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UMA ALIANÇA COM DEUS

Marcus Fernandes*

Davi foi o melhor aluno de sua turma de Medicina da Universidade do Maranhão. Após ter recebido o diploma, foi convidado para ingressar como monitor da cadeira de Pediatria daquela instituição universitária. Autoafirmando-se   como docente, casara-se no albor dos seus 22 anos de idade com uma jovem atriz que conhecera durante um espetáculo no Teatro Aloísio Azevedo. Davi, a mercê de seu nome bíblico se considerava um homem escolhido por Deus sempre salientando nas rodas de amigos e colegas da Faculdade que era oriundo de uma família paupérrima e que conseguira concluir com muita dificuldade o seu curso superior.
Mantinha na cabeceira do seu leito a Bíblia Sagrada e lia e relia diariamente o velho e novo testamento juntamente com sua família, orando e louvando ao Senhor Deus. Detinha-se nos salvos do rei Davi de quem era um admirador.
O casal tinha quatro filhinhas nascidas no aconchego de um lar cultivado no canteiro do amor e da compreensão.
Após cinco intermináveis anos de formado, trabalhando em sua clínica particular em São Luiz, foi estimulado pelos seus colegas docentes e fazer um Curso de Doutorado em Pediatria no sul do país. No seu fusquinha, pegou a estrada ainda na piçarra, pois à aquela época não havia pistas asfaltadas. Davi foi em direção a São Paulo para fazer o teste de seleção inicialmente para Curso de Mestrado e concluído, ele ingressaria direto no Doutorado.
 Ao cabo de dois dias de viagem estrada afora, Davi chegou à tardinha na cidade de Jequié, na Bahia. Tomou uma pequena refeição em um restaurante popular e continuou a extenuante viagem, pois pretendia dormir em Muriaé de Minas Gerias.
O dono do restaurante ouvindo sua conversa de sair naquele anoitecer tempestuoso em direção ás montanhas de Minas, o aconselhou que dormisse ali mesmo com sua família, pois conduzia quatro crianças e ao meio caminho iria deparar-se com fortes chuvas.
Davi, não deu muita atenção ao dono do restaurante e colocou novamente o seu fusquinha na estrada cheia de curvas perigosas e precipícios. Logo depois que se distanciou da cidade, o céu começou a ribombar com trovões e relâmpagos que cortavam os céus.
Dos despenhadeiros deslizavam torrentes de água, pedras e areia. O vento sibilava violento e derrubava árvores seculares. O carro mal se deslocava sobre o lamaçal da estrada e o para-brisa não dava conta da quantidade da enxurrada de água que caía copiosamente sobre vidro. Davi não enxergava a estada escura como breu com a fraca luminosidade dos faróis do automóvel. De repente, sentiu que uma das crianças agarrara o seu pescoço e colocava as mãozinhas sobre o volante. Davi começou a gritar: solte-me, solte-me !... 

*Dentista, advogado, pedagogo, escritor, poeta e ator – membro titular da Academia Metropolitana de Fortaleza (AMLEF).

               Enquanto isto, ao seu lado, Margarida sua esposa orava em voz alta suplicando ao Senhor que os salvasse daquele perigo iminente.
               Davi, como que sufocado, continuava a gritar: solte-me, solte-me!...
               Mais adiante, a tempestade amainou a sua fúria e o fusquinha foi adernando para o acostamento orientado pelas mãos da teimosa criança.
               Davi estava ensopado de suor sobre o volante do auto. Margarida atônita perguntara-lhe: você está bem, amor? Ele olhou pra trás do banco traseiro do carro e as quatro crianças dormiam um sono profundo e inocente. Em verdade nenhuma delas tinha agarrado o seu pescoço naquele momento de desespero no meio da tempestade entre as montanhas próximas e Jequié. Davi parou um pouco e pensou: Alguém me ajudou nestes momentos de angústia. Este alguém deveria ter sido o Espírito Santo em vestes de criança enviando por Deus para me proteger. Aos soluços Davi chorou e orou agradecendo ao Pai.

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