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PAIXÃO DE CRISTO: A MAIOR HISTÓRIA DE AMOR

Paixão de Cristo: a maior história de amor de todos os tempos 

(Salvador, BA) - Os últimos passos de Jesus no plano terreno ocorrem no período conhecido como Semana Santa. É quando se sucedem os fatos que demonstram o ponto alto do amor de Deus pela humanidade, ao entregar o próprio Filho para salvá-la. Trata-se do momento na História em que se abre um novo horizonte para o mundo, com a vitória da vida sobre a morte, através da Ressurreição do Senhor.
Cronologicamente, esse tempo começa a partir da entrada de Jesus em Jerusalém, onde foi aclamado com um gesto que identifica o Domingo de Ramos: as pessoas cortaram ramagens de árvores e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Ele passaria, montado num jumento. A atitude era um sinal de reverência daquele povo que o recebia em festa, reconhecendo assim o Messias. “É o início de uma semana que começa alegre e festiva, depois conhece a tristeza e a morte e, por fim, a glória de Deus”, explica o padre Jurandi Dantas.
A descrição feita pelo pároco da paróquia Deus Menino ocorre porque Jesus sofreria o martírio na mesma cidade onde entrou em montaria humilde – em vez de usar um cavalo, transporte de nobres –, com acusações apoiadas e replicadas posteriormente pela mesma multidão que o enalteceu poucos dias antes. O impacto da chegada do Filho de Deus a Jerusalém despertou inveja nos sacerdotes e mestres da lei. O medo de perder o poder foi o ponto de partida para a condenação de Jesus à morte na cruz. Para o padre Jurandi Dantas, “além da humildade que somos convidados a viver, o Domingo de Ramos evoca a certeza de que devemos esperar e confiar sempre em Deus, porque no fim triunfaremos”.

A Semana Santa e seus significados
Na Segunda-feira Santa, celebra-se a purificação do templo por Jesus. O trecho refere-se à expulsão de comerciantes que vendiam bois, ovelhas e pombas no espaço sagrado, para mostrar-lhes que a Casa do Pai não pode ser transformada em local de negócios. O entendimento da purificação pode ser expandido para a purificação do corpo e do espírito de todas as impurezas que nos distanciam de Deus.
A Terça-feira Santa reflete o momento em que Jesus descreve aos discípulos a futura destruição de Jerusalém, deixando-os conscientes de que haveria guerras e desastres naturais, o que não representaria o fim. Nessa passagem, Ele também alerta sobre falsos profetas que apareceriam e usariam Seu nome.
A liturgia da Quarta-feira Santa remete à traição de Jesus por Judas, que o entregou aos sacerdotes por trinta moedas de prata. Nesse dia, é proposta a reflexão sobre a quem desejamos servir. É uma leitura que faz pensar sobre as prioridades de cada um, principalmente no que se refere ao peso atribuído à riqueza e às relações de poder que estabelecem diferenças sociais e pobreza.
A Quinta-feira Santa celebra a instituição da Santa Ceia e lembra a agonia de Jesus no jardim do Getsêmani, onde costumava orar e se reunir com os discípulos. Nesse dia havia levado Pedro, Tiago e João para o local e, sabendo que seria torturado e crucificado, entrou em profunda agonia, sendo tomado por grande tristeza. É na quinta-feira que se recorda também como Jesus lavou os pés de seus discípulos.
“O rito do Lava-pés desenvolve-se na Missa vespertina da Quinta-feira Santa. Na celebração da Santa Ceia, Jesus inclina-se, abaixa-se. Ele, o Senhor e Deus, lava os pés de seus discípulos, num gesto lindo e cheio de simbolismo, que deve ser seguido por nós para encontrarmos o Senhor na sua glória e concretude”, explica o padre Jurandi Dantas, que detalha ainda o significado da celebração dos Santos Óleos no mesmo dia. “Na linda manhã da Quinta-feira Santa, o bispo reúne o clero e o povo de Deus na catedral basílica e abençoa os óleos do batismo, crisma e enfermos. É a oração da Igreja por todos os que neste ano nela nascerão ou serão crismados, ordenados sacerdotes, bispos. Oração também por aqueles que no momento de dor e sofrimento serão ungidos para que sua saúde seja restaurada, seus pecados perdoados e possam continuar na presença do Senhor”, esclarece.
A Sexta-Feira Santa é o dia em que se revive a crucificação e a morte de Jesus. É o único dia no ano em que não há celebração da Missa. Em vez disso, ocorre a Celebração da Paixão e Morte do Senhor, que consiste na Liturgia da Palavra, Oração Universal, adoração da Santa Cruz e Comunhão Eucarística. “A adoração da Santa Cruz é um momento único. Naquela fila entramos. Não é uma procissão que nos cansa fisicamente, porque é curta, mas ao mesmo tempo intensa, cheia de significado. O Cristo que para o calvário caminhou com nossa cruz nas costas, morto, é adorado, e o nosso coração nos diz: ‘Do túmulo Ele, vivo, se levantará’”, explica o padre Jurandi Dantas.
O Sábado Santo (Sábado de Aleluia) antecede a celebração da Páscoa e tem como principal celebração a Vigília Pascal, fazendo memória à noite da Ressurreição do Senhor Jesus Cristo. É a principal vigília do ano, porque marca a espera da vitória de Jesus sobre a morte. De acordo com padre Jurandi Dantas, “a Paixão de Cristo não pode ser nunca desencarnada. Nesses dias vivemos um memorial que traz para o presente o maior gesto humano da história: o Deus que se encarnou deixa-se imolar por nós. É vítima pascal redentora da humanidade inteira. Por isso, ao celebrar nesses dias tão grande e espetacular mistério, olhemos em torno de nós e na nossa vida que a Paixão e Morte de Cristo continuam em cada irmão que sofre, em cada criação de Deus destruída”, reflete.
O “Domingo de Páscoa” celebra a Ressurreição de Jesus Cristo. Condenado à morte na cruz e sepultado, ressuscitou três dias após, num domingo, logo depois da Páscoa judaica. A ressurreição de Jesus Cristo é o ponto central e mais importante da fé cristã. Através da sua ressurreição, Jesus prova que a morte não é o fim e que Ele é verdadeiramente o Filho de Deus.


