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ENTREVISTA SOBRE O LAICATO

"A maturidade do laicato tem uma proporcionalidade com a maturidade do clero".
Sem uma conversão pastoral não alcançaremos uma realidade eclesial com protagonismo dos leigos.
Sem uma conversão pastoral não alcançaremos uma realidade eclesial com protagonismo dos leigos.
Aconteceu, entre os dias 06 e 15 de abril, a 54ª Assembleia Geral dos Bispos, da CNBB. O assunto principal foi sobre o papel dos leigos e leigas na Igreja. Qual foi o clima da discussão entre os bispos, a este respeito, e quais as linhas gerais destacadas?
João Justino de Medeiros Silva (*): O tema central da 54ª Assembleia dos Bispos foi o laicato e estava assim formulado: “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade. Sal da terra e luz do mundo”. Os diálogos, escutas e trabalhos em grupo foram muito fraternos. Os bispos tiveram oportunidade de considerar seja o texto no seu conjunto seja sobre pontos específicos. Após mais de dois anos de intenso trabalho da comissão responsável pelo tema e dos bispos, finalmente o texto foi aprovado na sessão do dia 13 de abril. Dois acentos podem ser encontrados no texto. 1) A insistência na vocação do cristão leigo/a no horizonte da valorização do sacerdócio comum dos fiéis segundo o ensinamento do Vaticano II; 2) A insistência na atuação dos/as leigos/as na sociedade superando a tentação de um agir apenas intra-eclesial.
O Concílio Vaticano II propõe um olhar a respeito da Igreja, que volta às fontes do cristianismo. Um exemplo disso é a categoria de Povo de Deus, resgatada por esse Concílio. No entanto, o protagonismo dos leigos e leigas ainda não corresponde, integralmente, às inspirações do Concílio. Qual conversão pastoral é necessária para mudar essa realidade?
Esta é uma tarefa urgente. Pessoalmente considero que a Igreja vive numa contradição: de um lado tem uma imensa maioria de leigos/as e, sobretudo, pela atuação desses realiza sua missão; de outro lado essa imensa maioria não é devidamente valorizada e pouco ou nada considerada quando se trata de tomada de decisões. Um passo de grande importância seria a real atuação dos Conselhos Pastorais com o reconhecimento da maturidade dos/as leigos/as nas decisões. Lembre-se que muitas das decisões referem-se a projetos que contarão fundamentalmente com a atuação dos/as leigos/as.
Está crescendo, entre os leigos e leigas, o interesse pela formação teológica, para compreensão da própria fé e para qualificar o serviço pastoral na Igreja. Como esse interesse contribui para o processo de tomada de consciência, dos leigos e leigas, da importância do seu protagonismo na missão da Igreja? Como garantir autênticos espaços de participação desses leigos e leigas na dinâmica evangelizadora, não apenas como executores de ações, mas como articuladores da pastoral, em comunhão com o clero?
A formação é um passo decisivo para a maturação do laicato. Pode parecer estranho, mas ousaria dizer que a maturidade do laicato tem uma proporcionalidade com a maturidade do clero. Se em termos de formação acadêmica teológica o clero pode ser mais especializado que o laicato (o que já vem mudando substancialmente), talvez não o seja em termos de práticas e vivências pastorais. Explico-me. Pastoralmente não vejo como considerar o clero mais apto que o laicato, pois na vida das comunidades paroquiais, por exemplo, o laicato responde geralmente ao que o clero propõe. Logo, se há propostas ousadas, como pede Papa Francisco, temos respostas ousadas. Ou o contrário. Também temos visto leigos/as com propostas ousadas. E, por vezes, um clero tímido, estabilizado numa zona de conforto ou mesmo muito atarefado com a pastoral de manutenção. Vejo que o caminho de superação desses impasses é o apoio à formação teológico-pastoral (portanto, bíblica, espiritual, litúrgica, moral) e a organização e funcionamento dos Conselhos Pastorais.
A Arquidiocese de Belo Horizonte vive, ao longo de todo este ano, a 5ª Assembleia do Povo de Deus. Como os leigos e leigas podem se tornar protagonistas da construção de uma pastoral atenta aos sinais dos tempos e, mais especificamente, na elaboração das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Arquidiocese?
Considero que os/as leigos/as precisam assumir mais seu protagonismo na Arquidiocese de Belo Horizonte. Especialmente nas comunidades paroquiais e foranias poderiam ser audaciosos, pró-ativos e críticos. Sei que isso não é fácil. Mas há caminhos. Só não é possível criticar de longe. Isto é, é preciso por as mãos na massa até mesmo para ganhar credibilidade. A 5ª APD poderá ser um caminho novo. Tenho esperanças.
(*) + João Justino de Medeiros Silva
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte

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