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FALTA DE MÃE

Por Gilmar P. da Silva SJ
Quem mora longe da família ou já é órfão sabe o que é isto, falta de ter mãe. Tem dia que se acorda com fome de afeto que deveria ser servido na cama dos pais, mas eles ali não estão. A mesma cama de casal servia de remédio, porque uma coisa era passar mal no próprio quarto durante a infância e outra era deitar naquele leito que tinha algo de segurança e de sagrado.

“Quero colo./ Vou fugir de casa./ Posso dormir aqui/ com vocês?/ Estou com medo/ tive um pesadelo” – a música do grupo Legião Urbana suscita as memórias da criança que buscava amor. Nos dias de fragilidade, o colo é sempre lugar seguro que se almeja – regaço acolhedor para o qual não se pode voltar mais, ao menos não da mesma forma. Talvez por isso as devoções marianas sejam tão caras e grande parte da população se emocione tanto cantando com padre Zezinho: “Ave Maria, Mãe de Jesus, o tempo passa, não volta mais. Tenho saudades daquele tempo que eu te chamava de minha mãe”. Quem dera restaurar o tempo de inocência em que se era cuidado! Mas as contas batem à porta, os prazos e as urgências.

O grande desafio da vida adulta é o da autonomia, essa capacidade de solidão (ainda que sempre se precise de alguém). Tornar-se adulto é descer do colo e andar com as próprias pernas, é tornar-se si mesmo. O passo seguinte ao amparar-se é amparar outrem. Claro que não são etapas estanques, mas três dinamismos de um processo que coexistem. Ser cuidado, cuidar-se e cuidar dos outros. Aliás, o amor que se recebe é princípio educativo do amar.

Parece que aí o amor de mãe se torna presente – também de pai, mas esse texto é sobre mãe. Aquilo que se recebeu cresce e se converte em cuidado do outro. Meus pais continuam em mim e são ressuscitados (estando vivos ou não) em minhas ações e condutas que deles herdei. Eles vivem em mim à medida que os guardo comigo. Essa operação faz superar a ausência porque não se experimenta simplesmente falta, mas continuidade. Há um fluxo de amor que nos põe em movimento e faz caminhar. Mas é fato, tem dia que a gente tem falta de mãe.
 
Concerto para as mães
 
No dia 08 de Maio, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais se apresenta na Praça da Assembleia para um concerto especial de dia das Mães. Com regência de Arakaki, apresentam Dança Eslava, op. 72, nº 1, de Dvorák; Tritsch-Tratsch Polka, op. 214, Strauss; Maria Tudor: Abertura, Gomes; Gymnopédies 3 e 1, Satie/ Debussy; Suíte Saint Paul, op. 29, nº 2: I. Giga, Holst; O Moldávia, Smetana; Cavalaria Ligeira: Abertura, Suppé; Príncipe Igor: Danças Polovitsianas, Borodin. A apresentação é gratuita e está marcada para às 11h.
Gilmar P. da Silva SJ
Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia ki

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