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O JEITINHO BRASILEIRO

Julio Lossio*
Foto do perfil de Julio Jorge Lossio
Recentemente, uma empregada doméstica de Pernambuco, postou um vídeo sobre o “JEITINHO BRASILEIRO”, no qual fala das práticas diuturnas do nosso povo, sempre objetivando levar vantagens.

De forma honesta, faz sua mea culpa, ao admitir, que fura a fila na loteca, por ser amiga dos funcionários; que joga lixo na rua, embora saiba, que irá entupir as bocas de lobo; que fica quieta, quando vê as pessoas fazendo ligações clandestinas de TV a cabo, luz e água; que tem conhecimento de empregados de empresas, que pedem nota fiscal a maior das refeições; que conhece pessoas sadias, que conseguem atestado médico, para justificar sua falta ao trabalho, ludibriando a empresa e corrompendo o médico e que compra produtos piratas, para atender ao pedido dos filhos, pois o original que custa dez vezes mais.
Uma de suas conclusões foi a de que, essas infrações pequenas, foram a escola da CORRUPÇÃO, que se instalou no país, ou seja, está entranhada no POVO. Por esse motivo, como podemos exigir ética dos políticos, se eles são o próprio POVO?
Esse vídeo e a pergunta, que é ÉTICA, que o filho de 11 anos, de um apresentador de um programa de televisão fez ao pai, motivou um rico debate, num programa vespertino do sábado, 4 de junho.
Presencialmente, participaram 15 pessoas, entre elas, Hellena Mary, a empregada que postou o vídeo e mais, 16 pessoas pela Internet.i Coordenou o debate, o filósofo e professor, Michael Sandel, da Universidade de Harvard, nos EUA.
Para entender e discutir esse “ JEITINHO BRASILEIRO”, o Professor Sandel, pinçou alguns pontos do vídeo de Hellena. 
É correto furar uma fila ou ocupar os lugares reservados nos coletivos e estacionamentos? Isto não seria uma falta de RESPEITO? Qual o comportamento que deveríamos tomar?
Alguns infringiam essas regras, por comunidade, outros, tomavam a defesa dos lesados e exigia que desocupassem os lugares.
Em relação a PIRATARIA, o grupo ficou bastante dividido, mesmo sabendo, que é um ilícito penal. 
Quem ganha salário mínimo, teria condições de comprar para o filho, uma camisa original do time que ele idólatra, ao custo de 25% de seu salário? Abriu-se um debate, se isto seria moralmente correto. Por outro lado, se um item original, custa dez vezes mais, que o pirata, um lado está ganhando exorbitantemente. 
Seria isto empreendedorismo ou oportunismo? 
É comum os preços subirem em função da demanda (lei da oferta e procura), as vezes de forma justificável, pois a escassez ou abundância são os reguladores. Outras vezes, prevalece o oportunismo, por exemplo, nas tragédias, quando sobe o preço dos bens essenciais de consumos, que os comerciantes têm estocados. Exemplo recente foram os problemas de desabastecimento, nas cidades atingidas pelo rompimento da Barragem de Mariana.
Se quisermos salvar nosso país, temos que discutir ÉTICA.
Talvez ÉTICA seja saber e ter consciência do que é CERTO ou ERRADO. Isto ao nível da comunidade e pessoal. 
Se a sociedade estabelecesse os parâmetros do CERTO e do ERRADO, para as coisas do cotidiano, com o tempo, mesmo por necessidade afetiva, ou por comodismo, não infringiríamos as normas criadas, pois nosso objetivo seria fazer sempre, o que é moral e eticamente correto.
Esses parâmetros, talvez acabassem com os empreendedores oportunistas, que visam somente o lucro fácil e imediato e nunca, o bem comum. Seria a interferência da ética na economia. 
Com parâmetros definidos, repudiaríamos o JEITINHO BRASILEIRO e a LEI DE GERSON (levar vantagem), passaríamos a ser um povo e, consequentemente, um pais respeitável. É a ética interferindo na cultura.
Se quisermos ser o PAÍS DO FUTURO, essa discussão tem que ser feita imediatamente, nas escolas primárias, só assim as gerações futuras viverão no Brasil que não nos deram o direito de viver.

*Doutor e Livre Docente pela Universidade de São Paulo Membro da AMLEF
55-85-99981.8659
julio@lossio.net.

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