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Dentro do dia veloz?

Para que viver afinal vida com dinheiro sem qualidade de vida?


As questões aqui colocadas deixam cada vez mais de serem pueris e passam a ser vitais.
As questões aqui colocadas deixam cada vez mais de serem pueris e passam a ser vitais.
Por Ricardo Soares*
Por questões profissionais tenho sido forçado a refletir sobre o tempo por esses dias. E me pergunto, enfim, se o tempo gira, o tempo corre, o tempo vaza, escorre entre os dedos? Só sei que o tempo passa e esse é o consenso. E tempo escapa, tempo urge, tempo falta, tempo escorrega. E quando nos damos conta o tempo foi e deixou escapar coisas importantes como mais tempo para os filhos, para as esposas e maridos, para os amigos, para dar ouvidos a quem precisa desabafar, tempo para descansar, contemplar, saber esperar porque o tempo é que sabe do tempo das coisas ficarem prontas. 
Em megalópoles como São Paulo o que mais nos falta é tempo, esse fator tão importante no qual talvez nem prestemos lá tanta atenção porque estamos sempre acelerados. Mas não perguntamos para onde vamos com tanta pressa. Por sorte aos poucos passa-se a valorizar mais o nosso tempo e assim gestores começam a pensar em facilitar caminhos, abreviar trajetos, encurtar distâncias. Isso passa a ser fundamental. Para você poder dar tempo àquilo que realmente merece tempo. Precisa sair mais tarde, chegar mais cedo. Devagar, sem pressa, como não parece ser possível nas megalópoles.  
A noção e conceito estúpido da velocidade como um meio para chegar a todos os fins começa enfim a ser questionada e isso é salutar para nossos corações, mentes, artérias e neurônios. Mais a placidez budista e menos a estupidez laboral do "vamo embora, vamo embora tá na hora". O silêncio, a placidez, a pouca iluminação e a contemplação parecem não combinar por exemplo com os paulistanos, atraídos como mariposas para a luz. Mas, por sorte, cada vez são mais cidadãos de São Paulo a repensar essa lógica mecânica do "levanto para trabalhar, trabalho para viver, vivo sem me divertir".
Certos modelos que adotamos estão em vias de esgotamento e esgotando todo mundo. Para que viver afinal vida com dinheiro sem qualidade de vida? as questões aqui colocadas deixam cada vez mais de serem pueris e passam a ser vitais. Por que sempre nos rendermos à estética do "dentro do dia veloz? ".
*Ricardo Soares é escritor, diretor de tv, roteirista e jornalista. Autor de sete livros, dirigiu 12 documentários e escreve de segunda e quinta no DOM TOTAL.

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