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Montanhista do CE volta ao Everest após tragédia que matou 16 pessoas

Rosier Alexandre presenciou avalanche que matou colegas de expedição.

Cearense viaja para o Nepal para escalar a montanha mais alta do mundo.

Gabriela AlvesDo G1 CE

Rosier Alxandre volta ao Nepal para escalada no Monte Everest (Foto: Rosier Alexandre/Arquivo Pessoal)Rosier Alxandre volta ao Nepal para escalada no Monte Everest (Foto: Rosier Alexandre/Arquivo Pessoal)
A poucos dias de embarcar para o Nepal, onde tentará novamente escalar o Monte Everest, a sala de estar da casa do montanhista Rosier Alexandre, em Fortaleza, parecia ser um acampamento. Os mais de 200 itens de equipamentos individuais, entre roupas, botas, piquetas e bastões, estavam espalhados prontos para serem colocados nas duas malas que devem seguir Rosier até o campo base dos montanhistas. Aos 46 anos, Rosier Alexandre deixa Fortaleza na noite desta segunda-feira (30) para retornar à maior montanha do mundo depois de presenciar a avalanche que vitimou 16 pessoas em abril de 2014.
“Em nenhum segundo, eu pensei em desistir. Naquele momento, diante daquela tragédia que tivemos que desistir da expedição, já marquei uma data que eu voltaria no ano seguinte”, diz Rosier.  Nos próximos 50 dias, o cearense se mudará para montanha mais uma vez. Em abril, deve iniciar a caminhada até o campo base, a 5.350 metros de altitude. O cronograma, muito parecido com o do ano passado, se divide em várias etapas, entre aclimatação, subidas e descidas, até chegar ao cume do Monte Everest, a 8.848 metros de altitude. “Sendo bem otimista, se as condições climáticas permitirem, no dia 20 de maio, a gente chega ao cume.”
Em vídeo exclusivo do G1, o montanhista fala sobre a escalada e mostra o que vai levar na bagagem para o Everest; assista.
A chegada ao topo do Monte Everest é a sétima e última etapa do projeto Sete Cumes, em que o montanhista escala as montanhas mais altas de cada continente, onde a Antártida entra na lista e a América se divide em América do Norte e América do Sul. Rosier já chegou ao topo de seis: Aconcágua (6.962m), Kilimanjaro (5881m), El Brus (5.642m), Vinson (4.892m), McKinley (6.198m) e Carstensz (4.884m).
“As pessoas têm muita resistência a ter sonhos grandes. Achavam que eu era um louco. Hoje, o projeto Sete Cumes está 90% realizado. Só falta uma montanha. Nada melhor que terminar, com a cereja do bolo”.
Além de ser a mais alta do mundo, Rosier levou em conta a preparação técnica e financeira para deixar o Everest para encerrar o projeto. O ingresso para qualquer montanhista se candidatar a fazer uma expedição na montanha é 10 mil dólares. “Tivemos um ano bem difícil. Houve queda dos parceiros, uma queda no investimento. Trabalhei para valer, fiz uma reserva e estou indo”. Nesta expedição, o filho mais velho de Rosier, Davi, de 22 anos, vai acompanhar o pai pela primeira vez. “Ele está com os olhos brilhando. A gente vinha pensado há seis meses nessa possibilidade, mas decidimos mesmo faz 15 dias”. O pai Rosier diz não ficar preocupado porque o filho, recém-formado em Engenharia de Produção, só deve ir até o campo base. 
Resgate no Monte Everest (Foto: Rosier Alexandre/Arquivo Pessoal)Resgate no Monte Everest depois de avanlache em 2014 (Foto: Rosier Alexandre/Arquivo Pessoal)
Lembranças
Rosier ainda se emociona ao lembrar a tragédia do ano passado. “Não é a melhor coisa lembrar disso. É dificil ainda pensar. Você está na montanha e, de repente, pessoas cheias de sonho. Pra doer mais, três eram colegas da minha expedição. Isso foi muito doloroso”. No dia 15 de abril de 2014, um deslizamento de neve, a cerca de 6.200 metros de altitude, atingiu alpinistas, a maioria xerpas nepaleses (guias e auxiliares dos montanhistas), que se deslocavam de um acampamento base I para o II. O cearense estava no campo base I e chegou a fazer registros do resgate. Três xerpas que integravam a equipe de Rosier morreram com a avalanche.
Mesmo com a dor e as lembranças, o montanhista se diz mais preparado para realizar a escalada. “A vida continua, não é por isso que vou me vitimar e me lastimar a vida inteira. Eu tenho medo, inclusive de altura, mas quando eu estou escalando baixa uma entidade em mim. Vem a parte técnica, eu me preparo muito. Mas eu tenho medo, sim, tenho medo de morrer. O fato de haver mortes, faz a gente se preparar mais, fazer um planejamento melhor. Então, não tenha dúvida que isso ajuda bastante. Alguns pessimistas disseram que eu joguei fora a minha expedição. Eu acho que uma experiência e ganhei 10 meses para me preparar mais”, explica.
Na lista dos artigos obrigatórios da bagagem de Rosier, não podem faltar a bandeira do Brasil e do Ceará. Este ano, o montanhista também leva o chapéu de couro de vaqueiro, marca registrada do cearense, e uma bandeira com os nomes de todas as pessoas que o ajudaram para flamular na chegada ao topo do Everest. Os três xerpas que morreram avalanche também serão homenageados. “São nessas pessoas que eu encontro forças. É a forma que eu tenho de agradecer. Mostrar que todos são importantes e que foram para o Everest comigo, literalmente, até o cume”, diz.
Sherpas que morreram são os 2 do centro abaixo e o segundo da direita para esquerda. (Foto: Rosier Alexandre/Arquivo Pessoal)Sherpas que morreram são os 2 do centro abaixo e o segundo da direita para esquerda. (Foto: Rosier Alexandre/Arquivo Pessoal)
A equipe de Rosier Alexandre contará com oito montanhistas, quatro guias americanos, além dos xerpas, cerca de três para cada integrante. Depois da tragédia de 2014, que levou os xerpas a protestarem por melhores condições de trabalho e de vida, segundo o cearense, este ano, as expedições se comprometeram a pagar os seguros de vida de todos os xerpas.
“O governo arrecada 10 mil dólares por montanhista e não faz nada para quem mora próximo à montanha. Falta água, luz. Não há um memorial para xerpas mortos. Com o seguro, no caso de morte, de alguma tragédia, eles precisam ter a garantia que as famílias vão estar abrigadas. O pior de tudo, é que além de perder o marido, o parente, as famílias ainda sofrem com a fome”.
Toda a preparação de Rosier é no Ceará. “O frio não é o problema na montanha. O grande desafio é preparar os músculos que eu vou trabalhar na montanha. Mesmo que o montanhista more no pé da montanha, ele precisa passar pela aclimatação”. Em Fortaleza, Rosier é acompanhado por médicos, nutricionista e preparadores físicos. Na academia, ele treina pelo duas horas por dia. “Eu digo o que eu sinto quando estou escalado, quais os músculos eu sinto mais. Com isso, eles fazem uma preparação para a montanha. Às vezes, viajo para fazer cursos técnicos de escalada no gelo”
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