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VIDA NOVA

Jesus adverte para não julgarmos para não sermos julgados.
Por Dom José Alberto Moura*
A pecadora pública foi levada a Jesus para Ele dizer se deveria ser apedrejada, conforme a lei dos judeus, ou ser perdoada. Jesus devolve a questão para os denunciantes. De fato, é fácil pedir o arbítrio dos outros para condenar sua decisão e livrar-se de um julgamento justo. No meio da multidão muitos procuram o ajuizamento sem se colocar no lugar da pessoa que é julgada.
O Mestre não quis simplesmente aplicar a lei com a justiça humana. Esta simplesmente julga conforme o papel ou o que está escrito. A justiça que realmente faz justiça olha a pessoa, a sociedade e o bem maior de todos. A justiça humana é demais frágil. Nem sempre acerta com o fazimento do que realmente é justo, inclusive pela demora de seu arbítrio, que acaba injustiçando ainda mais quem já é injustiçado! A justiça brasileira precisa ser passada a limpo.
No que tange ao julgamento dos outros, Jesus adverte para não julgarmos para não sermos julgados. A justiça dele é misericordiosa, ou seja, não faz dar-se o que a pessoa merece, mas o que ela precisa. Por isso, não se quer simplesmente a impunidade. Mas se faz todo o possível para renovar a pessoa a partir de seu coração. Não adianta simplesmente colocar a pessoa na prisão. É preciso dar-lhe condição do aprendizado para ela exercer a cidadania, que a envolve no serviço ao bem comum. A punição deve ser educativa e corretiva, para a pessoa sair da condição de fechamento pessoal e contribuir com a convivência social de benefício ao bem do semelhante.
Diante da pecadora pública Jesus lembrou que não basta matar quem infringe a lei. É preciso fazê-la mudar de vida e cooperar com o bem moral e social. Tocar o coração faz a pessoa converter-se, como o caso acima apresentado a Jesus. O perdão faz parte da correção, quando a pessoa infratora quer viver a vida nova do amor. Vale muito mais o perdão de Deus, quando a pessoa se converte, do que mil penitências, pois, o Senhor toca o coração a ponto de fazê-lo ser promotor de vida. Vejamos, por exemplo, o perdão de Jesus a Paulo no caminho de Damasco. Foi instantânea sua conversão em contato direto com o Mestre.
Precisamos de trabalhar pela evangelização, que faz os corações mais empedernidos se mudarem para a vida nova em Cristo. Nas prisões valem, muitas vezes, mais a evangelização do que a penalização por anos das pessoas infratoras. Se não se tocar o coração com o amor de Deus, as pessoas se endurecem e se tornam piores do que antes. As prisões se tornam escolas de pós graduação no crime. As prisões precisam, então, ser modificadas, pois, a bestialidade humana, desumana, se torna progressiva. É preciso domar o animal com o aconchego da graça e do amor de Deus, que é misericordioso e ilimitado.
Neste tempo quaresmal somos instados à conversão, para também sabermos perdoar e amar, como Jesus manifestou a todos, diante da pecadora pública. “Eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos... Jesus lhe disse (à pecadora): ‘Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais’”(João 8,9.10).
Saber que Deus nos perdoou é extremamente jubiloso e libertador. Mesmo quem se encontra em enroscos ou problemas demasiado grandes, sabe que a chave da felicidade e alegria está na bondade e misericórdia do Senhor. O mais, com o tempo se resolve!
CNBB, 09-03-2016.
*Dom José Alberto Moura: Arcebispo de Montes Claros (MG).

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