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Alice Domenech, do projeto que resgata valores pela arte, relata como contar histórias muda a vida de 400 crianças

Alguns livros doados e meia dúzia de crianças foram o pontapé inicial da realização de um grande sonho. Assim nasceu o projeto social Revarte (Resgate de Valores pela Arte), em Fortaleza, que atende, hoje, 400 crianças. A idealizadora do projeto, Alice Domenech, conversou com a Agência da Boa Notícia sobre seu trabalho e os desafios para manter a iniciativa, cuja a base é contar histórias para o público infantil.

Foto: Divulgação Revarte
Alice Domenech em momento de interação no projeto
Alice Domenech, mãe de sete filhos, 12 netos, 30 anos de trabalho como professora e uma grande vontade de fazer algo mais. Chegado o momento da aposentadoria, tempo livre, descanso! Talvez fosse a hora da tão merecida folga. Mas, segundo a própria Alice, ela precisava se sentir útil. Foi então que  resolveu desenvolver uma atividade partindo daquilo que ela sabe fazer com primor: contar histórias para crianças.
Alguns livros doados e meia dúzia de crianças foram o pontapé inicial a realização de um grande sonho. Assim nasceu o projeto social Revarte (Resgate de Valores pela Arte), em Fortaleza. A idealizadora do projeto conversou com a Agência da Boa Notícia sobre o seu trabalho e os desafios para manter a iniciativa, cuja a base é contar histórias e desvendar para as crianças um novo e lúdico mundo. O projeto teve início oficialmente em 1999, ao longo desse período diversas crianças e adolescentes tiveram suas vidas transformadas.
(Agência da Boa Notícia) Como surgiu o Revarte?

(Alice Domenech) A ideia da Revarte surgiu em uma visita que fui fazer a comunidade do Alecrim. Quando cheguei, estavam as crianças reunidas na igreja, era um catecismo. Mal vestidas, mal nutridas. Já havia acabado a aula e perguntei se gostavam de histórias. “Gostamos, gostamos”. Então, contei a história da sopa de pedras. Contei cinco vezes e ninguém queria outra história (na narração, um coelho decide fazer uma sopa de pedras na floresta porque não tinha o que comer. Ele aproveita a curiosidade dos amigos com “a sopa de pedras” e pede que eles tragam ingredientes. Ao final, toda a bicharada consegue se deliciar com a sopa). Todo o conhecimento não vem através da leitura? Agora, há uma dificuldade enorme. Quando elas chegam lá sempre pergunto se gostam de ler e geralmente dizem não ou que não sabem. Para conseguir trazê-las para uma conversa não é fácil.Assim dei o primeiro passo.

(ABN) O que a fez desenvolver um projeto para crianças e adolescentes?

Sou inquieta. Sempre fui. Não sei fingir que não vejo a situação de nossas crianças. A falta de estrutura familiar, escolarização precária, algumas em situação de maus tratos. Se eu posso ajudar, por que não? Sempre fui apaixonada por leitura. Monteiro Lobato foi o responsável por tamanho encantamento. Através da leitura podemos desenvolver valores em nossas crianças. Comecei contando histórias debaixo da árvore. As crianças adoram! Depois fomos conseguindo mais livros. Certo dia, uma das crianças nos informou que havia uma casa abandonada nas proximidades. Fomos atrás. E, depois de muita luta, conseguimos a casa, e é onde funciona o projeto hoje. A casa é do projeto, para as crianças. Encontrei pessoas maravilhosas no caminho. Me ajudaram e ajudam até hoje.

(ABN) Quais os principais desafios para seguir com o Projeto?

Já tivemos um bom resultado ao longo desses anos de trabalho. Muitas atividades ainda não estão em prática por falta de condições financeiras. O meu trabalho é voluntário, mas, temos outras despesas. Gostaria de obter mais ajuda. Que as pessoas venham conhecer. Qualquer ajuda será muito bem vinda.

(ABN)Quais as atividades disponíveis no Projeto?

Temos a Biblioteca Monteiro Lobato, espaço onde começou a ser realizada as atividades da associação. Pode-se dizer que foi o pontapé inicial para o surgimento da Revarte, que aos poucos foi ampliando o trabalho. Temos aulas de desenho, técnicas de arte, dramaturgia. Aulas sobre canto, flauta doce e transversal, musicalização infantil, percussão, teclado, piano e violão. Estamos desenvolvendo também um espaço para as mães com aulas de artesanato.

(ABN) Quantas crianças participam do projeto? E os resultados?

Cerca de 400 crianças estão ativas. Temos histórias muito comoventes. Uma de nossas crianças chegou com sonho de ser engenheira química, com os olhos cheios de esperança. Nós corremos atrás, conseguimos uma bolsa em uma escola particular e ela não decepcionou. As crianças nunca decepcionam. Hoje, com a ajuda do projeto, ela está concluindo o curso de Química na Universidade Federal do Ceará. É bolsista acadêmica no Seara da Ciência (UFC). Temos um garoto, com uma imaginação brilhante, que sonha em ser jornalista. Ele será. Conseguimos ajuda. Hoje ele cursa o ensino médio em uma escola particular. O desempenho é nota 10. O Revarte tem grandes amigos, pessoas que ajudam de coração, com todo amor.

Foto: Divulgação Revarte
Com as crianças do projeto
(ABN) Quais os próximos passos da Associação?

Ainda temos muito para caminhar. Gostaríamos de um espaço maior para que as crianças pudessem desenvolver atividades ligadas ao esporte. Gostaríamos que todas elas tivessem acesso a uma educação de qualidade. Nós tentamos abrir caminhos através da arte, procurando inserir na rotina os valores que estão ficando para trás. Muitas crianças chegam ao projeto perdidas, tristes, encabuladas. Qualquer atitude que colabore com o crescimento desses meninos é bem vindo, sempre.


Mais informações:
Revarte - Resgate da Vida pela Arte
Rua Salvador Correa de Sá, 465, Conjunto Alvorada, Fortaleza.
Contato:85 30462482
revarte@terra.com.br

Boa Notícia

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