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O PAPA DO FIM DO MUNDO

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A escolha do jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio reflete a importância da mudança.
Sua livre escolha por uma vida austera resgata a influência espiritual de seu homônimo.
Sua livre escolha por uma vida austera resgata a influência espiritual de seu homônimo.

Por Felipe Magalhães Francisco*

Um dos pilares que sustentam a Igreja, segundo sua própria compreensão, é a Tradição. Popularmente, a ideia de Tradição, que fundamentalmente é viva e acompanha a história, tende a significar a imutabilidade da Igreja. De fato, muitas tradições se acumulam e parecem não dar lugar às novidades e às transformações. As mudanças na Igreja são demoradas e são frutos de processos longos.

Em meio a essa sentida demora nas mudanças, situações aparecem, na vida da Igreja, em que todos ficam perplexos, tal como a inesperada renúncia de Bento XVI, algo inédito em vários séculos. Mesmo com os precedentes de renúncias anteriores, a distância secular entre elas fez com que não se pensasse na possibilidade de um papa abrir mão de seu ministério. O comum é que, uma vez eleito, o papa exerça esse seu ministério até o fim de seus dias.

Com a inesperada renúncia, outra novidade surgiu: a eleição de um papa latino-americano, vindo do fim do mundo, como ele mesmo disse. Ainda que sempre se espere um papa vindo de qualquer lugar do mundo, o corriqueiro, até então, era sempre a eleição de europeus. A escolha do jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio reflete a importância da mudança. Essa mudança, então, seria de bom tom que viesse do continente mais católico do mundo.

Desde a sua primeira manifestação pública, sinais foram dados de que viria, mesmo, em nome de uma mudança. O nome escolhido, Francisco, retoma o espírito evangélico do Pobre de Assis, cuja missão revela a profunda experiência de que Deus o envia para restaurar sua Igreja. Muitos fiéis, jubilosos, reunidos na Praça de São Pedro, esperavam que o novo Papa viesse para abençoá-los: ele, antes, pede que seus irmãos e irmãs rezassem por ele. Seus trajes, simples, opunham-se à opulência das roupas papais, tão usadas por seus dois antecessores. Referindo-se a seu novo ministério, não se disse Papa, mas Bispo de Roma, prenunciando a colegialidade com a qual exerceria seu serviço, junto a seus irmãos bispos do mundo inteiro. Sua livre escolha por uma vida austera resgata a influência espiritual de seu homônimo. Muitos outros sinais foram dados e continuam sendo, desde então.

No último dia 29 comemoramos o dia de São Pedro. A celebração litúrgica, transferida para o próximo domingo, 03, também nos faz rezar pelo ministério petrino, do Bispo de Roma. Por essa ocasião, propomo-nos a refletir sobre o exercício ministerial de Francisco. Para cumprir essa empresa, contamos com a colaboração do Profº. Pe. Manoel Godoy, do Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA), que nos preparou um artigo, organizado em duas partes, sobre os Mil dias com Francisco. Na primeira parte, ele nos ajuda a perceber a veia teológico-pastoral de Francisco, por meio de seus textos pontifícios. Na segunda parte, somos provocados a refletir, criticamente, sobre esse exercício ministerial de Francisco.

Os passos pastorais de Francisco, que despertam atenção no mundo inteiro, são fruto de toda uma vida eclesial. Refletindo sobre os pressupostos teológico-pastorais subjacentes ao exercício ministerial do Bispo de Roma, o Prof. Dr. Pe. Francisco das Chagas de Albuquerque, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), propõe-nos o artigo: Uma Igreja missionária e solidária com os pobres: do periférico ao universal. No texto, é-nos oferecida uma análise sobre as influências da teologia produzida na América Latina e no Caribe, que permeiam as opções pastorais de Francisco, o Papa do fim do mundo.

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).

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