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"Você é o protagonista para parar de fumar", diz pneumologista

Especialista afirma que métodos que auxiliam a parar de fumar são apenas coadjuvantes, o maior protagonista é a pessoa e sua força de vontade

Monique Coutinho
Da Redação

“Tem que querer de verdade e decidir: eu quero parar de fumar”, afirma a pneumologista Heloísa Bazarelli, por ocasião do Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado nesta segunda-feira, 29. O objetivo da data é alertar e conscientizar sobre as consequências do tabaco à saúde.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o tabagismo a principal causa de morte em todo o mundo. Segundo dados divulgados em julho de 2015, a cada seis segundos, uma pessoa morre de doenças relacionadas ao tabaco. Este número equivale a seis milhões de pessoas por ano. No Brasil, o câncer de pulmão é o segundo tumor mais prevalente justamente por causa do tabaco.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil deverá registrar até o final de 2016 mais 596.070 novos casos de câncer. Entre os homens, são esperados 295.200 novos casos, e entre as mulheres, 300.870. 

Prejuízos

O uso contínuo do cigarro pode acarretar diversas doenças como a bronquite crônica, enfisema pulmonar, alergias respiratórias e também problemas gastrointestinais, como gastrite, esofagite e tumores nas vias digestivas. A pneumologista Heloísa explica que existem problemas que as pessoas não sabem a causa, mas podem ser implicações devido ao uso contínuo do tabaco.
“O que muitas vezes as pessoas não sabem é que ela pode fumar e não ter câncer de pulmão, mas ela pode estar inválida devido a bronquite, a enfisema pulmonar, que são doenças altamente incapacitantes, onde as pessoas morrem aos poucos, com agonia e falta de ar. A pessoa vai tendo uma limitação respiratória.”
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Pneumologista Heloísa Bazarelli / Fonte: Arquivo pessoal
Os problemas não se limitam a questões respiratórias; o fumante pode sofrer também de derrame, que deixa sequelas, e o infarto agudo do miocárdio, que se não matar pode deixar prejuízos nas funções cardíacas. “Pode ocorrer também a própria amputação de membros por insuficiência dos vasos periféricos pelo uso crônico do tabaco”, alerta Heloísa.

A vida ou o cigarro

São muitos os estragos atraídos pelo uso do tabaco e parar com a utilização desse mal exige muita determinação e força de vontade. Para a aposentada Clarice Negraes, de 72 anos, seu estado de saúde expôs duas opções para ela: sua vida ou o cigarro.
Fumante há 50 anos, em 2015 Clarice enfrentou diversos problemas de saúde devido ao longo período em que fez uso do tabaco. “Eu tive pneumonia, problema no coração, parada cardiovascular. Complicou a minha vida, fiquei 45 dias internada e entubada. Tudo por causa do cigarro.”
Clarice parou de fumar há um ano e conta que nesse tempo tudo melhorou em sua vida. “Depois que larguei o cigarro as coisas melhoraram. A minha vontade de parar foi maior do que o desejo de fumar. Eu optei pela minha vida e não pelo meu vício.”

Mesmo sendo difícil, parar de fumar não é algo impossível e os benefícios dessa atitude são visíveis logo nas primeiras horas de abstinência.

“Após o último cigarro, em 20 minutos a pressão arterial já volta ao normal. Em mais ou menos oito horas, os níveis de monóxido de carbono também voltam ao normal. Em um dia sem fumar, a pessoa já consegue redução dos riscos de ter ataque cardíaco. Em três dias, já consegue relaxar os brônquios e ter um aumento na capacidade respiratória. Em nove e 10 meses ela já não tem tanta tosse, já não tem tanta infecção de via aérea. A pessoa vai ter uma respiração melhor, melhora na capacidade física. Em um ano sem cigarro, ela já reduz o risco da doença coronária em 50%. Quando ela para de 10 a 15 anos, o risco de morte já igual de alguém que nunca fumou e de 15 a 20 anos sem cigarro o risco de morte aproxima ao de uma pessoa que nunca fumou”, diz a pneumologista.
Para se livrar do tabaco, Heloísa indica que a pessoa procure ajuda e tenha como foco o desejo de não consumir mais cigarros. Existem procedimentos que auxiliam no combate ao fumo, mas o primeiro passo é retirar a causa base, que é o tabaco.
“Se for da parte respiratória, o uso de medicação e terapia de reabilitação pulmonar, se for da parte cardíaca, vai ver se a pessoa precisa fazer uma revascularização miocárdica, a famosa ponta de safena. Tudo varia de acordo com a necessidade do paciente.”
Tais tratamentos apenas auxiliam, mas quando se decide parar de fumar é preciso lembrar que nenhum remédio, substâncias ou intervenção fará o papel do usuário. “Você é o protagonista, os métodos que indicamos são coadjuvantes. Ou seja, a pessoa tem que querer. Uma coisa é a pessoa saber que precisa parar, outra coisa é ela querer parar”, conclui.

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