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REFUGIADOS: APRENDER COM O PASSADO PARA EVITAR «OS MESMOS ERROS»

Agência Ecclesia 08 de Junho de 2016, às 11:36
        
Marina Pignatelli abordou na Universidade Católica Portuguesa a sua investigação sobre os judeus vítimas do holocausto nazi que vieram para Portugal

Lisboa, 06 jun 2016 (Ecclesia) – A investigadora Marina Pignatelli, que estuda há décadas o fenómeno dos refugiados, particularmente dos judeus vítimas do holocausto nazi e que vieram para Portugal, diz que a História deve servir de lição para o contexto atual.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, no âmbito de um colóquio de investigadores da área religiosa que está a decorrer na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, a estudiosa sustentou que hoje, “com melhores meios em termos tecnológicos, se calhar estão a acontecer os mesmos erros”.

“A lição a retirar é a de uma sociedade que seja acolhedora, aberta a albergar, a abrir os braços às pessoas que estão a precisar de apoio”, declarou.

Ligada ao Centro de Investigação em Antropologia, que congrega várias universidades portuguesas, Marina Pignatelli realizou ao longo dos anos um vasto conjunto de entrevistas a sobreviventes do holocausto e que vieram para Portugal. 

Ao longo da sua pesquisa, reviveu com essas pessoas todo o processo que envolve o ser refugiado, a começar pelo momento de rutura, em que eles perceberam que para salvar a vida tinham de sair do país, os seus “medos e dúvidas”.

Também o processo seguinte, de “fuga”, a “busca de asilo” e depois “o repatriamento ou reinstalação”.

“É a partir da Segunda Guerra Mundial que o tema dos refugiados passa a ser competência, passa a ser um problema da comunidade internacional”, recorda a investigadora.

Nos anos 30 e 40 do século XX, mais de seis milhões de pessoas, judeus e não judeus, foram afetadas pelo holocausto nazi.

Num tempo em que a questão se volta a colocar em força, devido aos milhões de deslocados de países em conflito que estão a procurar entrada na Europa, Marina Pignatelli aponta sobretudo a solidariedade como fator decisivo para ajudar a este processo de transição.

No caso de Portugal, não haviam há 70 anos atrás condições criadas especificamente para os refugiados, não houve tempo de “preparação, de antecipação da magnitude deste problema”.

Houve sim a abertura, a capacidade de partir do “improviso” para “encontrar soluções”, a atitude de “não saber fazer a bomba atómica mas saber desmontá-la”.

“O sorriso das pessoas, ainda hoje é muito isso que os refugiados de então se lembram, os milhares que passaram por aqui e ficaram instalados em áreas de residência fixa”, aponta Marina Pignatelli.

Alguns dos refugiados judeus que foram entrevistados foram entrevistados já “do outro lado do Atlântico”, mas ainda tinham gravado no coração um sentimento de “grande ternura e gratidão”.

Eles não conhecem o nosso termo saudade mas lembram o país que lhes deu abrigo, que lhes deu sol, esperança e alimento, num momento de total caos nas suas vidas”, concluiu.

O colóquio de investigadores da área religiosa, que conta com a participação de Marina Pignatelli, tem como tema “A religião nas múltiplas modernidades” e teve início esta terça-feira na Universidade Católica Portuguesa.

JCP

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