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DEUS ENVIOU O SEU FILHO AO MUNDO

Não foi por medo ou assombro, mas foi com clemência e mansidão.
Por Dom Vital Corbellini*

Introdução
A encarnação do Verbo de Deus, celebrada no Natal, é um mistério do amor de Deus para com a humanidade. O Senhor se fez gente, se fez carne para a nossa salvação. Desde o início do cristianismo tiveram os cristãos apreço e adoração à vinda de Jesus no meio da humanidade. Os padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos colocaram a vinda do Filho de Deus na vida humana como a unidade perfeita para beneficiar o ser humano e ao mesmo tempo como ação divina de exaltação. Tudo é possível para Deus até mesmo se tornar um de nós em tudo, menos o pecado. Vejamos os autores que realçaram o mistério da encarnação. 

1. O Deus invisível tornou-se visível
A Carta a Diogneto(ns. 7-8) faz uma exaltação ao mistério da encarnação do Verbo de Deus. Aquele que é verdadeiramente Senhor e Criador de tudo, o Deus invisível, fez descer a verdade e o Verbo santo, sendo incompreensível aos seres humanos, colocou-o no seu meio, estabelecendo ali a sua morada nos seus corações. Deus não enviou um ser humano, pois esse não poderia salvar a ninguém. Ele não enviou um servo, ou anjo ou ainda um príncipe, ou ainda alguém que pudesse presidir as coisas terrenas ou ainda um encarregado da disposição das habitações celestes, mas o mesmo Autor e Criador do Universo, sendo Salvador, por meio do qual criou os céus e conteve os mares dentro de seus limites(cfr. Sl 103,9).

2. O motivo de sua vinda
Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo? O autor da Carta a Diogneto responde pelo motivo da encarnação do Verbo de Deus: Não foi por medo ou assombro, mas foi com clemência e mansidão, da mesma forma como um rei envia o seu filho rei. Deus enviou o seu Filho como Deus, Redentor, persuasivo, como quem convida, não perseguidor; enviou-o como quem ama, não como juiz(cfr. Jo 3,16-17). 

3. Ele mesmo se manifestou como Deus ao ser humano
Como nenhum ser humano viu a Deus, Ele mesmo se manifestou, dando-se a conhecer na realidade humana(cfr. Jo 1,18). Ele manifestou-se pela graça da fé, a única à qual é consentido ver a Deus. E quem este Deus que se manifestou? O autor da Carta a Diogneto continua o seu discurso afirmando que o Senhor e Criador de tudo, Deus que fez todas as coisas e julga segundo a ordem, não só foi amigo dos seres humanos, mas se manifestou como longânime, cheio de amor para conosco. Ele também tem presentes atributos ao Senhor Deus como ótimo, bondoso, tolerante, e verdadeiro; na realidade só Ele é bom(cfr. Mt 19,17).

4. O plano de Deus inefável comunicado ao Filho
Tendo traçado um grande e inefável plano, Deus o comunicou só ao Filho. O autor afirma que enquanto o conservava em mistério e guardado no seu sábio desígnio, parecia não interessar-se e despreocupado a nosso respeito. Mas quando o revelou através o seu Filho amado e o manifestou aquilo que desde o início foi preparado, concedeu-nos simultaneamente tudo: participar de seus dons, benefícios, ver as coisas e compreendê-las no seu devido amor infinito. Tudo foi feito pela presença do Filho de Deus na carne na qual nós fomos envolvidos e amados. 

5. A encarnação é um fato real
Inácio de Antioquia, Bispo, séculos I e início do II, teve que reforçar o mistério da encarnação diante dos docetistas que negavam a encarnação de Jesus Cristo na realidade humana. Jesus Cristo era da linhagem de Davi, nascido de Maria, que verdadeiramente nasceu, que comeu e bebeu, que foi verdadeiramente perseguido sob Pôncio Pilatos, que foi verdadeiramente crucificado e morreu à vista do céu, da terra dos infernos. Ele realmente ressuscitou dos mortos, pela ação do Pai e também a cada um de nós, que cremos na verdadeira vida. 

6. Jesus Cristo, o recapitulador de todas as coisas
Santo Ireneu, Bispo de Lião(III, 16,6), séculos II e III, afirmou que a encarnação do Verbo de Deus recapitulou todas as coisas. Ele criticou os gnósticos que achavam que a encarnação do Verbo não teria acontecido para o bem da humanidade. Para contrapô-los disse Ireneu que o Verbo Unigênito de Deus, sempre achegado ao gênero humano se uniu intimamente à sua obra pelo beneplácito do Pai e se fez carne(cfr. Jo 1,14), outro não é senão Jesus Cristo Nosso Senhor, que por nós sofreu, ressuscitou e voltará na glória do Pai, para ressuscitar todo o ser humano. Pela encarnação recapitulou em si todas as coisas e todo o ser humano, homem e mulher, criaturas de Deus, porque de invisível, se tornou visível, de incompreensível, inteligível, de impassível, passível, de Verbo, ser humano. 

7. É possível a encarnação do Verbo de Deus? 
Santo Agostinho responde para grupos que achavam impossível Deus vir a este mundo, na qual Ele poderia ter libertado os seres humanos sem a necessidade da encarnação. O Senhor o podia certamente, diz o bispo de Hipona. No entanto se Deus não tivesse aparecido aos dos pecadores, certamente  a sua luz eterna, que se vê com os olhos da interioridade, não seria vista pelas mentes inclinadas e corrompidas pelo pecado. Ora Ele se dignou a instruir-nos visivelmente, de modo que nos levasse às coisas invisíveis, assumindo as coisas do corpo humano, nascido de uma mulher e com infinita paciência suportou as ofensas, foi crucificado, morreu e ressuscitou. Tudo isso graças à sua vinda neste mundo para ser semelhante a nós em tudo, menos o pecado. O Filho de Deus pela sua eternidade assumiu a natureza humana nas suas modificações para nos levar à eternidade. Santo Agostinho convidava as pessoas, sejam homens, sejam mulheres para não desprezar a presença de Deus na humanidade, porque Ele assumiu a natureza humana na sua integridade, dando-lhes vida nova, e um dia a ressurreição da carne. 

Conclusão
Deus enviou o seu Filho ao mundo para a nossa salvação. A sua entrada para a nossa realidade trouxe vida nova, paz e amor. Nós fomos beneficiados pela vida dada no Filho de Deus na carne. Nós somos chamados a acolher a encarnação do Verbo todos os dias para o bem que devemos fazer seja para nós, seja para o mundo e sobretudo em vista da glória de Deus Uno e Trino. Nós adoramos a Deus que se dignou assumir as coisas nossas para elevá-las aos céus. 
CNBB 26-01-2016.
*Dom Vital Corbellini: Bispo de Marabá (PA).

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