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ERÓTICA

domtotal.com
Por Gilmar P. da Silva SJ

Algumas vezes, na Antiguidade, o Eros foi compreendido como uma atração pelo Bem que se dava de modo sensível. No saborear da realidade pelos sentidos, no gosto e atração que se sentia pelas coisas, situações, pessoas, valores etc., estava um desejo pelo Bem supremo do qual tudo participa. Nessa perspectiva, o erótico é o anúncio do Bem supremo experimentado gozosamente nas suas manifestações na realidade.

Tal modo de pensar coloca o erótico dentro de uma relação estética porque se baseia nos modos sensíveis de apreensão do real, naquilo que faz o Bem aparecer, em seu fenômeno. O gozo que se encontra na aparência do Bem não se compara com seu encontro definitivo. E isso dá ao erótico um caráter de parcialidade, já que o objeto do prazer não é em si a fonte da própria delícia. Em suma, em cada ser que se experimenta, usufrui-se daquilo que nele participa do Ser.

Sem buscar a fonte do gozo fora das próprias coisas, pode-se falar que o erótico é marcado por certa parcialidade sim. O outro que se experimenta não está pronto e acabado, mas em constante renovação, de modo que o prazer que se obtém na relação com ele nunca é definitivo. O outro não se esgota nas apreensões que se pode fazer dele. O erótico, nessa perspectiva, nunca é revelação total, mas tem sempre algo de faltoso. Esse “sim-e-não” do erótico, o revelar-se que não esgota, seu constante mistério e revelação, diferencia-o do pornográfico. Este último, por sua vez, caracteriza-se pelo explícito. Diferenciam-se erótico e pornográfico na capacidade do primeiro guardar certa surpresa. O amor erótico tem um caráter de promessa.

A crítica que se lhe fez ao longo da história se dava, contudo, pelo prazer experimentado. Dado que constitui de certa satisfação da pessoa, o amor erótico seria menor do que outras formas nas quais se permaneceria junto a alguém ou coisa ou valor etc. sem tirar daí deleite. Um amor assim seria mais puro por não se basear no gosto, enquanto o erótico ainda visaria à própria satisfação. O amor puro seria o que afirma o outro para além do próprio prazer, enquanto o erótico se basearia no prazer que surge do encontro com o outro.

A valoração do amor oblativo, capaz de renuncias, e os olhares negativos para o prazer fizeram do erótico algo do que se envergonhar. Em contrapartida, num projeto mais recente de libertação das pessoas para o erótico, em contraposição às ideologias que oprimem o indivíduo e o privam da liberdade de gozar da vida, chegou-se à sua banalização. Quando isso acontece, o desejo perde sua tensão e o outro seu caráter de mistério.  Importa, portanto, ao erótico, não só o que ele diz e mostra, mas aquilo que não diz; o que esconde, mas anuncia. O erótico está na brecha.

Mostra de Arte Erótica

Dia 22 de Maio, das 20h às 00h, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, vai acontecer a Mostra de Arte Erótica, evento que acontece desde 2011. A questão que move o projeto da Casa Mascate Cultura de Rede é a seguinte: “Será que o voyeurismo pode ser praticado à esmo na panóptica contemporânea, ou continuamos vivendo de tabus?”.

Na mostra são feitas leituras dramáticas de contos e poemas eróticos de diversos autores, o chamado “Cantinho Literário”, um espaço aberto para que o público também leia suas próprias poesias. Nela, atores representarão cenas performáticas durante toda a noite. O ambiente será criado com BodyPainting ao vivo e fotografias sensuais - trabalho a cargo do artista plástico e fotógrafo Alê Fonseca – além da exposição “Oh Ladies! A Voyeuristic Intention”, da artista Gabriela Dominguez, que irá compor o cenário, ajudando a despertar novos conceitos sobre o sexo e o erotismo. Juntam-se também aí os Vjs, Dani Schmidt e Vj Bah para aguçar olhares com projeções lúbricas, alternando com trilhas sonoras lascivas do Dj Pablo Campos. Um espaço de deleites...


Gilmar P. da Silva SJ
Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.

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