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Maria

Julio Joege Lossio*
Foto do perfil de Julio Jorge Lossio
Maria Certa vez em Nova York, andava distraído pela 5a Avenida, quando de repente esbarrei numa jovem e os pacotes que ela levava caíram, se espalhando pela calçada. Imediatamente, comecei a ajudá-la a apanhar suas compras. Antes de balbuciar meu pedido de desculpas, nossos olhares se cruzaram e fiquei petrificado ao perceber, que a jovem era Maria. De pé, só nos olhávamos, pois não conseguíamos articular as palavras. O mesmo corpo escultural, vestido de forma elegante, simples e sem a ostentação que podia dar ao seu vestuário. As visões do passado começaram a passar na minha mente, projetadas por ”seus olhos castanhos de encantos tamanhos”, que nunca pude esquecer. Nosso primeiro encontro, e o nascer de uma empatia, que logo pela convivência de trabalho se transformou em paixão avassaladora e crepitante. Vivíamos como podíamos o presente e já falávamos de futuro, entre beijos e carícias que nos excitava, mas sabíamos conter nossos impulsos carnais, por respeito aos costumes e a moral da época. A jovem pura de quase vinte anos segredava suas dúvidas e inquietudes, para aquele jovem experiente de trinta anos. Ela era meu pássaro, com bela plumagem, mas vivia na sua gaiola dourada, cercado do luxo e da riqueza, mas sem o direito à liberdade de um voo, mesmo que fosse solitário. Os seus olhos, o espelho da alma, eram encobertos pela névoa da tristeza, não se via o brilho feérico da alegria. Nossa paixão levou a que burlasse a vigilância de seus donos e fugisse de sua gaiola, para voar livre comigo, pelo espaço sem fim. Assim, podia ver o brilho feérico dos seus olhos irradiando a alegria, felicidade e o contentamento de viver. Mas logo, por medo de seus donos voltava para a gaiola dourada e se conformava em ser triste. Um dia lhe levaram e não me disse sequer um adeus. Agora ao reencontrá-la não consigo articular palavras, pois as visões do passado embotam minha mente e me fazem chorar. Olhando para seus olhos vejo-os cobertos pelo véu cinza da tristeza e as lágrimas da emoção bailando. Silentes nos despedimos com um rápido aperto mão e vejo-a se perder na multidão. Foi um sonho acordei. 


*Doutor e Livre Docente pela USP Acadêmico da AMLEF

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