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MUNDO TEM 1.746 "GUERRAS INVISÍVEIS" PELOS RECURSOS NATURAIS

2016-06-07 Rádio Vaticana

Roma (RV) - Os conflitos ecológicos são "a parte submersa" da "guerra mundial em partes" citada tantas vezes pelo Papa Francisco. 

Segundo a rede de estudiosos internacionais "Atlante Global pela justiça ambiental", existem atualmente 1.746 "guerras invisíveis" pelos recursos naturais, contra 920, há dois anos.

A rede, formada por 23 universidades, afirma que os dados são aproximativos pois não é possível obter informações confiáveis de todos os lugares do planeta.

Existem, de fato, verdadeiros "buracos negros" de informação em países como China, Sudeste asiático, Brasil e México, nos quais os cientistas continuam a trabalhar para completar o mapa.

Com todos os dados, o número de conflito poderia chegar a 3 mil.

Conflitos

Urânio, bauxita, carvão. As disputas por minérios e a batalha pelo petróleo envolvem colossos da mineração mundial, governos, populações. A violência gerada acumula vítimas diretas - como os 250 ativistas ambientais assassinados nos últimos dois anos, três quartos deles na América Latina: e indiretas, como as populações residentes nas áreas onde se concentram os recursos tão ambicionados que, diante dos interesses milionários em jogo, frequentemente com a cumplicidade dos governos locais e nacionais, são obrigadas a resistir heroicamente para defender seus direitos à terra, água e ar limpo.

A "febre" pelos recursos

"Assistimos a uma escalada preocupante dos conflitos socioambientais nas assim chamadas 'fronteiras do extrativismo', isto é, território onde se concentram os recursos que, porém, antes não sofriam uma exploração assim intensiva", explica ao Jornal Avvenire Daniela Del Bene, uma das coordenadoras do projeto.

"A razão - continua a pesquisadora - é a obsessão pelo aumento da produção e o consumo". Em nome do lucro, se sacrifica o exame apurado do impacto socioambiental de um determinado projeto.

Se produz, assim, "uma distorção conceitual da economia", como sublinhou o Papa na Encíclica Laudato Si.

O resultado é o multiplicar-se das crises que são, ao mesmo tempo, ambientais e sociais.

"As diretrizes para uma solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza - afirma Francisco - para restituir a dignidade aos excluídos e ao mesmo tempo para cuidar da natureza".

Mapa da crise

O assim chamado "Sul do mundo" é o que mais sofre com a "caça aos recursos", sendo responsável por 63% dos conflitos, sobretudo no momento da extração e nas áreas rurais.

Nos países mais pobres, com uma economia pouco industrializada, a chave são as monoculturas para exportação. Nos emergentes - como Brasil, Índia e África do Sul - as reservas são o motor da industrialização.

"Nestes casos, áreas inteiras - as assim chamadas periferias internas - são empregadas como reservatório para o centro, em nome do interesse nacional. É o que acontece agora, por exemplo, na Amazônia brasileira, ou no arco do Himalaia, explorado pelas indústrias hidrelétricas da Índia, Nepal, Butão e China", afirma Del Bene.

As "guerras ambientais", no entanto, estão presentes também no "Norte do mundo", sendo o principal detonador o "fracking" (processo de injecção de líquido a alta pressão em rochas subterrâneas, poços, etc., de modo a forçar fissuras abertas existentes e extrair petróleo ou de gás, o que provoca tensões no Canadá, Estados Unidos, Espanha, Grã Bretanha e Polônia.

Por esta razão, os Estados Unidos ocupam o quarto lugar na classificação da Atlante, com pelo menos 69 conflitos.

Áreas "quentes"

A lista é encabeçada pela Índia - com 223 "guerras ambientais" em andamento - seguida pela Colômbia, com 117 e pela Nigéria, com 73.

Treze das quinze nações mais problemáticas encontram-se no "Sul do mundo". Uma das explicações é a dificuldade de se encontrar soluções legais para os conflitos, visto a pobreza e o problema da corrupção. Ademais, "as multinacionais gozam de quase total impunidade", denuncia Del Bene.

Apesar do panorama negativo, por vezes "Davi consegue derrubar os Golias" contemporâneos, como ocorreu com os dez indígenas do vilarejo guatemalteco de Lote Ocho, que conseguiram levar à Toronto a causa contra o colosso canadense Hund Bay, acusado de negligência por não ter controlado os próprios guardas, responsáveis pelo estupro de mulheres indígenas como forma de obrigá-las a abandonar as terras, em 2007.

Mesmo sem uma sentença definitiva, a existência do processo, por si só, representa uma vitória inesperada para os dez corajosos de Lote Ocho.

(JE)

(from Vatican Radio)

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