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ACOLHER OS MIGRANTES COMO OBRA DE MISERICÓRDIA

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Atitude toca grande necessidade deste tempo: saber acolher e conviver com o diferente.
Com seu idioma, cultura e religião, eles nos desafiam a nos abrirmos para acolher o diferente.
Com seu idioma, cultura e religião, eles nos desafiam a nos abrirmos para acolher o diferente.

Por Dom Adelar Baruffi*

A 31ª Semana Nacional do Migrante, de 12 a 19 de junho de 2016, tem um lugar especial neste Ano da Misericórdia. Acolher os migrantes é uma das obras de misericórdia. “Amem os estrangeiros, pois vocês mesmos foram estrangeiros no Egito.” (Dt 10,19). A memória viva da história de um povo peregrino, nômade, que sofreu a opressão de habitar uma terra estrangeira, de ser dominado muitas vezes por povos vizinhos, de ser desterrado para o exílio na Babilônia, fez com que o povo da Primeira Aliança tivesse uma sensibilidade especial pelos migrantes, pelos estrangeiros. Tinham consciência de sua identidade como povo eleito, separado por Deus dentre todos os povos da terra. Sabiam, porém, ser acolhedores, mesmo quando não eram judeus. Um dos exemplos mais fortes podemos encontrar na acolhida que Abraão e Sara fazem aos três peregrinos, em sua tenda, no carvalho de Mambré (cf. Gn 18,2-8). Acolhem três peregrinos e lhes oferecem alimento e repouso. A história conta que foram abençoados com o tão desejado filho. Abraão e Sara, sem saber, pela sua generosidade na acolhida, acabaram hospedando o próprio Deus. A teologia cristã fez a leitura dos três peregrinos como sendo uma imagem da Santíssima Trindade. 

A quarta obra de misericórdia corporal toca, portanto, uma questão muito atual no Brasil e no mundo: a acolhida dos migrantes. É calamitosa a situação dos milhões de migrantes forçados que arriscam sua vida e de sua família para fugir da guerra, da fome, em busca de uma vida digna. Eles estão presentes em todos os continentes. Estão presentes também nas nossas dioceses do nosso Estado. Eles vêm para trabalhar e conseguir recursos para si e suas famílias. Trazem consigo a esperança de dias melhores. Muitos deixam esposa e filhos, na esperança de conseguir recursos para poder trazê-los. Trazem consigo seu idioma, sua cultura e sua religião. Eles nos desafiam a nos abrirmos para acolher o diferente. Eles batem à porta de nossas paróquias e igrejas todos os dias. Louvado seja Deus pela Pastoral do Migrante, presente em muitas paróquias. Nos recordam as palavras de Jesus: “era peregrino e me acolheste.” (Mt 25,35).

Esta obra de misericórdia toca uma das grandes necessidades do nosso tempo: saber acolher e conviver com o diferente. Cultivar a hospitalidade. Ela pede que superemos toda forma de xenofobia, racismo e exclusivismos que formamos a partir de nossa visão de mundo, nossa cultura. A hospitalidade nos ensina a sermos mais humanos e mais cristãos. Nos ajuda a acolher, sermos solidários e capazes de conviver com o diferente e repartir o que temos e somos. A hospitalidade deixa o visitante livre, sem constrangimentos e coações. Acolhe o outro como ele é e o introduz em nossa casa. Quem hospeda deve ter a consciência que não está somente na posição de quem oferece ajuda, mas de quem recebe a novidade e tem muito a aprender do hóspede. 

Todos somos peregrinos na terra, “pois não temos aqui a nossa pátria definitiva, mas buscamos a pátria futura.” (Hb 13,13). Deus é o Pastor que nos acolhe: “diante de mim preparas a mesa” [...] “e na casa do Senhor habitarei por tempos infinitos.” (Sl 23, 5.6).


CNBB, 14-06-2016.

*Dom Adelar Baruffi: Bispo de Cruz Alta.

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