Contexto histórico

À época da Paixão de Cristo, a Judeia vivia um contexto de efervescência social e política. No ano 63 a.C., o domínio romano, posteriormente reforçado com o governo de Herodes, o Grande, se consolidava no amplo processo de construção do Império pós-era republicana. De acordo com o professor de História Vinícius Oliveira, “a ocupação das tropas romanas que buscavam garantir a ordem pública é um demonstrativo da atmosfera de tensão entre as diversas tendências políticas e religiosas coexistentes”, contextualiza.
Ele explica ainda que muitos judeus não aceitavam submeter-se a Roma, nem pagar seus impostos. “Era marcante a esperança na vinda de um Messias, capaz de governar os judeus sem interferência estrangeira. No entanto, a comunidade judaica não era unânime, e as várias posições levavam a reações diversas e conflitos internos”, observa. A essas disputas somava-se o fato de a região ser bastante movimentada por rotas comerciais e tradicionais peregrinações a Jerusalém, tanto de judeus da Palestina quanto dos que viviam dispersos no mundo mediterrâneo desde os tempos da Diáspora.
Após a morte do rei Arquelau, filho de Herodes, o Grande, Roma decidiu transformar a Judeia em uma província submetida diretamente a um procurador nomeado pelo Império. De acordo com o professor Vinícius Oliveira, “essa decisão muito provavelmente guarda relação com o alto grau de agitação política da região”. Já na terra em que Jesus viveu, a Galileia, o governo continuou nas mãos do tetrarca Herodes Antipas, conforme estabelecido pelo testamento de seu pai. Segundo historiadores da época, a exemplo de Flavio Josefo e Fílon de Alexandria, Pôncio Pilatos, então procurador do Império Romano, era considerado um inimigo dos judeus, não respeitando os direitos garantidos por Roma à comunidade religiosa judia. Sua tarefa era manter a tranquilidade pública e preservar os interesses do Império.
O historiador Vinícius Oliveira lembra que o Sinédrio, autoridade religiosa ligada ao Templo, desejava combater tendências religiosas que parecessem ameaçar o relativo equilíbrio conseguido nos tempos romanos, já que a prática religiosa judaica era, à época, tolerada por César. “Outras correntes, a exemplo dos essênios e dos zelotes, eram contrárias ao domínio romano. Os primeiros tendiam ao isolamento e ao radical ascetismo, enquanto os últimos reagiram violentamente à presença romana, criando milícias e realizando saques às caravanas de comércio”, aponta.
SIR

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