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JESUS: PARÁBOLA DE DEUS

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As ações e palavras de Cristo narram o advento do Reino de justiça e paz para todos.
A revelação cristã compreende que Deus revelou-se à humanidade como uma Palavra Encarnada.
A revelação cristã compreende que Deus revelou-se à humanidade como uma Palavra Encarnada.

Por Tânia da Silva Mayer*

João anunciou, no prólogo do seu Evangelho, o conteúdo fundamental para a fé cristã: a Palavra de Deus foi feita carne e habitou no interior da humanidade. Essa afirmação marcou para sempre a experiência de fé humana. Nunca se ouviu dizer que Deus, que é infinito e eterno – detendo atributos de onipotência, onipresença e onisciência –, condicionou-se aos limites de espaço e tempo ao assumir a fragilidade da existência e da história humanas. A originalidade que se contempla na encarnação da Palavra de Deus é a razão que nos permite dizer que Deus, ele mesmo, se autocomunicou à humanidade.

A tradição judaico-cristã testemunha nas Escrituras Sagradas que, ao longo da história, Deus se autocomunicou ao povo eleito, de maneira livre e gratuita, e isso significa que ele se revelou ao ser humano numa economia dialogal. Por autocomunicação divina compreendemos os eventos nos quais Deus falou à humanidade sobre si mesmo. O texto de Hebreus recorda-nos que de muitos modos e maneiras Ele falou aos pais da fé por meio dos profetas, mas que nestes últimos tempos, Deus falou ao ser humano por meio daquele que é o seu Filho (cf. Hb 2, 2-5). Nesse sentido, Jesus é a plenitude da autocomunicação divina.

Precisamente, a revelação cristã compreende que Deus revelou-se à humanidade como uma Palavra Encarnada. E essa Palavra de Deus feita carne não é uma palavra racional e abstrata, como compreendiam os filósofos gregos a respeito do logos. Trata-se, aqui, de uma Palavra dinâmica, com força performativa capaz de modificar as estruturas do mundo. Essa compreensão segue à esteira do povo judeu que compreendia o dabar de Deus como a palavra criadora. Nesse sentido é que Jesus é a Palavra de Deus encarnada na vida, por meio da qual tudo foi feito, sem a qual nada poderia ter existido e na qual Deus se autocomunica ao ser humano, inserindo-o num diálogo amistoso (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) a fim de salvá-lo para a vida. Pois,

“como a chuva e a neve que caem do céu e para lá não voltam sem antes molhar a terra e fazê-la germinar e brotar, a fim de produzir semente para quem planta e alimento para quem come, assim também acontece com a minha palavra: Ela sai da minha boca e para mim não volta sem produzir seu resultado, sem fazer aquilo que planejei, sem cumprir com sucesso a sua missão” (Is 55, 10-11).

Em Jesus, o diálogo humano-divino tem como horizonte a relação comunional entre Deus e o ser humano; e, embora a linguagem humana seja imperfeita e sujeita às compreensões das épocas, Deus assume essa linguagem a fim de que a sua vontade para todas as criaturas torne-se conhecida e seja acolhida por aqueles que encontram-se com Jesus. Desse modo, Jesus é a Palavra de Deus, porquanto suas ações e palavras narram o advento do Reino de justiça e paz para todos. Assim, as obras e palavras de Jesus dão testemunho de Deus que ninguém jamais viu a não ser aquele que no-lo descreveu (cf. Jo 1,18). A vida de Jesus é toda ela, narração de Deus, ou de outra maneira, a vida de Jesus é a autocomunicação de Deus ao ser humano. Desse modo podemos afirmar que a Palavra de Deus é a palavra da vida de Jesus, suas ações e palavras. Nelas, Deus fala e se diz como alguém que se revela amando. E não há outro modo para ouvir o Pai sem escutar o que Jesus tem a falar-nos (cf. Jo 14,10).

Por esse motivo é que Jesus é a Parábola de Deus. Por parábola compreendemos uma palavra histórico-temporal na qual Deus vem à linguagem humana para autocomunicar-se. Jesus é essa palavra que ressoa no interior da história e do tempo. Ele é a Parábola-Carne, na qual Deus vem ao mundo para estar, definitivamente, próximo das suas criaturas. Em Jesus, Parábola Encarnada, Deus aproxima-se do mundo e revela a si e ao Reino que é, concomitantemente, inaugurado pelas ações e parábolas de seu Filho. Desse modo, Jesus é a Parábola de Deus na medida em que familiariza Deus e o ser humano, colocando-os irremediavelmente próximos um do outro, muito mais próximos do que estes puderam estar de si, ou de outros, alguma vez na vida.

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*Tânia da Silva Mayer é Mestra e Bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje); Cursa Letras na UFMG. É editora de textos da Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte.

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