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Contradição


Nessa era em que há tanta comunicação,
Moram as falas que ficam num surdo grito aos ouvidos humanos.
Num deslizar por teclas e imagens, se veem as pessoas sem tocar a alma humana...
Imensuráveis chances para falar com alguém do outro lado,
Mas, infelizmente, nunca as pessoas estiveram tão sozinhas,
tão envolvidas em seus próprios casulos...
Procuram apenas construir patrimônios,
mas faltam-lhes a vontade de formar sonhos...
Têm herdeiros, mas não filhos...
Possuem casas, não lares!
O mundo tão repleto de barulho, mas elas tão caladas em seu mero egoísmo
A sala de estar tão impecavelmente arrumada, mas o quarto tão repleto do vazio de amor
Muitos corpos que se desnudam para se entregar
Em momentos de tão pouca sintonia
Infinitos olhares para se lançar, mas só se enxerga dor
A vida imensamente à sua frente, no entanto o coração farto de tanto passado
Tantos beijos para ofertar em meio a procrastinação em dizer que quer
Imensuráveis abraços para receber - tanta frieza que mais afasta do que une
Amores líquidos que  se esvaem em semanas
Conquistas feitas por mera satisfação
O se expor virou fetiche
Nada se guarda, tudo se mostra
Como uma vitrine aberta em meio ao caos
De uma sociedade adoecida pela inversão dos sentimentos
Nesse entremeio por tanto desejo de viver
Nada se vive e a solidão ocupa o espaço ao que deveria ser presença
Laços que já não se fazem mais...
Pra quê?
Há tanta pressa que nem se tem tempo de conhecer a si
Quanto mais o outro...
Em meio a tantos fármacos e terapias
Talvez a cura esteja no colo que aconchega
E nas mãos que acariciam
Porque não existe remédio ainda para sarar aquilo
Que se molda em forma de indiferença...

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