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ÚLTIMOS OLHARES SOBRE O BRASIL

Fico imaginando o que os olhares de fora sobre os brasileiros refletem.
Somos mesmo um país para nunca ser levado a sério como diria De Gaulle?
Somos mesmo um país para nunca ser levado a sério como diria De Gaulle?
Por Ricardo Soares*
No momento em que redijo essas mal traçadas linhas os senhores senadores continuam a regurgitar discursos na tribuna da casa deles (que não é a nossa) para usufruirem dos seus 15 minutos de fama. É jogar para a torcida deles pois já sabemos o resultado. Dilma vai para o estaleiro esperar reparos irreparáveis no transatlântico anacronico que foi seu governo. Dificilmente volta e isso é golpe. Mas não é isso que vou discutir diante das divergências e destemperanças explícitas em toda a nação. Ninguém parece querer ser feliz. Só parecem querer ter razão.
Diante disso tudo prefiro tolamente refletir sobre a poesia que envolve os últimos olhares sobre o que quer que seja. O último olhar de dona Dilma sobre seu gabinete presidencial ou sobre o último papel que assinou enquanto presidente. O último olhar do serviçal que foi maltratado por um dos ministros que agora saem com sua "chefa". O último telefonema do chefe de gabinete dentro do gabinete do burocrata "X", a última solicitação de viatura de um assessor para se deslocar para casa, o último olhar sobre a pilha de projetos e processos que jamais avançaram e que repousam nas mesas da Brasília descalcificada.
Diante de tantos últimos olhares melancólicos, alguns poucos esperançosos, fico imaginando o que os olhares de fora sobre os brasileiros refletem. Somos mesmo um país para nunca ser levado a sério como diria De Gaulle? somos um país com um enorme passado pela frente como diria o Millor? somos um país formado por uma maioria de cretinos fundamentais como apontava Nelson Rodrigues?
Diante de últimos olhares de brasileiros sobre a própria pátria, aqueles que se lançam nos portos e aeroportos a buscar destinos melhores para ancorar suas vidas, o que pode-se enfim dizer?: "Brasil sempre o país do futuro?", "Brasil ame-o ou deixe-o?". Sinceramente a essa altura não é nem mais uma questão de ideologia, de ser ou não golpe embora eu creia que seja. É uma questão de triste constatação. À direita, ao centro e à esquerda nunca se viu tanto lixo legislativo, executivo e judiciário. A maçaroca nos tira o viço da vida, nos joga no limbo e nos faz crer que há muito tempo já lançamos um último olhar sobre a esperança. É preciso começar tudo de novo. Mais uma vez.
*Ricardo Soares é escritor, diretor de tv e jornalista. Tem 7 livros publicados, realizou 12 documentários e está há 38 anos tentando se comunicar profissionalmente. Escreve às segundas e quintas no DOM TOTAL.

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