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DICAPRIO DESAFIA OS PRÓPRIOS LIMITES EM FILME

O êxito do filme reside numa mistura em dose exata entre o apego ao realismo.
SÃO PAULO (Reuters) - O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu leva ao máximo a habitual visceralidade de seu cinema em “O Regresso”, drama de época estrelado por Leonardo DiCaprio que vem acumulando prêmios e é campeão de indicações ao Oscar (com 12).
Já vencedor do Globo de Ouro e do prêmio do Sindicato dos Atores Norte-Americanos, Leonardo DiCaprio, indicado ao Oscar de ator, vive Hugh Glass, um personagem verídico do século 19 cuja história foi recontada em inúmeros relatos e também num filme de 1971, “Fúria Selvagem”.
O roteiro aqui, assinado pelo diretor Iñárritu e por Mark L. Smith, baseia-se parcialmente no livro de Michael Punke, “The revenant – a novel of revenge”. Guardam-se dessa fonte elementos reais da trajetória de seu protagonista, como um impressionante ataque dos índios Arikara à expedição em busca de peles integrada por Glass e outros homens ao longo do rio Mississippi em 1823; e o ainda mais assustador ataque de uma ursa, ao qual o personagem sobreviveu a duríssimas penas, seguindo uma vingança contra dois companheiros que o abandonaram à morte.
Os roteiristas inventaram um detalhe biográfico que valoriza o aspecto humano de Glass, uma família indígena, da tribo Pawnee. Mas, quando entra na expedição, sua mulher (Grace Dove) há muito já foi morta por soldados. Sobrou-lhe o filho adolescente, Hawk (Forrrest Goodluck), uma permanente fonte de tensão na expedição, atacado pelo racista John Fitzgerald (Tom Hardy).
Depois de sobreviverem, com muitas baixas, ao letal ataque dos Arikaras – que procuram uma das suas integrantes, sequestrado por brancos -, os caçadores de peles escapam num barco com o que puderam pegar. Mas é inevitável que prossigam a pé para escapar dos índios – no barco, eles são alvo fácil. Assim, eles escondem as peles num local na floresta e caminham em terreno acidentado, sobre montanhas cobertas de neve, com as naturais dificuldades de resistir ao frio intenso e encontrar comida.
Seu guia é Glass, profundo conhecedor do território e de total confiança do líder e capitão Andrew Henry (Domhnall Gleeson), para desgosto de Fitzgerald, que resiste à ideia de voltar a pé, deixando as peles para trás.
O violento acidente com a ursa deixa Glass praticamente morto, coberto de feridas, suscetível a infecções. Finalmente, os homens se dividirão, ficando encarregados do ferido seu filho Hawk, Fitzgerald e o jovem Jim Bridger (Will Poulter).
Se o filme é muito sobre o enfrentamento com a natureza destes brutais colonizadores do continente americano, semelhantes aos bandeirantes brasileiros, um eixo fundamental da história será centrado na vingança de Glass – que acaba sendo deixado para morrer. Só que não morre, permitindo à história retratar uma visceral jornada de sobrevivência nas condições mais difíceis – e que foram realmente duras, já que Iñárritu filmou em locações nevadas naturais, entre o Canadá e a Argentina.
A insistência deste realismo nas filmagens provocou inúmeros incidentes, como câmeras congeladas, destruição de equipamentos e exigiu um particular empenho físico do elenco, particularmente do protagonista Leonardo DiCaprio, que fica mais tempo em cena mergulhando em rios gelados e subindo montanhas cobertas de neve, numa temperatura abaixo de zero.
O êxito do filme, no entanto, reside numa mistura em dose exata entre o apego ao realismo e o acirramento das emoções primais deste grupo de homens extremados. “O Regresso” tem a temperatura e o eixo moral de um faroeste e conta com uma dupla de rivais à altura. Tom Hardy nunca foi um malvado tão eficiente e cheio de motivos.
Reuters

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