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ESTE É IMORTAL

José Olímpio de Sousa Araújo*
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É comum que uma pessoa se alfabetize com mais de três décadas de vida? E, ainda, ser forçado por dificuldades financeiras, a parar os estudos, voltar depois, e se bacharelar em Administração pela Universidade Federal do Ceará?... Isto próximo aos 60 anos de idade?!
Pois bem. Este homem foi José Lemos de Carvalho, o nosso saudoso Dezinho Lemos. Ele, que foi comerciante (para ele, esse talento já o trouxe na sua genética). Administrador zeloso pelo Serviço Público, que exerceu por muitos anos, e ocupando cargo de chefia, e nos quais se aposentou. Tudo isso na sua querida e inesquecível Mombaça. E ele não se cansava de dizer,  com orgulho, que aprendeu a ler em cordéis; e cordelista descobriu-se.
Homem chegado às letras, sim. Com varias obras publicadas, incluindo-se, claro, muitos cordéis. Cidadão correto, sertanejo bravo e decidido, não conseguindo firmar-se na de Academia de Letras em que ingressara, teve a ousadia, a determinação e a persistência de fundar (e dirigir os seus primeiros anos) a Academia Municipalista de Letras do Ceará.
Muitas foram as ideias e atitudes em que o novo e jovem acadêmico mostrou firmeza de caráter e espírito comunitário. Relembro algumas, que muito me marcaram. Eu acabara de ingressar na Academia, eu e o meu irmão Murilo Araújo, levados pelo então Acadêmico Francismar. A AMALECE engatinhando, ainda de quadro incompleto. Dezinho indicou e preparou seu substituto. Eleito, Anízio Araújo completou o quadro, e fez dinâmica administração, ao lado do eficiente Secretário, José Muniz Brandão (também de saudosa memória). Diga-se, por justiça: o Muniz não perdia oportunidade de orientar o 2º Secretário (o autor deste escrito, que tenta seguir-lhe os passos). E tanto lutou Dezinho que, em boa hora, com sua presença, a AMLEF decidiu, por sugestão do então presidente Júnior Bonfim (um dos nossos maiores poetas e oradores), a extinção da reeleição para Presidente. Júnior Bonfim que continuou o dinamismo de Anízio e de Seridião Correia Montenegro, o terceiro Presidente, outra bela aquisição de nossa Arcádia. Mas foi ainda na gestão de Anízio que vi de Dezinho o seu mais nobre gesto. Ele não aceitava a mudança de nome da Academia, “só porque tem uns de outras academias que não gostam...) Mas, a seu contragosto, foi decidido em assembleia a mudança do nome: que os acadêmicos trouxessem sugestões para a votação na assembleia seguinte. E recebo, de surpresa, a visita daquele jovem e impertinente octogenário a me perguntar de supetão: Você também concordar em mudar? O nome tá bom, é bonito...” Mais surpreso fiquei, quando, atento e em silêncio, escutou minhas explicações, a necessidade e as vantagens da mudança. E lhe vislumbrei  o caráter de “Metropolitana”, ideia do meu irmão,  Expedito Araújo, depois aclamado como Acadêmico Honorário. Antes de sair, apertou-me a mão e disse: “É, então que se mude!...” E a mudança se fez. E Dezinho continuou feliz e orgulhoso da Academia que fundou. Vi também que ali ganhara mais ainda a consideração e o respeito de seus pares.
É... Com certeza não é o fato de se pertencer a esta ou àquela, ou a tantas Academias, de Ciências, de Arte e de Letras, que traz a imortalidade para o ser humano. Na verdade, por graça do nosso Misericordioso  Deus, JÁ NASCEMOS TODOS IMORTAIS. Mas o traço da vida humana que imortaliza o “homo sapiens” perante aos que conheceram ou dele tomaram conhecimento, SÃO AS IDEIAS E AS ATITUDES FRATERNAS, SOLIDÁRIAS, QUE ATENDEM AO MANDADO DO CRIADOR, nA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR, DIRECCIONADO AO REINO DE DEUS.
E eu tive a felicidade de conviver com este Homem, este Cidadão, que a um ano, foi convocado para compor a ACADEMIA CELESTE.  E, sem dúvida, EU disse muito pouco, pouqíssimo, do que foi DEZINHO LEMOS. Este é imortal!!...

*Coautor dos livros “Desenvolvendo a habilidade de escrever” e “Ortografia Atualizada” / Secretário da Academia Metropolitana de Fortaleza. / Radialista, produz e apresenta o “Minuto da Língua” (pela FM Universitária, 107,9).

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