Pular para o conteúdo principal

Documentário: "O Amor que Muda o Mundo" reúne vítimas de violência

Histórias de superação protagonizadas por mulheres cearenses estão entre os casos relatados no documentário Mães - O Amor que Muda o Mundo, do fotógrafo italiano Fabio Lovini. Filme será exibido hoje no Cineteatro São Luiz

O filme percorreu cinco países coletando histórias de mulheres marcadas pela violência
Erbênia de Sousa é enfática quando fala sobre a diversidade de agressões que mulheres sofrem cotidianamente. “Nós estamos em um País e em uma região muito marcados pela violência doméstica”, resume. Mas não é apenas a violência doméstica que se faz forte e rasga o dia a dia de tantas mulheres Ceará afora. Lutas marcam o cotidiano destas pessoas, que enfrentam exclusão econômica e social, atravessam os meandros da seca e se misturam ao machismo arraigado nas terras áridas do Ceará. Para além das dificuldades enfrentadas, as histórias de superação e de transformação rebentam no Estado. E o cotidiano de Erbênia, como coordenadora da Cáritas Diocesiana de Crateús, é de identificar as violências e fazer com que as mulheres virem protagonistas das reviravoltas. Das muitas reviravoltas.

Histórias enfrentadas por ela, por Maria da Penha, por Aurilene, por Aurinélia e tantas outras mulheres são contadas no documentário italiano Mothers - L’amore che cambia il mondo (Mães - O amor que muda o mundo). O filme terá sessão exclusiva no Cineteatro São Luiz às 18h30min de hoje, com entrada gratuita. Ele será exibido dois dias depois de a Lei Maria da Penha completar 10 anos desde que foi sancionada, em sete de agosto de 2006. Para a noite de estreia, as mulheres que deram seus depoimentos foram convidadas e estarão na plateia do Cineteatro, assistindo, pela primeira vez, o documentário todo montado. Muitas delas, nunca estiveram em uma sala de cinema.
O filme, do premiado fotógrafo italiano Fabio Lovino, traz narrativas de cearenses e outras brasileiras, mas também de pessoas que ele encontrou em viagens feitas por países como Itália, Benin, Camboja e Nepal. Todas têm algo em comum: são mobilizadoras, agentes de mudanças sociais que acontecem em suas comunidades e são irradiadas para outros espaços. No Brasil, Erbênia foi uma das pessoas que ajudaram a produção do documentário a mapear os locais onde há comunidades e mulheres que guardam histórias de luta e superação. “No filme, a maioria dessas pessoas conta fatos que a gente facilmente pode identificar violência recorrente. Mas há uma naturalização disso tudo, de que mulher é para obedecer, de que briga é coisa de casal”, relata Erbênia.

Muitas destas mulheres nem viram estatísticas, porque não denunciam. Elas sabem que tem algo de errado, mas acham que é normal. Conforme O POVO publicou no último dia cinco, uma média de oito mulheres são vítimas de violência doméstica todos os dias e, de 2008 até julho deste ano, 24.855 mulheres sofreram algum tipo de violência doméstica no Ceará. “Muitas já começam a ter a noção e o sentimento de que é preciso destruir essa ideia de naturalização. A desconstrução é importante, é um passo para a reconstrução”, observa a coordenadora da Cáritas.

Histórias que se repetem
O documentário que chega agora ao Brasil já ganhou repercussão no país onde o diretor vive, sendo selecionado para exibição no festival de cinema, Taormina FilmFest, realizado na cidade de Taormina, na Sicília, com estreia no 14 de junho último. O filme também será apresentado em Roma, no fim de setembro e, em 26 de novembro, em Milão, durante o WeWorld Film Festival. 

O fotógrafo e diretor do filme, Fabio Lovino, conta que o projeto Mothers começou há dois anos, com a ONG italiana We World, que atua ao redor do mundo em prol de diversas causas (no Brasil inclusive). “Nós tivemos a possibilidade de trabalhar juntos durante os últimos anos sobre diferentes projetos e sobre a violência contra a mulher”, diz Lovino ao O POVO. Ele costuma fazer fazer fotografias e vídeos sobre atores, estrelas do rock, diretores e artistas em geral. Mas, nos últimos anos, começou a dedicar tempo para para contar histórias de pessoas anônimas, mas com grande influência em seus contextos sociais.

Nas viagens, Fabio percebeu que as histórias são espelhos de fatos que ocorrem em vários lugares do planeta. Mudam as protagonistas, mas não as narrativas. “Todos os lugares por onde passamos dão diferentes pontos de vista sobre o mesmo problema. Em minha experiência, eu posso dizer que não houve diferenças das histórias acontecidas na Itália em relação a outros países”, relata.

Entre as protagonistas do filme está a cearense Maria da Penha Fernandes. Após duas tentativas de assassinato (uma delas que a deixou paraplégica) cometidas pelo ex-marido em 1983, a bioquímica virou símbolo da luta contra a violência doméstica sofrida por mulheres nos Brasil e é uma das catalisadoras de mudanças sociais apresentadas no documentário. “Eu encontrei várias mulheres que se emanciparam e se livraram de abuso de autoridade de homens, principalmente, Maria da Penha”, conta Lovino. 

Para ele, contudo, todas as histórias encontradas nos caminhos das gravações foram fortes e cheias de empatia, cada uma de um modo diferente. “Algumas mulheres tiveram a coragem de, com toda a sua força, denunciar violência a abuso sofridos. Elas ajudaram outras pessoas a vislumbrar uma nova vida.”
O Povo

Comentários