mesmo conta que, enquanto pintava a praia de Sainte-Adresse, percebeu a impossibilidade de captar as contínuas mudanças de luz: “Esse método de retratar a natureza me levava ao infinito, aos meandros, aos detalhes mais fugazes e acabava por me deixar fora do quadro”.

Se Monet, Sisley e Pisarro haviam tentado capturar em suas telas as impressões que passavam por suas retinas, a nova geração de artistas aspirava a algo mais que a mera satisfação visual. No Salão dos Independentes, de 1905, Dufy sente o impacto dos quadros de Matisse. Essa descoberta provoca uma mudança de rumo em sua obra. “O realismo impressionista perdeu todo o seu encanto para mim ao contemplar o milagre da imaginação introduzida no desenho e na cor. Compreendi, de repente, a nova mecânica da pintura”, disse ele.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal.

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