Pular para o conteúdo principal

OS POETAS E O CINEMA

BLOGS CULTURA
08/06/2016 
Guilherme de Almeida: crítica cinematográfica reunida.
Guilherme de Almeida: crítica cinematográfica reunida.

Por Carlos Ávila

Os poetas do séc. 20 foram muito ligados ao cinema. Para ficar só na Brasil, lembre-se que Mário de Andrade (1893/1945) escreveu crônicas e críticas dedicadas à sétima arte – grande novidade criativa no início dos anos 1920; o autor de “Macunaíma” começou a comentar filmes na revista modernista “Klaxon”, depois em jornais paulistas. “O cinema realiza a vida no que esta apresenta de movimento e simultaneidade visual” – pontuava Mário, que curtia as fitas cômicas de Chaplin.

Recentemente, foi lançado um grande volume (679 páginas!), pela Ed. UNESP, reunindo as críticas de cinema do poeta e tradutor Guilherme de Almeida (1890/1969) – belo trabalho de pesquisa de Donny Correia e Marcelo Tápia. O poeta paulista escreveu continuamente sobre filmes de 1926 a 1942, nas páginas do “Estadão”. Guilherme era outro admirador de Chaplin; mas foi além: comentou e analisou o Eisenstein do “Encouraçado Potemkin” e o Orson Welles do “Cidadão Kane” – filmes que revolucionaram a arte cinematográfica.

O poeta Vinicius de Moraes (1913/1980) se definia um “apaixonado do cinema” – escreveu muitas crônicas nos anos 40/50 para jornais e outras publicações; sim, crônicas sobre filmes (hoje reunidas no volume “O cinema dos meus olhos”), já que não era muito chegado a análises “técnicas”. Também admirador de Chaplin, dedicou textos emocionados a “Em busca do ouro” e “Luzes da cidade”.

Vinicius: “Carlitos é o anti-granfino. Sua adorável elegância parte de uma natureza especialmente bem-disposta para com o ser humano. Num mundo e numa sociedade que o ostracizam, esse genial Vagabundo atinge o perfeitamente cordial. Carlitos ama seu semelhante, e consegue ser cortês – sem ser nunca covarde – mesmo com quem o abotoa pela gola. Carlitos nunca agride, sempre se defende. Esse perfeito cavalheiro é incapaz de um gesto de indiferença ou de maldade”.

Vinicius – que foi amigo de Welles e de Grande Otelo – comentou igualmente “Cidadão Kane” e até mesmo “Hiroshima, meu amor”, de Resnais, filme que o encantou; acabaria se envolvendo pessoalmente com o cinema na produção de “Orfeu do carnaval”, fita baseada na sua peça “Orfeu da Conceição” (que transpôs o mito grego para os morros do Rio).

Carioca como Vinicius e também poeta – além de jornalista, tradutor e pesquisador da MPB –, José Lino Grünewald (1931/2000) foi ligadíssimo à sétima arte. Militou durante anos como crítico de cinema na imprensa – nos extintos “Jornal de Letras”, “Correio da Manhã” e “Jornal do Brasil” (textos já reunidos em livros). Publicou “A ideia do cinema”, em 1969, volume referencial para estudos cinematográficos, reunindo textos de Herbert Read, Walter Benjamin, Eisenstein, Resnais e outros.

Grünewald foi dos clássicos mudos (Griffith, Murnau, Eisenstein etc.) – passando por Ford, Welles e Hitchcock – até a Nouvelle Vague (analisou pioneiramente, e com uma visão própria, os principais filmes de Godard). Era também apaixonado por Chaplin, para ele, o maior artista do séc. 20.

Mário, Guilherme, Vinicius e Grünewald – o que os une? A poesia, o cinema e o insuperável Chaplin – “Carlito, meu e nosso amigo”, como diz o verso de Drummond, mais um chapliniano.

Comentários