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A SITUAÇÃO DO BRASIL OBJETIVAMENTE É GRAVE, AFIRMOU PE. JOÃZINHO, SCJ

ZENIT entrevista o Pe. Joãozinho, SCJ, a respeito da tremenda crise política que assola o país nesse momento
Pe. Joãozinho, SCJ
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff nomeou ministro o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, investigado na operação lava jato. Na tarde de ontem o juiz encarregado pela maior operação anti-corrupção do país, Sergio Moro, derrubou o sigilo e divulgou grampo de ligação entre Lula e Dilma, que trouxe para conhecimento de todos os cidadãos revelações sobre as possíveis intenções dessa nomeação feita às pressas: fugir das investigações e buscar foro privilegiado.
Tais fatos unidos à  insatisfação geral do povo levou novamente a população brasileira, de forma espontânea, às ruas de todo o país, pedindo a prisão do ex-presidente, apoiando a operação lava-jato e pedindo a renúncia da presidente Dilma Roussef.
Qual a posição da Igreja católica diante dessa situação de tremenda crise política? O sacerdote Padre Joãzinho, SCJ, acaba de responder à algumas das nossas perguntas. Acompanhe abaixo:
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ZENIT: Qual deveria ser, na sua opinião, a atitude dos sacerdotes do Brasil perante a conjuntura política atual do país? Só um bispo se pronunciou ontem pelo facebook, Dom Henrique Soares.
Pe. Joãozinho: Em primeiro lugar é preciso estar atento aos fatos e procurando fontes seguras de informação. O perigo neste momento é deixar-se levar pela paixão. Mas objetivamente a situação é grave. A crise política criou o cenário ideal para o desenvolvimento da crise econômica que acabou se agravando em crise financeira. Mas no fundo de tudo está uma crise moral. O Brasil é forçado a olhar no espelho e ver a sua história de corrupção que toma nossas instituições de alto a baixo. Mas isso não resiste à aplicação formal da lei. Neste momento em que o Executivo e o Legislativo estão completamente perdidos e desmoralizados, o judiciário exerce seu papel gerando um pouco de esperança. Precisamos apoiar  decididamente o judiciário.
ZENIT: Como a Igreja Católica no Brasil pode ajudar nesse processo de conscientização política da população? 
Pe. Joãozinho: Uma manifestação clara da CNBB pode ajudar. Mas penso que a postura dos bispos e padres de modo capilarizado é mais eficaz. É missão do cristão atuar como luz do mundo e sal da terra. Hoje existe um vácuo de poder. Sabemos que o que está aí não nos agrada. Mas existe um projeto de país? Qual é? Que lideranças estamos preparando para assumir nossas prefeituras, câmaras… etc. É preciso promover a formação de lideres íntegros que possam assumir o país nos próximos anos. Quem vai à Igreja “só” para rezar não rezará. A mística sem a militância é estéril e cínica.
ZENIT: Um sacerdote, um clérigo, não é, sem dúvida um agente público de nenhum governo, mas, ainda assim, ele tem alguma função política em uma nação, ou só rezar? 
Pe. Joãozinho: Tenho RG, CPF e Título de Eleitor. Pago Imposto de Renda. Sou um cidadão livre. Se eu falar demais pode deixar que meu superior religioso e meu bispo irá me advertir. É preciso deixar claro quando você fala em nome próprio e quando fala em nome da Igreja. Para exprimir posições políticas uso minha mídia própria: Twitter, Face, etc. Você não me ouvirá manifestar posições político partidárias em uma homilia ou em um canal de TV.
ZENIT: Como cidadãos, na sua opinião, os clérigos deveriam apoiar o povo nessa hora? Como? 
Pe. Joãozinho: O padre é casado com o povo. Não pode deixar o povo só. Tem que ouvir e ajudar a discernir.
ZENIT: O que significa a paz? Só uma ausência de guerra? 
Paz é equilíbrio vital. É recuperar a graça original. O pecado corrompeu a humanidade. É preciso restaurar, reparar, recuperar a dignidade. A construção da paz passa pela não-violência ativa. Precisamos superar o “olho por olho” e promover a cultura do diálogo: do “olho no olho”!
ZENIT: Que mensagem você daria, como sacerdote, aos brasileiros, nesse momento político único e inédito que estamos vivendo?
Pe. Joãozinho: Após as tragédias políticas de ontem só consigo pensar na regra de discernimento da primeira semana dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio: “O inimigo age como um sedutor, ao querer ficar oculto e não ser descoberto. pois o homem corrupto, quando solicita por palavras para um fim mau a filha de um pai honrado ou a mulher de um bom marido, quer que suas palavras e insinuações fiquem em segredo. Ao contrário muito se descontenta quando a filha revela ao pai ou a mulher ao marido suas palavras sedutoras e intenção depravada, pois facilmente conclui que não poderá levar a termo o empreendimento começado. Da mesma mesma forma, quando o inimigo da natureza humana apresenta suas astúcias e insinuações à alma justa, quer e deseja que sejam recebidas e guardadas em segredo. Mas quando a pessoa tentada as descobre a seu bom confessor ou a outra pessoa espiritual, que conheça seus enganos e malícias, isso lhe causa grande pesar, porque conclui que não poderá realizar o mal que começara, uma vez que foram descobertos seus enganos evidentes.” (Santo Inácio de Loyola 1491-1556).
Zenit

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