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A rotina em comunidades que vivem com racionamento de água

Fortaleza precisa olhar para comunidades de outras cidades do Ceará para aprender a conviver com pouca água. O POVO reúne relatos de moradores que têm o racionamento como rotina

Com o Ceará enfrentando uma das piores estiagens da história e Fortaleza com possibilidade de viver racionamento ainda este ano, economizar água não é mais questão de bom senso, mas obrigação. Com o contínuo esvaziamento do açude Castanhão — operando com apenas 7,46% da capacidade — o fortalezense precisa olhar para os demais cearenses e aprender a, depois de anos, conviver com a restrição d’água.
Localidades próximas já vivem a falta e têm o que ensinar. Foi por um carro  de som da Prefeitura de Maranguape, a 30 km de Fortaleza, que recentemente Zaira Martins, de 75 anos, soube que teria de viver em racionamento. Em Beberibe e Cascavel (distantes 83 km e 64 km, respectivamente, da Capital), Joselina Nascimento, 37, e Nagiédica Ribeiro, 40, se viram na mesma situação.

Zaira mora no distrito de Sapupara. Quando soube da notícia do racionamento, sequer tinha recipientes adequados para armazenar água, tanto que a salvação, inicialmente, era encher quatro panelas. A preocupação era o banho antes de dormir.

Em Beberibe, Joselina diz que tem faltado água todos os dias, embora a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) explique que o abastecimento é diário, porém, em horários específicos. Lá, para garantir o necessário para o dia, a mulher tem de acordar às 4 horas para encher baldes e bacias. Já em Cascavel, Nagiédica apela para a água mineral. “Eu compro garrafões para toda a necessidade que tenho: cozinhar, tomar banho, lavar louça. Chego a comprar cinco garrafões por semana”.
Solidariedade
No distrito de Amanari, próximo à Sapupara, Almir de Oliveira, 70, aproveita os quatro dias de abastecimento (quarta, quinta, sexta e sábado, segundo ele) para encher d’água tambores de 200 litros. Para consumo, é preciso comprar água mineral.

Ele conta com a ajuda do vizinho e militar Paulo Gadelha, 46, que tem uma cisterna de 48 mil litros e só a utiliza aos fins de semana, quando vai para a casa em Maranguape. Com o suporte, “a gente consegue passar o ‘verão’ todinho. Dá água pra todos os outros vizinhos”, relata, grato, Almir. Paulo justifica o ato: “Já tinha água sobrando do ano passado, que teve ‘inverno’ melhor do que esse. Aí a gente ajuda quem não tem, né?”.
A Cagece informa, em nota, que as localidades citadas nesta reportagem “recebem água de acordo com calendário estabelecido com a comunidade”. Além disso, a Companhia explica que a decisão de racionar é para preservar os mananciais que as suprem. No caso de Beberibe, “a Cagece também tem buscado implementar ações para melhorar o abastecimento, como a reativação de poços”, completa. (colaborou Eduarda Talicy)

Números
11,1% é o volume armazenado nos 153 açudes monitorados do Ceará
O Povo

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