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A MÍDIA E DONALD TRUMP

Ilustração de Marguerita Bornstein
Ilustração de Marguerita Bornstein
Por Lev Chaim*
Foi a mídia quem fez Donald Trump popular? Uma interessante pergunta, sem dúvida, mas foram duas as respostas, aparentemente antagônicas, publicadas na revista holandesa 360, numa mesma página: sim e não. O ‘sim’ foi do colunista do jornal The New York Times, Nicholas Kristof, vencedor de dois prêmios de imprensa Pullitzer. O ‘não’ foi de uma outra estrela do jornalismo norte-americano, também vencedor do prêmio Pullitzer, Eugene Robinson, do jornal The Washington Post.
O primeiro colunista lembrou que a mídia colocou Trump muitas vezes no ar, sem se incomodar com perguntas críticas e ligadas aos fatos reais, deixando-o solto com suas micagens, como se ele fosse um palhaço e com um roteiro próprio. E segundo ainda Kristof, esta mesma mídia, a primeira vista, não o levou a sério e achou que todos fariam o mesmo. Suas palavras: “Falamos muito com senadores e governantes, mas nos esquecemos totalmente de olhar para a população desempregada e insatisfeita do país, que viu em Trump a sua revanche para se vingar do status quo.
Já o colunista do The Washington Post, Eugene Robinson, pensa que a mídia é um meio de comunicação que procura tirar o melhor proveito de tudo, inclusive das apresentações do candidato Donald Trump. Ele acha que se a grande maioria dos Republicanos não o tivesse aceito desde o início, ele já teria desistido de sua campanha. Ele acredita que jogar a culpa na mídia é negar o grande eleitorado carente que o está apoiando, como se Trump fosse uma tábua de salvação e, com isto, o fizeram grande.
Dois brilhantes colunistas, de dois dos mais importantes jornais dos Estados Unidos. Mas analisando os fatos com calma, pode-se dizer que, de uma certa forma, os dois têm razão. Trump foi feito pela grande pela mídia que não o soube manejar e nem foi crítica, como, por exemplo, mostrar os insucessos empresariais deste homem de negócios que gosta de alardear o fato de ser bilionário. Como também acredito que o colunista do The Washington Post tem razão quando ele lembrou a desunião inicial do partido Republicano quanto a candidatura de Trump.
Portanto, com essas duas colunas, lado a lado, pode-se constatar que houve falhas de muitos lados, pegos de surpresa pelo tipo de campanha feita por Trump, onde ele fala os maiores descalabros e vende uma imagem falsa aos descontentes da sociedade norte-americana: a de ser um pássaro livre que não depende de ninguém para chegar à presidência, nem mesmo de seus companheiros de partido. Resta agora aos colunistas, jornalistas, à mídia e todos os republicanos, unidos, acharem uma fórmula para desmistificar essa imagem que Trump construiu, sem pensar seriamente no futuro político de seu país, tal qual espelha muito bem a ilustração de Marguerita Bornstein, ao desenhar Trump enchendo um balão de ar, nada mais. 
O resto ficará para a candidata democrata, Hillary Clinton, para acabar de vez com as pretensões deste bilionário megalomaníaco, que não tem a mínima ideia do que seja a vida política em Washington. Hillary, ainda desafiada nas primárias pelo colega da esquerda democrata, Ben Sanders, no final, estará agora muito mais apta para olhar melhor os mais fracos da sociedade norte-americana, após vencer definitivamente a nomeação de seu partido Democrata à presidência.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Domtotal.

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