Pular para o conteúdo principal

A “DIPLOMACIA DA MISERICÓRDIA” CONTRA O RISCO DA GUERRA

Conferência em Roma aborda a difícil situação geopolítica que ameaça a paz
Schermata-2016-01-28-alle-16.38.42
@Servizio Fotografico - L'Osservatore Romano
“Diplomacia da misericórdia” é o título da conferência realizada em 7 de março, em Roma, para aprofundar na difícil situação geopolítica que ameaça a paz. Seus promotores foram mons. Liberio Andreatta, diretor da Obra Romana de Peregrinações, e Carlo Colomba, presidente da academia de formação Infor-Elea.
Foi apresentado no evento um volume do periódico Limes com um título perturbador: “Terceira Guerra Mundial?”. Os participantes do debate foram o presidente do Senado italiano, Pietro Grasso, o diretor da revista jesuíta La Civiltà Cattolica, padre Antonio Spadaro, e o editor da Limes, Lucio Caracciolo. O jornalista Piero Schiavazzi coordenou o debate.
A análise do presidente do Senado partiu da constatação de que “já está em andamento uma terceira guerra mundial travada por pedaços”. A ação diplomática de misericórdia, na opinião de Grasso, é a única maneira de se opor de forma eficaz aos conflitos, que, caso contrário, correm o risco de se tornar incontroláveis. É necessário neutralizar o choque de civilizações, “gerado inclusive por fobias ocidentais”, construindo pontes e valendo-se de personalidades capazes de desenvolver o diálogo. O papa Francisco tem essa capacidade, que ele exerce “em direções inacessíveis e nos lugares mais remotos” no exato momento em que testemunhamos “a dissolução dos lugares políticos e a crise das diplomacias, da qual é sinal claro a situação na União Europeia” .
Ao chamar a uma atitude de “prudência e cautela” sobre possíveis intervenções militares da Itália, Grasso disse que o acolhimento dos refugiados é um “dever legal” para integrar e uma alternativa à cultura da indiferença: referências explícitas ao ensinamento do papa e às iniciativas desenvolvidas pela Igreja para incentivar as modalidades de acolhimento.
Antonio Spadaro focou no magistério e nas ações do papa Francisco voltadas a levar à diplomacia internacional uma contribuição de misericórdia, a fim de valorizar o potencial disruptivo da solidariedade: “A misericórdia, para Francisco, se coloca em um caminho dramático e, ao mesmo tempo, terapêutico. Sua visão militante do mundo como campo de batalha leva a identificar a Igreja como um hospital de campanha”. A radicalidade de Francisco propõe o valor salvífico da misericórdia contra a falta de justiça e liberdade. Consequentemente, mesmo nos contextos mais difíceis e nas situações fisicamente mais distantes, podem-se tomar medidas positivas em defesa dos fracos e da paz.
“O realismo não determinista do papa leva a considerar que tudo é possível e nada está perdido”: esta consciência e esperança, prosseguiu o diretor de La Civiltà Cattolica, impulsionam a ação de Francisco “sem projetos pré-concebidos, numa incompletude que é eficazmente representada pelas imagens das portas santas espalhadas por todo o mundo”.
Francisco invoca “serviço universal da Igreja na defesa dos mais fracos”. Nada poderia estar mais longe do fundamentalismo, concluiu Spadaro: “A renúncia a construir a cidade de Deus na terra leva a consequências também de natureza política com a superação dos partidos de matriz cristã. A misericórdia flui como um rio nos olhos do papa e não precisa de barragens defensivas”.
Também para Lucio Caracciolo é preciso rebelar-se contra a ideia de guerra como necessidade histórica: “é necessário superar as ideologias apocalípticas”, indo além dos esquemas ideológicos e até mesmo “além do Ocidente”. A ação do papa vai precisamente nessa direção. “Nós pusemos um ponto de interrogação no título do nosso volume (Terceira Guerra Mundial?) porque a guerra pode ser evitada e só depende de nós. Este é o ensinamento do papa Francisco, que envolve crentes e não crentes e conta com muita aderência dos jovens “, concluiu o diretor da Limes.
Uma abordagem diferente e ainda assim coincidente foi oferecida por Carlo Colomba: “A misericórdia pode traduzir a compaixão em ação e em atividades de importância econômica, possíveis de transformar em ferramentas de desenvolvimento e de melhora da vida de muitíssimas pessoas. Uma formação adequada pode empurrar nessa direção”.
Após o encontro, mons. Liberio Andreatta doou a Grasso um tijolo da Porta Santa de São João de Latrão como símbolo para aqueles que “detêm responsabilidade especial”.
Ultrapassar limites através da misericórdia pode, e deve, ser obra de todos, recordou mons. Andreatta citando a bula de proclamação do Jubileu extraordinário. A misericórdia, ao transmitir um “valor que vai muito além das fronteiras da Igreja”, pode estimular uma diplomacia profética. Contra a resignação à guerra, valham as palavras inspiradas do papa Francisco durante a sua recente visita ao Estado mexicano de Chiapas: “A alvorada veio para todas as tribos reunidas. A face da terra foi iluminada pelo sol”. Zenit

Comentários