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DOIS ANOS DA CANONIZAÇÃO DE JOÃO PAULO II

Seridião Correia Montenegro*
Quando o Papa João Paulo II faleceu em 02 de abril de 2005, eu já o considerava santo, embora sua beatificação somente tenha ocorrido em 1º de maio de 2011, e a canonização em 27 de abril de 2014. Na verdade, a grande maioria das pessoas já o considerava santo, principalmente os que vinham estudando a vida e os milagres desse verdadeiro apóstolo de Cristo. Na esteira de uma vida em que semeou infindáveis grãos de fé nos destinos do homem e abundantes sementes de esperança na construção de um mundo melhor e mais justo, João Paulo II criou condições espirituais amplamente favoráveis à universalização da colheita dos frutos do amor incondicional a Deus e do amor, desinteressado e fraterno, ao próximo. Na longa caminhada de seu pontificado de quase 27 anos, com muita humildade e discrição, sempre movido por imensurável sentimento de piedade cristã, João Paulo II realizou inúmeros milagres, que procurava ocultar dos representantes da mídia e do público em geral, proibindo a divulgação dessas manifestações da providência divina, operadas por seu intermédio. Em sua convivência pessoal com os que dele se aproximavam, para curar os males do corpo ou aliviar as aflições da alma, buscava infundir-lhes na mente a confiança que tinha transmitido ao mundo nas primeiras palavras pronunciadas por ocasião de sua posse, no longínquo 16 de outubro de 1978: “Non abbiate paura!” – Não tenhais medo! Essas palavras tão singelas significavam: Abri as portas do vosso coração a Cristo e confiai nele!
O jornalista e correspondente alemão no Vaticano Andreas Englisch, que, por quase 20 anos conviveu de perto com o Papa João Paulo II em sua trajetória apostólica, afirma que Karol Wojtyla possuía capacidades e dons especiais, sobre os quais nunca quis que se escrevesse ou falasse, exigindo sigilo de todas as testemunhas das curas e dos milagres que iam se sucedendo ao longo de seu pontificado. Sempre dizia que o que acontecia ao seu redor não era obra sua, mas de Deus. Após a beatificação, o jornalista alemão se sentiu liberado do compromisso do sigilo e publicou o livro “O Papa dos Milagres – João Paulo II”, em que divulgou o resultado das pesquisas e investigações que fez sobre os milagres realizados pelo papa polonês, durante o período em que ocupou a cadeira de São Pedro. Muitos desconhecem que os milagres realizados em vida não são considerados no processo de beatificação. Para a admissão à honra dos altares, a avaliação dos homens tem que ser necessariamente chancelada pelo selo divino – o milagre após a morte. Foi o que aconteceu com a religiosa francesa Marie Simon Pierre Normand, curada da doença de Parkinson, fato comprovado por documentação médico-científica no inquérito canônico. Os peritos da Consulta Médica da Congregação para as Causas dos Santos confirmaram ser inexplicável o desaparecimento da enfermidade. Indispensável também à beatificação, mediante avaliação teológica do caso, foi a evidente e unânime constatação da intercessão de João Paulo II para a cura. Além desses, foram plenamente atendidos os demais requisitos, com a insofismável comprovação de que Karol Wojtyla tinha a posse heroica das virtudes da fé, da esperança, da caridade, da prudência, da justiça, da fortaleza, da temperança, da castidade, da pobreza e da obediência. 
Vou narrar apenas dois, entre os inúmeros milagres realizados por João Paulo II durante sua vida, objeto dos relatos do correspondente alemão no Vaticano. O jovem padre Andrea Palamides cuidava em Roma de jovens com graves problemas de envolvimento com drogas, ajudando-os a se livrarem do vício. No dia 21 de dezembro de 1993, depois de estacionar o carro na Via degli Annibali, o padre foi atacado por alguns marginais que o espancaram brutalmente. Por causa das pancadas e ferimentos na cabeça, perdeu a visão. Dois anos depois, D. Andrea foi recebido pelo Papa João Paulo II, que, no final da audiência, disse que rezaria por ele. D. Andrea sempre celebrava na Igreja Santa Maria del Monti, com óculos escuros, interligado a outro padre através de fone de ouvido. Às vezes se encarregava de fazer o sermão durante a missa. Movimentava-se na Igreja com a ajuda de uma bengala ou apoiado em alguém. Certo dia, pouco tempo depois da audiência com o Papa João Paulo II, na noite de Páscoa, D. Andrea rezou a missa com D. Gino d’Anna, que, após a celebração, pediu a alguns fiéis que distribuíssem os panfletos para a festa da paróquia, marcada para 26 de maio (1995). Num dado momento, o padre Andrea Palamides saiu tranquilamente do altar para a sacristia, sem utilizar a bengala. Ali tirou os óculos escuros, olhou para uma jovem, de nome Ilária, que tinha ajudado a missa, e disse: “Posso te ver”.  Logo D. Gino correu para a sacristia e depois saiu novamente da igreja e disse em voz alta: D. Andrea voltou a enxergar. Os médicos oftalmologistas, que o assistiam há dezoito meses, tinham atestado que o paciente não tinha a menor chance de cura. Todos os que testemunharam o fato atribuíram a cura milagrosa à intercessão do Papa João Paulo II.
O segundo milagre:
Um judeu de Nova York muito rico, em estado terminal, escreveu para o Papa dizendo que lhe restavam dois desejos na vida: encontrar o papa e depois morrer em Jerusalém. João Paulo II concordou em receber logo o velho e moribundo judeu. Fazia pouco tempo que havia pedido perdão aos judeus, no Memorial do Holocausto e no Muro das Lamentações, pelo que os cristãos lhes fizeram. Quando o homem chegou a Castel Gandolfo de maca, o papa o convidou para a missa e o enfermo foi levado para a capela privada do palácio. O judeu participou da celebração da missa. No momento da comunhão, o papa lhe ofereceu a hóstia consagrada e o judeu a aceitou. O Cardeal Dom Stanislaw Dziwisz, secretário particular do papa João Paulo II, ao se despedir do doente, o censurou por não ter recusado a comunhão, já que não era batizado, mas o judeu não deu atenção à censura e, em seguida, viajou com seu médico para Jerusalém, para morrer na sua terra natal. Alguns meses depois, o velho judeu entrou em contato com o jornalista Andreas Englisch, para informar que estava curado de sua doença fatal e irreversível. O Cardeal Dom Stanislaw Dziwisz relatou ao papa a cura pela hóstia consagrada e Karol Wojtyla disse apenas: “sempre fico feliz em ver quantas grandes ações Deus pode realizar”. E acrescentou: “sou profundamente grato aos irmãos maiores dos cristãos, os judeus”.
Decorridos dois anos da canonização de João Paulo II, nos sentimos profundamente felizes de poder reverenciar esse Santo, que soube, com simplicidade e com amor, indicar à humanidade os caminhos que conduzem à felicidade.
*Procurador Fazendário, escritor e ex-presidente da Academia Metropolitana de Fortaleza 

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