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DIA DA MENTIRA


Grecianny Carvalho Cordeiro*

Escrevo esse artigo no dia Primeiro de Abril, também conhecido como o Dia da Mentira.

Na infância, o Dia da Mentira é marcado por brincadeiras inocentes, do tipo: sua mãe está chamando, quando não está; hoje não terá aula, e terá; vou me mudar de cidade, e não vou; fulano vai ter pegar na saída, e não vai...
Na adolescência, o Dia da Mentira se reveste de um pouco mais de criatividade e poderia dizer, um pouco até de maldade: fulana quer namorar contigo, e não quer; hoje vai ter jogo de futebol na casa do amigo, e não terá; vai ter avaliação de matemática, e não vai, etc.

Na fase adulta, descobri que o Dia da Mentira são todos os dias. E todos mentem, principalmente aquele que diz que nunca mente. E mentira necessariamente não precisa de palavras, pode-se mentir através de gestos, por meio de um simples olhar.

Para aqueles que nunca mentem, nunca tiveram a experiência de “orientar” o filho pequeno para que receber a roupa dada de presente de aniversário pelos avós e tios com alegria e satisfação? Ou nunca sustentaram enquanto puderam a existência do Papai Noel e do Coelhinho da Páscoa? Ou nunca mandaram dizer que não estavam quando o telefone tocava à sua procura, bem ao lado? Ou nunca inventaram uma doença para não ir a um compromisso considerado chato, para o qual não estavam dispostos ou interessados? Parabéns. Você não existe.

As propagandas publicitárias nos lançam mentiras de forma constante. Duvida? Aquele sanduíche que você vê na televisão é o mesmo quando compra no fast food? Aquele maravilhoso creme antirrugas te deixa sem uma ruga sequer com o passar dos anos? Aquele sabão em pó deixa tua roupa manchada, alva como uma nuvem? Aquele biscoito achocolatado tem todos os nutrientes de um alimento saudável?

E as propagandas político-partidárias? Os políticos aparecem na televisão para dizer que lutam por um Brasil melhor, que vão erradicar a fome, a miséria, a insegurança, que vão resolver os problemas da saúde, mesmo já tendo exercido diversos mandatos e nunca tendo feito nada para resolver ou amenizar a crítica situação dessas questões tão complexas. Dizem que são contra a corrupção quando nela estão envolvidos até a borda. Dizem que são contra ou a favor de algo e nunca se cumprem suas plataformas eleitorais. São sempre os mesmos discursos, as mesmas falácias. Você discorda?

A imprensa também não fica atrás. A verdade (ou mentira?) jornalística tem várias faces e pode variar de acordo com a linha editorial do veículo de comunicação ou com as verbas públicas destinadas às chamadas matérias pagas. Às vezes a mentira vem de forma sutil, às vezes escancarada.  

E assim vamos vivendo, entre mentiras e verdades, porque ambas possuem diversas faces, tudo dependerá do como as vemos e de como queremos que sejam vistas.

A grande verdade é que nosso corpo, nossas mãos, nossos olhos, nossos gestos falam, nos entregam quando estamos falando a verdade ou mentindo. Basta prestarmos atenção. Observe.
*Promotora de Justiça, Escritora e presidente da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza

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