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DO INFERNO AO PARAÍSO

Grecianny Carvalho Cordeiro*
"Nós estamos agora no paraíso. Antes, viver aqui era um inferno. Não tínhamos paz nem liberdade. Não se podia andar com o celular ou qualquer bolsa, não se podia chegar tarde ou sair cedo demais, os assaltos eram constantes. Ninguém tinha paz. Todos os dias acontecia um roubo e quase sempre alguém morria. Cansei de ver mães chorando pelo filho com o corpo caído no meio da rua. Hoje, nós podemos andar livremente, chegar e sair. Não se tem mais confusão e toda briga é logo cessada. Não tem mais briga de gangue, todos podem andar de uma rua a outra, de um bairro a outro sem medo de ser assaltando ou morto. Hoje, tudo mudou. E pra melhor. Me sinto seguro morando na favela e todos também se sentem assim. E não sou traficante nem bandido. Trabalho honestamente e vivo do que ganho. Nunca pensei que a favela fosse ficar assim. Mas tem uma coisa, todos têm que seguir regras. Para o cidadão, essas regras não custam nada. Mas para um bandido, as regras não são fáceis de seguir. Não se pode: dedurar ninguém, roubar ou matar gente da comunidade. Se essas regras forem descumpridas, a mulher terá a cabeça raspada e o homem levará tiro nas mãos e nos pés. O PCC conseguiu fazer pela gente, coisa que o Estado e a polícia nunca fez. Estamos no paraíso. Todo mundo na favela está adorando o que está acontecendo. Eu sei que isso não é certo, porque o PCC quer acabar com a polícia, mas O PCC é como se fosse o Robin Hood".
Esse é o relato de um morador de uma favela com quem conversei recentemente, um cidadão de bem, um jovem trabalhador, sem nenhum passagem pela polícia, sem nenhum envolvimento com o crime.
Esse relato é preocupante e assusta. Pelo menos, deveria assustar. Confesso que fiquei estarrecida. 
O PCC chegou nas favelas e fez a paz entre as gangues. Os homicídios diminuíram porque antes dessa pacificação, as gangues viviam em guerra, uns matando os outros e gente inocente sempre era vitimada. 
O PCC descobriu na união a força para ter maior êxito em suas empreitadas criminosas.
O PCC teve a perspicácia, a inteligência e a sapiência que o Estado nunca teve e parece que nunca terá.
  E assim estamos vivendo, num mundo estranho em que o mal passou a ser o bem, o crime se fez sinônimo de paz e liberdade. O crime organizado cresceu e se fortaleceu, se ramificou e se enraizou.
Enquanto isso, o Estado se desorganizou e se fragmentou.
Se esse é o paraíso na visão moderna, estamos no inferno de Dante.  
*Promotora de Justiça 

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