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NOVO CÉU E NOVA TERRA

O que cria o novo mundo é o amor, o amor filial a Deus e o amor fraterno aos outros.
A vivência do amor é condição necessária para a criação do novo céu e da nova terra.
A vivência do amor é condição necessária para a criação do novo céu e da nova terra.
Por Dom Caetano Ferrari*
O livro do Apocalipse fala que João teve a visão do novo céu e da nova terra, pois que eles são a morada de Deus entre os homens. Então, não mais haverá morte, nem luto, nem choro, nem dor, porque o próprio Deus estará no meio deles. Esta mensagem vem da leitura de Ap 21, 1-5ª. Ela se liga à do Evangelho de Jo 13,31-35. Ora, Jesus afirma no Evangelho que para Deus morar entre os homens é necessário que eles acolham e ponham em prática um mandamento novo. Jesus formulou este mandamento, logo depois que Judas o traiu, durante a ceia santa do lava-pés e da Eucaristia. Desmascarado quanto à sua traição, Judas saiu da sala e Jesus disse: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele”. No contexto pré-pascal e na circunstância do pecado de traição, que parece insignificante, dá-se a oportunidade da manifestação da glorificação de Deus e do mandamento do amor. Para explicitar o mandamento do amor, Jesus prosseguiu, dizendo: “Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”. Bem sabemos que este mandamento é complemento do único mandamento do amor, o amor a Deus, acima de tudo, e o amor ao próximo, seja quem for. Ora, a primeira conclusão a se tirar é que a vivência do amor é condição necessária para a criação do novo céu e da nova terra, nos quais não haverá mais tristeza, nem dor, nem lágrimas. A segunda, é que, o novo mundo, mesmo sendo dom de Deus, é também compromisso cristão. Seu crescimento e progresso rumo à plenitude do Reino dos Céus dependem sim da graça e do comprometimento dos cristãos. Amar é o mandamento novo. Vivê-lo é uma luta que implica passar por tribulações, combater o pecado, que é sempre uma traição, e perseverar na fé e na prática do bem. O que cria o novo céu e a nova terra é o amor, o amor filial a Deus e o amor fraterno aos outros. Este é o mais importante dos mandamentos. Quem não se esforçar para viver segundo ele cairá na idolatria, na tentação da traição a Deus, adorando ídolos, e na tentação da traição aos outros, porque não se aproximará das pessoas para servir, mas para ser servido, erigindo-se a si próprio como deus. O pecado contra o primeiro mandamento é sempre de traição, de idolatria, de adoração a ídolos.  
Se Deus é amor, então, o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus é também amor. O amor é, pois, a identidade do cristão. O amor praticado pelas pessoas deve ser o sinal visível mediante o qual o mundo reconheça quem é de Deus e a favor da fraternidade de todos os homens e quem são os traidores da pátria de Deus, da fé e esperança, e da pátria dos homens, da justiça, do bem e da paz. Repito Jesus no Evangelho da Missa: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”. O apóstolo já disse que é impossível amar a Deus, a quem não se vê, se não se amar o outro, a que se vê.
 Posso dizer com sinceridade que recebi a graça da fé. Graças a Deus! Vivo nela até hoje e peço, diariamente, a perseverança até o fim. Nem por isso minha vida é mais fácil da dos que professam o ateísmo. Gente de peso já disse que o ateísmo é o modo filosófico mais fácil, quase infantil. E que Deus é o conceito mais complexo já criado pela filosofia, um desafio aos limites do pensamento. Isso do ponto de vista teórico. Do ponto de vista prático, que mais nos interessa, se pode dizer também que o homem sem fé vive melhor porque está mais livre ao menos de muitas obrigações religiosas e morais. De fato ter fé em Deus, sobretudo a fé cristã, é um desafio e um compromisso incômodo, exigente. Até mesmo alguns discípulos antes de se afastarem de Jesus, como de fato o fizeram, lhe disseram: “Essa é uma doutrina muito dura, quem consegue escutá-la?”. Mas, Jesus não procurou amenizar a sua palavra. Apenas perguntou aos doze: “Vocês também querem ir embora?” Sabemos que Simão Pedro respondeu assim: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o santo de Deus”. Essa passagem pode ser vista em Jo 6, 60-69.
Como eu, você, amigo leitor e leitora, e todos os que têm fé somos os eleitos de Deus. Isso não significa que essa eleição da parte de Deus nos garanta prosperidade, riqueza, como afirmam certos movimentos pentecostais. Segundo a experiência bíblica, os eleitos passaram por provações e sofrimentos. Sobre eles pesou a mão de Deus que foi mais exigente do que para com os indivíduos comuns. Se ser eleito significasse ser mais amado por Deus, o que é verdade, nem por isso significa algum privilégio como por exemplo de estar livre ou acima dos padecimentos da vida. Basta o exemplo de Jesus, o amado do Pai, para se provar o que significa ser eleito por Deus. 
Demos graças a Deus pelo dom da fé. Peçamos a graça de crescer na fé e nela permanecer para sempre. Como crer em Deus é amar, tudo quanto se diz da fé se diz mais ainda do amor, porque o amor não acaba nunca, é o modo de viver neste e no outro mundo, no novo céu e na nova terra. Este mundo novo é a morada de Deus entre os homens, onde não existirá mais a morte, nem choro, nem dor. É a morada do Amor eterno.

CNBB, 25-04-2016.
*Dom Caetano Ferrari: Bispo de Bauru (SP).

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